☀️Parte 1 | A Onironauta

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Depois de sete anos morando em Glasgow, Ana Foster estava acostumada a pedalar sua bicicleta vermelha pelas ruas da cidade, o ar frio soprando em seu rosto pálido e os cabelos voando em uma trança longa e escura

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Depois de sete anos morando em Glasgow, Ana Foster estava acostumada a pedalar sua bicicleta vermelha pelas ruas da cidade, o ar frio soprando em seu rosto pálido e os cabelos voando em uma trança longa e escura.

Estava acostumada a realizar suas tarefas matinais: limpar o jardim, colocar o lixo para fora e pegar as cartas na caixa de correio. Todos os dias ela verificava, corria a procura do que seria responsável por seu destino nos próximos quatro anos: se ficaria na cidade ou se iria embora para estudar e trabalhar com o que amava. Uma situação em que trabalhar não parecesse sobreviver ao inferno na terra.

Era uma ansiedade perturbadora, e ela simplesmente não sabia o que faria se, por ato do destino, fosse aceita em todas as faculdades em que se inscrevera. E o mais ridículo era que um pedaço de papel tivesse o poder de decidir o que ela faria da vida, quem seria.

Era isso que ela repetia para a garota de olhos amendoados e sobrancelhas grossas no espelho todas as manhãs, antes de saltar os degraus da varanda e escancarar a caixa de correio como uma criança que ganha um brinquedo novo. Era isso que fazia antes de encarar a realidade e ter de correr para não se atrasar para o trabalho.

Porém, naquele dia, ela não tinha feito nada disso. Na verdade, ao contrário de tudo que esperava de mais uma segunda-feira nublada, estava sentada em um restaurante, ao lado de uma janela com vista para a catedral que se erguia apenas algumas ruas abaixo. E estava completamente lambuzada de chocolate, equilibrando um palito de dente na unha.

Com apenas um raro olhar de reprovação da tia, ela guardou o palito e limpou os lábios e bochechas com o guardanapo que, por sabe-se lá que milagre, não estava completamente destruído. Quando sua tia a havia convencido a faltar ao trabalho e ter uma tarde de folga com ela, a garota só pôde começar a contar mentalmente seus pecados.

Lola não saía com ela havia meses, e nem sequer era seu aniversário ou qualquer data comemorativa. Quando arrastara a sobrinha de repente para o restaurante e pedira que ela sentasse e a ouvisse sem espaço para questionamento, Ana só conseguiu pensar em como, com certeza, estava ferrada.

- O que foi, querida?

Ana encarou a mulher, estudando os olhos azuis sob os grossos cílios e como, quase sem perceber, ela mordia o interior das bochechas. Uma de suas unhas longas e bem cuidadas batucava freneticamente o mármore da mesa. Ela estava ansiosa para alguma coisa, não irritada, e sempre fazia aquilo quando a paciência estava começando a esgotar. Lentamente, a aflição de Ana se dissipou, dando agora espaço para apenas curiosidade.

- Estou bem. - respondeu, sorrindo, deixando escapar um suspiro de alívio.

Lola lhe lançou um sorriso ainda maior, o que só atiçou a curiosidade da menina. Ela não estava irritada, nem desapontada, então pelo que estava esperando tão impacientemente? E por quê não tocava em sua torta, enquanto Ana já havia terminado a sua há séculos?

Aurora | Adhara: Deraia - Livro IOnde histórias criam vida. Descubra agora