Capítulo 18 - inimigos do espiritismo

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   O Espiritismo tem poderosos inimigos; não poderiam eles interditar-lhe a prática e as sociedades e,por esse meio, impedir-lhe a propagação? 

 — Seria um modo de perder a partida um pouco mais cedo,porque a violência é o argumento daqueles que não têm boas razões.  

  Se o Espiritismo é uma quimera, ele cairá por si mesmo, sem quepara isso se esforcem tanto; se o perseguem é porque o temem, e só umacoisa séria pode causar temor. 

Se, ao contrário, é uma realidade, então estáem a natureza, como vo-lo disse, e ninguém com um traço de pena poderevogar uma lei natural.Se as manifestações espíritas fossem privilégio de um homem, nãohá dúvida que, arredando-se esse homem, se poria um termo às manifestações;infelizmente para os adversários, elas não são mistério para pessoaalguma; aí não há segredos, nada oculto, tudo se passa às claras; elas estão àdisposição de todo o mundo e se produzem desde o palácio até a mansarda. 

Podem interdizer-lhe o exercício público; porém, é assaz sabido quenão é em público que elas mais se dão; é na intimidade; ora, desde quetodos podem ser médiuns, quem impedirá que uma família no seu lar,que um indivíduo no silêncio do seu gabinete, que um prisioneiro emseu cárcere, tenha comunicações com os Espíritos, mesmo nas barbas dapolícia e sem que esta o saiba? 

Admitamos, entretanto, que um governo seja forte bastante para impedi-losde trabalhar em suas casas; conseguirá também que o não façamna de seus vizinhos, no mundo inteiro, quando não há país algum, nosdois hemisférios, em que não se encontrem médiuns? 

O Espiritismo, além disso, não tem sua fonte entre os homens; eleé obra dos Espíritos, que não podem ser queimados nem encarcerados.Ele consiste na crença individual, e não nas sociedades, que de nenhumasorte são necessárias. Se chegassem a destruir todos os livros espíritas, osEspíritos ditariam outros. 

Em resumo, o Espiritismo é hoje um fato consumado; ele já conquistouo seu lugar na opinião pública e entre as doutrinas filosóficas; é,pois, preciso que aqueles, a quem ele não convém, se resignem a vê-lo aoseu lado, restando-lhes a liberdade de recusá-lo.  

  O Espiritismo tem por fim combater a incredulidade e suas funestasconsequências, fornecendo provas patentes da existência da alma e da vidafutura; ele se dirige, pois, àqueles que em nada creem ou que de tudo duvidam,e o número desses não é pequeno, como muito bem sabeis; os quetêm fé religiosa e a quem esta fé satisfaz, dele não têm necessidade.

 Àquele que diz: "Eu creio na autoridade da Igreja e não me afastodos seus ensinos, sem nada buscar além dos seus limites", o Espiritismoresponde que não se impõe a pessoa alguma e que não vem forçar nenhumaconvicção. 

A liberdade de consciência é consequência da liberdade de pensar,que é um dos atributos do homem; e o Espiritismo, se não a respeitasse,estaria em contradição com os seus princípios de liberdade e tolerância.

 A seus olhos, toda crença, quando sincera e não permita ao homemfazer mal ao próximo, é respeitável, mesmo que seja errônea.Se alguém fosse por sua consciência arrastado a crer, por exemplo,que é o Sol que gira ao redor da Terra, nós lhe diríamos: "Acreditai-ose quiserdes, porque isso não fará que esses dois astros troquem os seuspapéis", mas assim como não procuramos violentar-vos a consciência, respeitaitambém a nossa.

 Se transformardes, porém, uma crença, de si mesma inocente, em instrumentode perseguição, ela então se tornará nociva e pode ser combatida. 

Tal é, senhor abade, a linha de conduta que tenho seguido com osministros dos diversos cultos que a mim se hão dirigido. Quando eles meinterpelaram sobre alguns pontos da Doutrina, dei-lhes as explicações necessárias,abstendo-me de discutir certos dogmas de que o Espiritismo nãose quer ocupar, por serem todos os homens livres em suas apreciações;nunca, porém, fui procurá-los no propósito de lhes abalar a fé por meio dequalquer pressão.

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