setenta e seis. maile penekai & social

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Eram duas da tarde quando Mackenzie e eu combinamos de sair para espairecer, e eram duas e meia quando eu cheguei à casa dela, mas minha amiga ainda estava no banho.

Fiquei esperando na cadeira de sua escrivaninha – que era mais confortável que a cama por conta do colchão ortopédico – e logo ela saiu do banheiro, com o look quase completo e desembaraçando os cabelos recém lavados. Diga-se de passagem, me molhando.

— Para, Mackie! – pedi, tentando não soar impaciente enquanto ela chegava perto de mim para alcançar o celular.

— Xi... O que foi hein? – perguntou desconfiada.

— Só você aí, me molhando com seu cabelo de propósito.

— Esse mau humor todo por causa do meu cabelo? Conta outra, você parece uma velha impaciente esses dias. O que foi? – ela sentou na cama e eu comecei a girar em sua cadeira.

— Nada. – menti, ou pelo menos tentei.

— Você tem muita cara de pau de mentir na minha casa e na minha frente, né? Eu acabei de sair do banho, não do útero.

— Credo, Mackenzie, eu só pedi para você parar de me molhar de propósito. Só isso.

— Aí que está. Você reclamou do meu cabelo molhado respingar em você, mas não reparou que o espelho é ao lado da escrivaninha e isso consequentemente aconteceria. – ela levantou da cama e veio me encarar — O que é engraçado, porque você sabe disso. – comentou — O que me leva a deduzir que você não está nesse quarto, não sua cabeça pelo menos.

— Mackenzie, pode parar de bancar a detetive, ok?

— De onde você diz isso? – ela continuava provocando. Dessa vez, andava de um lado para o outro com o dedo indicador e o polegar no queixo — Da Bélgica? Ou seria da Irlanda? Que dia é hoje? – apressou para verificar a data no celular — Quarta-feira, dia trinta. Ele está na Irlanda, certo?

— Manchester. – suspirei vencida. Essa garota não cansa — Ele está no Reino Unido. Tá feliz? – ela comemorou com um sorriso e sobrancelhas de "Eu tinha razão".

Mackenzie sabia que alguma coisa me incomodava esses dias, e ela também sabia que não tinha a ver com os estudos. A suspeita era Matthew, e ela estava correta. O problema era que eu não queria admitir que ele, mais uma vez, era alvo dos meus pensamentos.

Até porque, quão mais patética eu consigo ser?

— Precisava ter enrolado tanto, Maile? – perguntou calma e séria, voltando a se sentar na cama.

Lembrar de tudo o que aconteceu me dava vontade de chorar, porque aquele término pesava nas minhas costas. Eu tinha plena ciência disso, de que tudo que eu estava sentindo no momento era culpa minha, mas eu também pensava no Matthew. Ele estava triste? Porque se sim, aquilo também era culpa minha. E eu me odiava por isso.

— Maile, dá pra parar de pensar tanto e falar comigo?

Eu estava virada para a parede e de costas para Mackenzie, não queria falar, mas sentia que precisava.

Está aí uma coisa sobre minha TPM que eu odeio: eu posso virar uma xícara de açúcar na chuva, ou me transformar num dos humanos afetados pelo vírus do filme Guerra Mundial Z. Às vezes os dois, mas aí já é um nível mais delicado.

— Eu me sinto tão mal, Mack. Eu terminei a droga do namoro de mentira por ser egoísta e ambiciosa. Eu não queria que fosse só de mentira, mas quando eu percebi que não ia pra frente eu preferi pular fora. Pulei fora porque disse ser melhor, mas olha só a droga do meu estado! – pausei para respirar e notei que Mackenzie estava virando a cadeira lentamente — Eu não consigo parar de pensar no que teria acontecido se eu não tivesse inventado aquele monte de desculpas para terminar com ele. Será que a gente estaria namorando ainda? Será que ele ia gostar de mim de verdade? Mackenzie! Eu fui tão burra.

1 | faking it · m. espinosa [✔️]Onde histórias criam vida. Descubra agora