Capítulo único: New game

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Mais uma vez, assim como em todos os quatrocentos e cinquenta e três dias anteriores, o sol surgia — exatamente às 06:00 AM, como mostrado no relógio à esquerda do seu campo de visão. A suposta estrela brilhava, envolta por nuvens róseas e tons alaranjados, que apesar de belos nunca se igualariam aos verdadeiros. Contudo, o fato destes serem irreais, para os espectadores de fora do jogo, não os tornavam menos legítimos para os habitantes daquele mundo.

Esta havia se tornado sua realidade, assim como as lutas constantes por sua sobrevivência dia após dia, depois de adentrar em Delfos.

À época de seu lançamento, o mundo estava agitado com a novidade. Um jogo inovador, segundo as críticas, que levaria a era digital e o universo gamer a um novo nível.

Foram dias a fio tentando burlar o sistema de sorteio do Oracle, a fim de conseguir acesso ao jogo ainda inominado. Tentativas falhas, que se mostraram desnecessárias quando, no dia de estréia, o hiperlink de nome >>Delfos<< surgiu em seu Nerve Connection.

Para um viciado em MMO como Jeongguk, aquela era só a primeira vitória de muitas que — supostamente — viriam pela frente com a nova plataforma.

O jovem, sentado em sua cama, queria gritar de felicidade por ser um dos cem sortudos da Coréia do Sul a conseguir o feito, mas no final nada daquilo possuía relevância. Pensava que quanto mais rápido entrasse, mais rápido dominaria aquele jogo. Tudo que necessitava era um comando. Um comando básico de seu CN, acionado por duas palavras.

New Game. — uma sentença como aquela nunca havia saído com tanta convicção quanto naquele fatídico dia.

Seus olhos se fecharam lentamente, ao passo que o aparelho em sua orelha se responsabilizava por levá-lo ao novo mundo ou, mais precisamente, realizar as conexões nervosas necessárias para que o sistema — Oracle — tivesse acesso aos comandos neurossensoriais enviados por seu cérebro.

Uma luz branca, como a que se vê ao final de um túnel, foi a primeira imagem formada em seu subconsciente, coisa que, analisando agora, chega a beirar a ironia.

Logo a interface de escolha de classes, mostrava em detalhes as raças disponíveis e suas respectivas características. Humanos possuíam sua base na força, ao passo que os Sombrios se sobressaiam em agilidade e os Elfos em destreza.

Por fim, uma longa espada de duas mãos seria seu novo brinquedo.

O sistema gerou o mesmo local de spawn para todos os jogadores. A cidade principal foi dominada por pessoas de diversos lugares do mundo. Um único servidor global, pronto para funcionar.

As duas águias pairando sobre o arco central e logo abaixo a pedra ônfalo, cercada por uma multidão. Finalmente, Delfos. Um mundo constituído por vinte e cinco grandes cidades, nas quais uma dungeon surgia quando as quatro missões principais locais eram completadas. Desde lagos a planícies e pequenas vilas, tudo projetado com a mais nova tecnologia de imersão.

À esquerda do vídeo uma notificação piscava intermitente, provocando a curiosidade do jovem de cabelos negros.

 >> Mensagem do Sistema <<

"Ó infeliz viajante. Tu és aquele cuja terra ou os seus comerá; aquele cujo sangue ou ossos nunca hão de retornar para o seio de sua morada, e sentirá a ira dos deuses sem via de escapar. Bem-vindo a Delfos. Um mundo onde os deuses olham você, mas não por você. Não há reino dos mortos ou morada dos heróis aqui, somente o infinito o aguarda." 

Um lugar sem volta. Um mundo de batalhas sem fim que engoliu 19.300 pessoas.

Era tudo que aquele mundo era.

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