Abandono: A primeira nota

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Uma hora. Há exatamente uma hora eu aguardada no mesmo banco da mesma praça, o mesmo garoto. Suspiro, procurando me concentrar para não permitir que meus olhos marejem. Quero correr para casa e chorar mas ao invés disso apenas me encosto no banco, refletindo sobre o quão melhor teria sido se eu apenas tivesse ficado em casa na companhia das minhas músicas preferidas, escrevendo ou praticando piano. Levanto a cabeça, olhando para cima, tentando desviar a mente da ideia de ter levado um bolo do único garoto que havia me chamado para um encontro na vida. Procurei me desligar desses pensamento, focando-me nas pessoas que se divertiam na tarde ensolarada. A praça era bonita, com certeza a apreciaria mais se estivesse ali em uma situação mais favorável.        Em minha frente, uma fonte com algumas estátuas meramente decorativas, crianças brincavam pela grama, casais passeavam de mãos dadas próximos aos canteiros de flores. Instintivamente, motivada pela tristeza, e, até um pouco de raiva, tirei da minha bolsa um bloco pequeno de post-it amarelo claro, onde escrevi para aliviar os sentimentos

"Se o amor bater na sua porta,
antes de abrir, cheque se ele vem com a intenção de ficar"

         "Ou se ele pelo menos se compromete a te acompanhar em um encontro", pensei. Levantei-me, após colar o post-it no banco. Não me sentia exatamente bem mas sabia que não poderia ficar apenas ali, frágil, esperando que as pessoas curiosas me olhassem, julgando a situação e sentindo pena. Ajeitei minha bolsa tiracolo em minha cintura, retoquei o gloss e resolvi caminhar para conhecer melhor o lugar, já que estava ali, pelo menos talvez conseguisse tirar algo de bom daquela circunstância.
        O restante do dia foi calmo e relaxante, sem grandes acontecimentos. Paguei um picolé e voltei para casa a pé, considerando que o último ônibus escolar já havia partido há horas, a praça, no final das contas, acabou sendo um passatempo divertido, me senti feliz por ter transformado um momento ruim em um dia agradável no fim das contas. Ao chegar em casa, comprimentei meus pais e corri escada acima, ignorando todas as perguntas sobre o encontro e o garoto, respondendo somente que o dia havia sido bom.              Abri a porta do quarto, já sem meus sapatos, que ficavam na entrada de casa (um dos costumes que minha família de origem japonesa fazia questão de manter, mesmo morando nos Estados Unidos), minhas meias tocaram o carpete branco, joguei-me na cama de casal e olhei para cima, fitando as pinturas de nuvens que o papel de parede azul tinha. minhas mãos vasculharam a bolsa, atrás do celular, quando alcancei o objeto, imediatamente bloqueei Ethan e apaguei nossas mensagens. Estava pronta para guardá-lo nas escrivaninha ao lado quando o som de mensagens me chamou a atenção. "Agora não" murmurei pra mim mesma, fechando os olhos e suspirando frustrada, a última coisa que eu queria no momento era interagir socialmente com qualquer pessoa que fosse, mas acabei cedendo, desbloqueio a tela, me forçando a ser educada "vamos lá, só um esforcinho" penso comigo mesma

Liam: "Dia difícil, hein?"

Angel: "Isso é algum tipo de pergunta retórica?"

Liam: "Bom, você não veio para a tarde da pizza e filmes bregas de comédia, está online agora e não falou comigo nem com a Liv, então, ou você estava tendo um baita encontro ou profundamente chateada com alguma coisa"

Aquilo me chocou um pouco, não era costume entre nós debater sentimentos. Nos vemos na escola, conversamos sobre matéria, filmes e livros, mas só. O fato de ser uma garota muito sensível me envergonha em parte, então, prefiro lidar com as coisas sozinha, e, mesmo que nós fossemos amigos, nunca havíamos chegado "nesse degrau" da amizade, éramos quase como colegas.

Angel: "Não quero falar sobre isso, por favor"

Liam: "Você...está bem?"

Angel: "Liam..."

Liam: "Okay, já entendi, desculpe, eu...só queria nos aproximar de algum jeito, só isso"

Angel: "Me desculpe Li, eu só...Acho que ainda estou me habituando com as coisas aqui, obrigada por tentar me ajudar."

Desliguei o telefone, me aproximar tanto de outras pessoas era estranho, principalmente quando eu estava longe de Naomi, minha então melhor amiga, nos conhecemos desde sempre, nossas famílias eram amigas e quando precisei me mudar por causa do emprego do papai, dissemos que isso não nos afetaria em nada, bem, de certa forma afetou. Não nos falamos mais como antigamente, sequer sei como ela está. Pego uma foto de nós duas que estava entre as coisas para terminar de empacotar da mudança

— Sinto sua falta — Digo para mim mesma com um sorriso triste, antes que perceba, novamente estou com vontade de chorar. Seco as lágrimas rápido e desfaço o biquinho que havia se formado em meus lábios. Penso sobre o quão as coisas estariam sendo menos assustadora se ela estivesse aqui comigo, lacrimejo um pouco, as lembranças retornam a mim e quando noto, estou chorando. Decido mandar-lhe uma carta, com uma cópia da foto em anexo. Sempre gostamos muito de escrever cartas, no dia seguinte iria ao correio. Termino o jantar, coloco os pratos na lava-louças, subo a escada de madeira e me apronto para dormir, tentando esquecer completamente de Ethan.

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⏰ Última atualização: Dec 31, 2018 ⏰

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Love notes  (Fanfic Jungkook)Onde histórias criam vida. Descubra agora