Capítulo único: Indômito

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A visão que tinha de cima enquanto sobrevoava para longe do lugar em que morava já o deixava ansioso, queria chegar logo ao Mediterrâneo, rolavam boatos entre o laboratório ao qual fazia parte que estavam tendo novas descobertas por aquelas áreas e ainda havia muito que se explorar. Claro que logo se prontificou a ir até o lugar, tinham lhe oferecido ajuda e até mesmo companhia, mas gostava de trabalhar sozinho, assim seus pensamentos ficavam organizados e ele não era obrigado a lidar com gente querendo lhe dar rasteira o tempo inteiro.

Não, Jeon Jeongguk não era um cientista egoísta, mas não dava para negar que o mercado era competitivo e, com tantas pessoas aparecendo nesse ramo, ele tinha de se diferenciar, ainda que soubesse que suas pesquisas fossem relevantes e fizesse a diferença no meio em que vivia. Além de que, quando foi posto para trabalhar com alguém, o outro indivíduo em questão tentou roubar seus créditos pelas pesquisas realizadas, e, sinceramente, aquilo foi o cúmulo para si.

Agora estava ali, sozinho em seu aeroplano de pequeno porte do modelo Excel de uma empresa qualquer, que exportava peças por ali. Não poderia estar mais feliz, quer dizer, até que poderia, mas isso só quando estivesse fazendo suas descobertas, anotando suas pesquisas e tendo novidades para quando voltasse à Coreia do Sul.

Pilotava o transporte com atenção, queria até colocar uma música para relaxar, mas sabia que aquilo desviaria sua atenção e não podia se dar ao luxo de colocar a própria vida em perigo, por isso, tratou de cantarolar qualquer música enquanto seguia o caminho indicado no radar.

Estava calmo, o tempo não estava ruim para voos e se sentia até que bem em mais uma viagem a trabalho, mas isso não durou muito, pois pode ver que o radar fez um barulho estranho, piscando, não como se estivesse apontando algum objeto sobrevoando pelas proximidades, mas como se estivesse em uma espécie de circuito, e isso logo o remeteu a aulas que tinha quando aprendeu a pilotar.

Tentou contatar a rádio, já que não seria imprudente de tentar usar o celular, até porque era inviável usar celular para esses fins naquele tipo de meio de transporte e porque, por mais assustado que estivesse, ainda era inteligente ao saber que tinha a rádio justamente para aqueles imprevistos. Tentaria contatar a central.

— Câmbio — tentou soar calmo no microfone, mesmo que seu coração estivesse disparando. — Câmbio!

Chamava por alguém, mas sequer o chiado para indicar que estava na estação ou sendo ouvido ou ouvia alguém era escutado. Nem aquilo estava dando certo e estava pronto para continuar tentando avisar que estava com problemas a alguém quando sentiu suas costas baterem com força na cadeira de não-tecido que estava acomodado. Tirou o headset da cabeça por pouquíssimos segundos enquanto puxava o manche e olhava rapidamente para trás, vendo que saía fumaça pela parte de trás do avião que parecia cair sem pressa alguma.

Jeongguk sentiu como se visse sua vida passar diante de seus olhos, e não, aquilo não era um filme dramático de final trágico.

— Droga, mil vezes, droga — resmungou, sentindo o estresse de estar em uma situação como aquelas lhe abater.

Tentou pensar em uma solução rápida, prática e eficaz. Ninguém lhe respondia e estava sobrevoando por cima do oceano. Já estava para perder as estribeiras quando avistou um pequeno verde não muito longe, se sentiu bobo por querer gritar 'terra à vista' como quando era uma criança e assistia filmes de ficção científica ou suspense.

Sempre foi muito curioso, desde a infância e, por isso, seguia seus sonhos de ser um pesquisador. Aquilo era para si como um talento nato, como se estudar fosse a coisa mais importante para si e descobertas fossem a consequência de todo seu esforço. Podia ouvir ainda a voz da própria mãe, enquanto bagunçava seus cabelos, quando o encontrava com os joelhos sujos de areia e com a lupa na mão, observando umas formiguinhas carregando folhas ou coisas do tipo.

Deslindes ao AlvorecerWhere stories live. Discover now