CAPÍTULO 1MADELEINE
Assim que eu termino de esvaziar a última caixa de livros em cima da bancada, dou um suspiro, tentando mais uma vez recitar o mantra que vem se repetindo na minha cabeça há três semanas, quando eu simplesmente pedi demissão do meu emprego de dois anos para, veja só, reabrir a livraria da minha avó.
Vai dar tudo certo. Vai dar tudo certo.
Vovó faleceu há um ano, mas seu testamento foi aberto apenas mês passado, somente então eu descobri que ela havia deixado a livraria para mim. Embora minha avó tenha tido três filhos e sete netos, ninguém pareceu se importar que a livraria tenha ficado para mim.
Verdade seja dita, há um mês esse lugar não parecia grande coisa, quer dizer, ainda hoje é possível que ele não chame muita atenção, não como chamava na época em que minha avó ainda cuidava do lugar.
Quando ela teve um derrame há cinco anos, a livraria foi alugada para um casal de neohippies, que trabalhava com materiais alternativos.
Dou um suspiro. Vai dar tudo certo.
Foi o que eu falei há exatas três semanas e um dia. Quando vim dar uma olhada na loja, apesar de todos os resquícios deixados pelos antigos locadores (como uma parede com uma pintura de diversas constelações).
Foi o que eu falei há três semanas, quando pedi demissão do meu emprego como assistente chefe de uma editora de livros no centro da cidade. Meu emprego que me pagava razoavelmente bem.
Foi o que eu falei há duas semanas e meia quando encomendei um novo letreiro para a fachada da livraria e também um pacote inicial de trezentas sacolas de papel com o nome da livraria.
Foi o que eu espero ter falado há duas semanas quando comecei a limpar tudo e repintar TODA a livraria.
E quando eu digo repintar, quero dizer eu mesma e vários rolos e latas de tinta. Sem emprego, dependo apenas das minhas economias e do dinheiro que ganhei na rescisão, então nada de pintor profissional.
E isso é tudo que tenho feito nas últimas duas semanas, limpado e repintado. Sempre que acho que estou perto de terminar, acho um novo local para ser limpo e repintado.
Felizmente as paredes de pedra parecem ter escapado dos pinceis neohippies, porque eu não tenho a menor ideia de como se tira tinta de pedra.
Além disso, a fachada original cor azul petróleo permaneceu quase intacta, com exceção do letreiro Indian Emporium. E, caso você queira saber, nenhum dos antigos locadores era indiano.
Por sorte, encontrei os antigos móveis da época da vovó guardados no depósito dos fundos, junto com uma pequena coleção de livros, algo em torno de duzentos, que para parâmetros de livraria são bem poucos, acredite. Apesar de alguns móveis já terem ultrapassado em muito a sua vida útil, a maioria deles pôde ser limpa e trazida de novo para frente da loja.
A parte boa se ter trabalhado em uma editora e ser realmente boa no que você fazia, sem falsa modéstia alguma, é que quando você pede demissão, eles não te viram a cara, na verdade eles te oferecem um desconto muito bom nos livros e você pode comprar um pequeno estoque para a sua livraria ainda não aberta.
E foi isso que eu fiz.
Posso ter esquecido de mencionar, mas eu tenho absolutamente zero, nenhuma, NADA, de experiência com vendas. Depois da faculdade fui direto do meu estágio na editora para assistente e então para assistente chefe.
E aqui estou eu, em meio a uma livraria com um letreiro de Indian Emporium na frente, com um estoque modesto de livros, prateleiras recém-pintadas de azul claro e trezentas sacolas de compra de papel pardo.
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Perto de Você
ChickLitMadeleine está perdida. Bom, não realmente. Ela acabou de pedir demissão do emprego para reabrir a livraria que herdou da vó. Tudo que ela não precisa é que seu apartamento acabe inundado, mas é justamente isso que acontece. Como pagamento pela ajud...