Capítulo XVIII • Última vez

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Jonathan
"Nosso pai fez a mesma coisa comigo"

Suas palavras entram em meus ouvidos, mas não emito nenhuma reação.

"Nosso pai fez a mesma coisa comigo"

Encaro os olhos de Pandora e vejo o pânico a atingir por eu não falar nada, ou não conseguir.

Segundos, minutos, horas se passam e eu ainda não sei o que falar.

- Jonathan? - Ela me chama.

- Do que você está falando? - Pergunto, querendo gritar com o mundo e a abraçá-la para que nada de mal possa ser capaz de atingi-la, mas até nisso eu havia falhado.

Pandora encara os seus pés. Sei que é difícil olhar para mim naquele momento.

- Foi depois que você foi embora. - Ela diz, conseguiria perceber a dor que ela sentia em falar sobre isso há quilômetros de distância. - Ele se tornou impossível de lidar, sumia por dias, e quando aparecia em casa, estava bêbado.

Fecho minha mão em um soco e sinto minhas veias saltarem de raiva.

- Por que você não me disse nada? - Pergunto, com os dentes trincados.

Ela me encara aflita.

- Eu não queria preocupar você. - Pandora admite. - Você estava bem em São Paulo, e de certa forma, eu não me sentia mais presa da mesma forma que sentia quando você estava em casa.

Sinto a culpa atingir o meu corpo, e era como se um peso de 600 kg estivesse em minhas costas.

- Como ele te machucou? - Sinto as lágrimas atingirem os meus olhos, e uma vontade gigante de chorar invade o meu corpo.

- Quando ele estava bêbado, ele tinha alucinações. Achava que eu era a nossa mãe. - Ela diz, encarando as mãos. - Um dia ele chegou bêbado em casa e eu o confrontei. - Ela engole em seco e vejo as lágrimas caírem dos seus olhos. - Ele me espancou e eu desmaiei, acordei na cama dele, e eu apenas... sabia.

Pandora encara os meus olhos e vejo uma garota de 10 anos pedindo ajuda e pedindo amor. As lágrimas não são coisas que queremos guardar, e ficamos apenas encarando um ao outro, sem saber o que dizer, sem saber o que falar.

- PORRA! - Eu grito, levantando do sofá, a assustando. - POR QUE EU SEMPRE ESTRAGO TUDO?! - Soco a parede e sinto a dor em seguida, mas a dor em meu peito é ainda maior. - POR QUE EU TE DEIXEI SOZINHA COM AQUELE MONSTRO? - Soco a parede novamente. - POR QUE? - Soco novamente. - POR QUE? - Soco mais uma vez, observando o sangue escorrer pela tinta clara. - POR QUE? - Soco, e sinto a dor me consumir. - POR QUE? - Quando vou socar outra vez, as mãos de Pandora me impendem.

- JONATHAN! - Ela grita.

Olho em seus olhos, e os vejo totalmente inchados, e a intensa dor que ela sente, por ter passado por aquilo, a consumir.

- Me desculpe, Pandora. - A abraço, chorando copiosamente. - Me desculpe!

Seus braços me envolvem com força, e caímos de joelhos no chão.

- Não foi culpa sua, meu amor. - Ela diz, mas nada que sair de sua boca será capaz de diminuir a culpa que eu sinto.

- Me desculpe! - Digo novamente. - Se ele ainda estivesse vivo, eu o mataria com minhas próprias mãos. - Digo, sentindo a raiva me consumir.

Pandora se afasta de mim, e encara os meus olhos. É então que eu percebo, é então que tudo se encaixa.

- Você o matou.

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