Capítulo 3.

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Houve um momento de silêncio depois de eu falar meu nome e me distrai por um segundo. Meus olhos saíram de Lauren e foram para o chão, enquanto minha mente pensava em algo para falar. Eu não lembro do rosto dela naquela hora, até porque eu não acho que vi, mas se existe algo que eu lembro daquela festa foi quando, sem mais nem menos, ela se aproximou de mim com o seu rosto e me beijou.

Nem um beijo de verdade foi. Era mais para um selinho longo, mas pude sentir seus lábios pressionando contra os meus. Eram tão macios e carnudos. Eu podia ter dito não para aquele avança, e se algo mais acontecesse, eu provavelmente teria dito pois eu não estava me sentindo em meu melhor, porém nada mais aconteceu depois daquilo.

Os meus olhos haviam se fechado durante o toque das bocas, mas quando os abri, Lauren já estava se levantando e indo embora. Só depois eu descobri que ela continuou na casa, mas foi ao banheiro. Eu provavelmente devia ter perguntado a ela o que havia de tão interessante naquele banheiro que ela precisava tanto ir, sem me dar uma explicação para o que havia acabado de acontecer.

Na hora, eu não sei como me senti. Ou melhor, é difícil explicar. Eu estava confusa, um pouco perdida. Não tinha como fazer sentido do que tinha acontecido e minha cabeça já estava cheia com os meus amigos indo embora, então eu não estava na melhor das minhas condições para pensar apropriadamente. Levantei-me com um pouco de pressa, e tentando evitar a Lauren, que nem ao menos no mesmo cômodo estava, eu corri para a porta. Mesmo com frio, eu fiquei na porta da casa, esperando o Uber que havia pedido segundos atrás. Ele chegou e fui embora de lá, ainda com a cabeça no que aquele ato poderia significar.

Ela só estava bêbada e fez aquilo por fazer? Eu tenho certeza que havia sentido cheiro de álcool em sua boca, mas ela nunca foi de fazer isso com outras pessoas, então eu descartei aquela possibilidade logo de cara. Outra seria que ela apenas estava me dando parabéns de um jeito extremamente inapropriado e estranho, mas ela também não parecia ser uma pessoa que faria isso. Nem bêbada, como eu disse antes.

Só depois de muito tempo que eu descobri o porquê daquilo, mas mesmo que eu queira compartilhar minhas memórias com você, leitor, até eu tenho o direito de ter meus próprios segredos. Não seria justo que só eu não saiba tudo sobre você, não é? Mas talvez um dia eu lhe diga.

As vezes eu me pego pensando o que teria acontecido se eu não tivesse simplesmente levantado e corrido embora. Me pergunto por que ela não veio atrás de mim. Será que ela voltaria e tentaria me beijar de novo, mas dessa vez iria até o final? Será que ela simplesmente voltaria ao seu dia normal, conversando com uma ou outra pessoa? Será que ela estava se arrumando para ir pra casa e só queria me dar um beijo antes de ir? Será que esse era o jeito dela de tentar ficar com outras pessoas? E se talvez esse fosse o jeito estranho dela, que me falaram?

Haviam tantas perguntas na minha cabeça, mas nenhuma resposta. Eu nem ao menos tive coragem de perguntar para alguma das minhas amigas o que poderia acontecer pois simplesmente lembrar do acontecimento me deixava envergonhada, mas eu achava que eu precisava de algum esclarecimento sobre o que havia acontecido, então eu passei a semana inteira treinando no espelho, na minha cabeça na escola, e na minha cabeça antes de dormir, o discurso direitinho que iria dar para Lauren pedindo para ela se explicar. Naquela sexta, eu iria abordar ela e conversar sobre o ocorrido.

Quarta, quinta, sexta, sábado, domingo. 

Segunda, terça. 

Quarta. 

Quinta.

Sexta.

Como sempre, estava chegando na praia com minhas amigas, saindo do ponto que ficava logo na esquina. Eu estava completamente preparada para falar com ela, quando me contaram.

"Lauren teve que viajar."  Não. "O pai dela foi transferido pra outro Estado."  Não, não, não. "Mas eu acho que ela volta. Ela tava falando de que como queria arrumar um emprego e viver sozinha."  Sim. Isso. "Mas será que ela volta pra cá ou vai ficar por lá?"

Eu senti o maior sentimento de frustração que poderia sentir. Eu fiquei sem respostas para algo que ela havia feito a mim. E eu não iria atrás dela no celular ou na internet, eu queria uma explicação face-a-face. Olhando pra trás, essa minha frustração foi um tanto infantil. Se eu tivesse só aceitado aquilo como uma demonstração de carinho, eu teria seguido com a minha vida. Ainda bem que eu não segui. 

Crepúsculo das memóriasOnde histórias criam vida. Descubra agora