Capítulo único: Tenha mais paciência. O seu pedido será atendido.

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Aconteceu tudo muito rápido. Uma hora, o pequeno Taehyung estava se divertindo com as ondas que batiam contra seu corpinho, na outra, o salva-vidas o carregava até a areia, atraindo a atenção de alguns curiosos.

— Meu Deus, o meu menino! — Gritou à senhora Kim ao conseguir furar a barreira de pessoas, olhando para o corpo inerte do filho. — Salva o meu filho, por favor, salva o meu filho!

Taehyung recebia massagem cardíaca, mas não correspondia aos estímulos. Sua alma e corpo estavam ligados por um ínfimo fio, contudo, ainda não era a hora de separá-los. Numa última tentativa, o salva-vidas realizou a respiração boca-a-boca no pequeno, vendo-o tossir toda a água salgada que engolira momentos antes.

A mãe abraçou o filho com força enquanto seu pranto era abafado pelas palmas da plateia não bem-vinda. Taehyung sentia seu corpo cansado e os olhos arderem, ainda confuso demais, porém não deixou de retribuir a mulher que tanto amava.

— Tive tanto medo, mamãe — sussurrou —, mas ele era mais forte. Eu não queria ir com ele.

Natal de 2009

"Querido Papai Noel,

Eu sei que estou um pouco velho para lhe escrever cartas. Sei também que o senhor estará muito ocupado atendendo as crianças ao redor do mundo. Muito trabalho para um dia só, não é?

Essa carta não será diferente das anteriores. O motivo sempre será o mesmo: meu medo do mar. Não irei lhe pedir presentes como já fiz. Decidi ao longo do ano que superar meu medo de algo tão belo é muito maior do que a expectativa de ter presentes dos mais variados tamanhos, disputando espaço debaixo da árvore de Natal daqui de casa (cá entre nós, meus pais nunca foram ajudantes muito discretos).

Assim como todos os anos, as férias de verão foram desastrosas. A simples menção da palavra "praia" fazia meu estômago embrulhar e me levar àquele dia já longínquo onde quase fui levado pelas águas calmas, mas ao mesmo tempo traiçoeiras. Meus primos corriam dentro da casa de veraneio de nossa família, inquietos pela oportunidade de se jogarem na areia e depois saírem correndo para o mar como se não houvesse o amanhã. A felicidade deles era contagiante, não nego, mas ainda era muito difícil superar um trauma de um dia para o outro.

Meus pais eram compreensivos. Não insistiam pela a minha companhia, desde que eu saísse para tomar sol, ao menos. Meus tios demoraram mais um pouco para entender, me olhavam com pesar, contudo, com o passar dos anos, se limitavam a sorrirem para mim quando saíam em direção à praia que ficava a poucos metros.

Eu podia vê-los da sacada do maior quarto no andar superior. Eu podia vê-lo. Tão calmo e com espumas branquinhas contrastando com o azul estupidamente brilhante. A areia como um tapete totalmente convidativo. Daí voltava às lembranças.

Eu queria voltar para Busan nas próximas férias e ser capaz de pisar com meus dois pés na areia e sentir a brisa marítima bater contra meu rosto e encher meus pulmões com o cheiro da maresia.

Então, por favor, Papai Noel, lhe peço mais uma vez, insistentemente, que me mande um sinal ou uma resposta para esse meu medo seja de vez superado. Frequentar psicólogos se torna cada vez mais maçante.

Com muita esperança,

Kim Taehyung".

Com a máxima discrição, o adolescente depositou sua carta cuidadosamente dobrada na caixa postal criada por sua mãe para atrair a atenção das crianças da família nesse dia de festa. Sentia-se bobo por acreditar num personagem folclórico aos treze anos. No entanto, seu peito se aquecia assim que finalizava a carta; seus dedos se cruzavam.

Blue Ocean FloorWhere stories live. Discover now