CHAPEUZINHO VERMELHO

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Chapeuzinho Vermelho observava da janela de sua casa a chuva forte cair e formar grandes poças de lama ao redor da propriedade. Era fim de tarde, e o céu estava totalmente coberto por nuvens cinzentas. O ar era úmido e pesado, gerando um calor desconfortável. O clima combinava com o humor da garota: sombrio e amargo. Porque, como já vinha fazendo há vários meses, ela estava novamente pensando na sua avó, ou "vovozinha", como havia se acostumado a chamá-la desde que tinha seis anos e viera morar com ela. Agora, tinha quinze, e a odiava. Mas não foi sempre assim...

Quando seus pais morreram, Chapeuzinho passou um ano num orfanato. Ao contrário de outros órfãos, ela teve mais sorte e foi adotada por uma simpática senhora em seus sessenta anos, que morava em uma casa confortável no bosque. Para sua surpresa, quando foi recebida a garotinha ficou sabendo que a simpática senhora de óculos e cabelos totalmente brancos era sua verdadeira avó paterna!

Quando soube da notícia, ela chorou por um longo tempo. E achou estranho o sorriso da vovó quando lhe contou: - Queria que você tivesse duas surpresas no mesmo dia – disse a vovó, sorrindo.

De fato, havia sido mesmo uma surpresa para a garota ter sido adotada. A maioria dos órfãos no "Lar dos Anjos" passava mais de um ano até que fosse considerado para adoção. O dobro, caso fossem meninas. Pois os meninos eram mais requisitados para trabalharem nas fazendas da região. Mas esses eram os felizardos. Os realmente azarados, ou mais precisamente os que chegavam aos quinze anos sem perspectiva de adoção, simplesmente eram expulsos. E tinham que sobreviver por conta própria e sem dinheiro nas ruas da cidade. Chapeuzinho foi poupada desse destino solitário apenas por ter sido adotada por um parente.

A vida no Lar dos Anjos realmente não foi muito agradável para a jovem. Logo que chegou, ficou assustada com a cor cinzenta e enegrecida da casa que seria seu novo lar. As portas e janelas estavam arranhadas e alguns vidros estavam quebrados. O lugar parecia ter sofrido um incêndio recentemente.

Na entrada, ela foi recebida por um senhor de óculos e careca, cansado, que perguntou seu nome para anotá-lo em um livro amarelado e cheio de poeira. Foi levada por um corredor escuro e com vários quartos. E nesses quartos pode ver crianças tristes e maltrapilhas, quatro em cada cômodo, com dois beliches cada.

Foi levada até o último quarto do lado direito do corredor, onde foi deixada com sua pequena trouxa de roupas. Ao contrário dos outros, que eram iluminados por uma pequena lamparina à óleo, este estava em total escuridão.

Ela sentiu-se totalmente desamparada ali, sentada na cama, observando as outras crianças passarem com olhares pouco amistosos. Não tendo escolha, colocou a cabeça no travesseiro e chorou a noite toda.

O que aconteceu nos dias seguintes foi uma longa série de abusos e humilhações: fome, frio, surras (tanto por parte dos administradores do orfanato quanto pelas crianças), melancolia e solidão. Esses eram os companheiros constantes de Chapeuzinho. Em nenhum outro lugar ela havia se sentido tão triste quanto no "Lar dos Anjos". E tudo acabou com a adoção pela Vovó.

Ela muito doloroso para ela lembrar-se dessas coisas. Mas agora, prestes a realizar sua vingança contra a Vovó, a raiva lhe dava forças para fazer o necessário. Ela pretendia se vingar pelos seus pais, que tiveram sua herança surrupiada pela velha maldita.

Chapeuzinho sabia que a herança era sua por direito. E pretendia tomar de volta a casa opulenta na qual vivia a velha vigarista. A casa que havia sido de sua família e que, por direito, agora era sua.

Para esse fim, ela preparara uma pequena caixa de madeira, toda ornamentada, com doces muito especiais, recheados com um veneno cuidadosamente preparado por ela. Acariciou os doces dentro da caixa, imaginando o momento em que a vovó os colocaria na boca, e a surpresa em seu rosto quando o veneno começasse a agir, fazendo-a expelir uma baba verde pelo canto da boca.

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