Capítulo sem título 48

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                                Melinda

-Você parece nervosa! Algum problema, Mel?

Laura ergue uma sobrancelha ao me indagar e parece procurar algo em minhas reações.

-Não, estou ótima, melhor impossível.

Digo tentando parecer o mais confiante possível.

Desde que chegamos à festa Andre fica tentando me puxar para um canto para namorar. Antigamente, quando eu achava que o amava e que ele me amava, eu adorava essa ousadia dele. Hoje só consigo sentir nojo. Estou conseguindo até o momento o manter o mais longe possível, mas não está sendo muito fácil. Aproximo-me do ouvido de Andre e digo que preciso ir ao toalete retocar a maquiagem. Noto que Laura me observa enquanto caminho. Sua estranheza é natural, afinal andamos sempre juntas. Não quero levantar suspeitas, porém preciso de um pouco de espaço. Estou lidando bem em esconder meu nervosismo até agora, só que não sei se consigo por muito mais tempo. O toalete está tão cheio quanto à festa, por isso espero na fila. Algumas garotas se entreolham. Provavelmente estão esperando que eu tome o lugar delas. O que provavelmente eu faria antigamente. Depois de um tempo um pouco estranho, elas parecem aliviadas e então começam os burburinhos. Com certeza estão cochichando sobre a situação. Muitas delas devem me odiar. Tento pensar em outra coisa para me distrair desta situação constrangedora. Retomo mentalmente meu plano. Depois de usar o privativo paro em frente ao espelho. Meus pensamentos voam para o Daniel. Será que ele está chateado comigo? Será que eu deveria ter contado meu plano a ele? Eu só queria poupá-lo. Ele já fez tanto me ajudando quando ele era a única pessoa que podia. Eu preciso fazer isso sozinha. Daniel é uma pessoa do bem. Ele não precisa disso. Eu não quero estragar a vida dele com o meu karma. Eu nem mesmo sei se mereço seu amor. Ah, por favor! Olho novamente para meu reflexo no espelho. Eu sou patética! Estou parecendo aquelas mocinhas dramáticas de novelas. Não posso ter mudado tanto assim. Continuo sendo Melinda Barcellos. A patricinha mais descolada. Quem precisa de Cher ou Regina comigo por perto? Meu reflexo espelha o meu sorriso. Minha auto confiança retorna com tudo.

Viro-me para sair do banheiro e esbarro em alguém. Beatriz. Ela me olha assustada, aguardando minha reação. Eu peço desculpas. E ela não esboça reação nenhuma. Parece estar em estado de choque. Eu estalo meus dedos na frente do seu rosto.

-Tudo bem com você? Quer que eu chame alguém?

Digo sem saber o que fazer.

-Não... Esta tudo bem.

Ela parece voltar ao normal. Eu fico aliviada.

-Eu só não esperava que você falasse dessa forma comigo.

Ela diz receosa.

-Entendo.

Olho para seu rosto. Ela esta muito bonita esta noite. É a primeira vez que a vejo de maquiagem. Já ela olha para seus sapatos, como se tivesse medo de olhar em meu rosto. Ela parece nervosa. E então ela perece se transformar, e de repente levanta a cabeça e me encara também. Bem. Parece que não sou a única a mudar ultimamente.

-Eu não tenho medo de você Melinda!

Ela diz tentando não transparecer seu nervosismo. E eu a admiro por isso.

-Que bom, Beatriz! Eu não espero que você tenha.

Ela continua me encarando. Quase posso ouvir seus pensamentos. Ela estava se preparando para uma batalha. Mas eu a desarmei e agora ela não sabe o que falar ou pensar. Ela esperava uma Melinda arrogante e prepotente na sua frente. Posso notar isso apenas observando a expressão em seu rosto e as diferentes emoções que ele deixa transparecer.

Uma Patricinha em minha vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora