single chapter - Com Fogo e Fúria

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As batidas na porta tornaram-se mais fortes nos últimos segundos. A cada pancada na madeira gasta, uma dor pontiaguda lhe tirava dos sonhos e o despertava a contra gosto, como se fossem feitas por uma lâmina deveras pontiaguda apontada diretamente em sua cabeça. Bufou, percebendo aos poucos a claridade tomar conta de suas pálpebras fechadas denunciando o nascer do dia. A bem da verdade, a cama não era das mais confortáveis e as peles lhe servidas para o frio mais pinicavam seu corpo do que espantavam a brisa gélida da madrugada. Porém, era o que tinha, e preferia isso a ter que dormir em um improviso de panos ao relento, despertando a cada movimento brusco de algum animal à caça.

Relaxara o corpo mais uma vez, um peso extra se fazendo presente em seu peito. Resmungou, ouvindo novamente as malditas batidas na porta e uma voz aparentemente nervosa ressoar através da madeira. Jeongguk abriu os olhos enfurecido, olhando ao redor e reconhecendo o quarto porco da estalagem. Em cima de si, dormindo despreocupadamente, se encontrava a moça que cuidava da cozinha. Ou cuidaria, se estivesse acordada antes da luz do sol. Suspirou, pegando o braço da mulher em volta de sua cintura e a virando de qualquer jeito para o outro lado, percebendo agora seu próprio tronco desprovido de qualquer pano. Com uma paciência não característica, o homem se levantou, pondo-se a procurar suas roupas e a maldita espada para cortar o pescoço do infeliz que o acordara.

Os músculos da perna reclamavam enquanto se abaixava em busca de sua calça, encontrando cacos de uma jarra partida e o que parecia ser antes um vinho espalhado pelo chão sujo. Franziu o cenho, reunindo seus utensílios e afivelando o cinto se couro, contendo na bainha sua tão estimada espada. Ainda com o tronco nu, avaliou o abdômen arranhado e alguns chupões pela extensão da barriga; odiava quando elas exageravam. Bufou, resolvendo abrir a porta enferrujada antes que se partisse ao meio.

— Por algum acaso bebedeira excessiva causa surdez matinal, seu maldito? — Uma cabeleira loira invadiu o quarto minúsculo, entortando o cenho com o cheiro de algo podre invadindo suas narinas. Olhou indignado para o moreno sonolento, cruzando os braços e cerrando os olhos. — Poderia ao menos tomar um banho antes de sair fodendo por aí.

O moreno não gostou do tom usado.

— Tenha mais respeito com seu senhor. Ainda é meu escudeiro — disse por fim, observando o riso irônico nos lábios do menor.

— Como irei servir a alguém que não se importa com nada? — cuspiu.

— Do mesmo modo que aturo suas desobediências. Maldita hora para me arrumarem um estorvo — resmungando, saiu pela porta vestindo lentamente uma camisa fina. O frio da manhã, tão característico, não se fazia presente, o que contribuía para sua falta de humor. Jeongguk odiava o calor.

O moreno seguiu adiante por um corredor apertado, onde no fim havia uma escada sendo sustentada pelo tempo. Não fez questão de esperar pelo loiro, atravessando a frente da estalagem antiga e jogando algumas moedas por cima do balcão. Seria o suficiente para pagar pela sopa rala e a cama dura da noite anterior. Quando abriu a porta de saída, suspirou o ar fresco da manhã, estranhando a falta de nuvens no céu. Um maldito dia quente, pensou. Havia dois cavalos já selados e Jeongguk não se atentara ao fato de ficar curioso para saber de quem eram; era fato que Min Yoongi, seu odiado escudeiro, havia acordado bem antes da dona da estalagem apenas para arrumar as poucas trouxas que carregavam consigo por um tempo considerável de viagem. Pelo menos nisso Yoongi era bom; os outros atributos o moreno dispensava.

Yoongi não era exatamente o tipo de companhia que Jeongguk queria. Mas eram negócios: o pai do moreno insistia para que o loiro o acompanhasse, então o maior não tinha culpa se o Min não aguentava nem mesmo beber duas taças de vinho fervido sem dormir em cima da mesa; ou o fato de não suportar o cheiro de prostitutas, constantemente no quarto em que Jeongguk estava. Em outras palavras, Min Yoongi era um escudeiro empata foda, e Jeongguk tinha suas necessidades. Mesmo que estas tivessem que ser saciadas mais vezes do que frequentava os treinos nos estábulos.

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