Capitulo 01: escapatorias incertas

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Totalmente sozinho, sozinho novamente
Ninguém estende a mão para ajudar
(All the pretty girls - Kaleo)

J O N A T H A N

Pequeno. Era como Jonathan estava se sentindo. Muito pequeno. Sempre odiou estar rodeado de pessoas, em uma multidão. Para ele, as pessoas o deixava sem ar.

As festas eram piores. Sempre o deixava doente. Detestava as falsas aparências, os jogos sujos, os namoricos, os bêbados amadores e os chatos. Ele não suportava mais.

Eu quero ir embora.

A garota que estava ao seu lado suspirou frustrada e virou para encara-lo. Era sempre assim. Diana já estava cansada de toda vez que eles saíssem ter que voltar cedo.

─ Eu não. ─ discordou pela primeira vez e Jonathan franziu as sobrancelhas pensando não ter escutado certo. Não que ele não aceitasse um "não", mas era estranho. Diana sempre concordava com ele.

─ Eu vou embora. ─ repetiu com convicção.

─ E eu não. ─ ela respondeu nervosa. Todas as vezes que saiam, se ele ficasse muito em um lugar cheio e movimentado ele sofria um ataque de pânico. Ela sempre o ajudou, sempre foi a âncora dele. Não faria mal algum se ele ficasse com ela por mais alguns minutos, não? Ela estava se divertindo.

─ Tudo bem. ─ Jonathan deu de ombros. Ele ficou surpreso mas não se incomodou. Iria embora com ela ou sem ela.

E então Diana percebeu que ele estava falando sério quando deu as costas e começou a andar em direção a saída da festa. Correu até ele e segurou seu braço.

─ Você vai mesmo me deixar sozinha aqui?

Jonathan suspirou e tentou não parecer impaciente. Ele estava cansado. Exausto. Não tinha tempo de ficar e se explicar pra ninguém, muito menos pra Diana. Eles só saíram há alguns semanas, não tinham nada. Por que ela se intrometia tanto?

─ Eu preciso ir embora. ─ tentou ser o mais rápido possível. Tinha um caos dentro dele, ele iria explodir a qualquer momento.

─ Mas eu não quero ir embora! ─ a garota exclamou, desejando que ele ficasse e se juntasse a ela.

─ Então fique. ─ Jonathan disse com indiferença. Ele realmente não se importava.

Por um momento os dois ficaram em silêncio se encarando. Jonathan queria ter certeza de que ela não iria falar mais nada para poder fugir dali.

─ É por isso que você não tem ninguém.

Um empurrãozinho. Uma pequeno empurrãozinho pra a bola de neve cair do abismo e atingir o infinito com força.

"Você não tem ninguém". Ele não podia deixar isso atingi-lo. Não podia deixar isso entrar na sua cabeça. Era mentira. Ele tinha alguém. Tinha seus dois únicos e fiéis amigos, sua mãe e tinha Madison. Era o suficiente, não?

Mas se era suficiente, porque aquilo pesou quando atingiu seu peito? Porque ardeu?

─ Jonathan me desculpa, eu não... não quis falar isso. ─ Diana se arrependeu no mesmo momento que soltou as palavras afiadas quando viu o semblante do rosto dele. ─ Eu...

─ Eu não ligo. ─ ele interrompeu dessa vez, sem esconder a armagura e ríspidão em sua voz. É claro que ele ligava.

─ Desculpa ter te trazido a essa festa, eu só queria que você saísse e se divertisse. ─ tentou argumentar. ─ Mas é só que eu não consigo competir com o seu passado e essas tais lembranças que você vive alimentando. ─ suspirou arrependida. ─ Eu só queria te ajudar.

─ Vai me ajudar se me deixar em paz.

Ele deu meia volta e atravessou a porta de saída daquele local, sentindo o vento forte em seu rosto. Um alívio percorreu todo o seu corpo mas ainda se sentia pesado por dentro. Como se um imã estivesse o puxando para baixo e dificultasse a sua respiração.

Montou em sua moto e não se deu ao trabalho de colocar o capacete de proteção. A ideia de cair no meio da pista, bater a cabeça e morrer não o assustava mais.

A velocidade aumentava cada vez que ele acelerava no guidão. O vento contra seu rosto transmitia uma sensação imbatível de imortalidade. Não que ele quisesse um dia viver pra sempre, na verdade isso seria mais uma tortura. Era mais uma sensação de poder, de controle, como se nada o abalasse.

Ele parou em uma rua vazia qualquer, pegou sua mochila que sempre carregava na moto e retirou duas caixinhas de tinta spray preto.

Todo mundo tinha sua escapatória certo?

Desenhos. Círculos. Pontos. Laços. Traços. Tudo era transmitido dos pensamentos da cabeça dele para a parede. Sentimentos e gritos em forma de desenhos. Angústia. Medo. Culpa. Sufoco.

E então um homem passou correndo pela calçada onde ele estava e os dois se bateram, caindo no chão.

Ei, passa o celular! ─ o homem gritou se levantando e dando um empurrão em Jonathan.

─ Oquê? ─ encarou o homem a sua frente que vez ou outra olhava para trás, nervoso.

Passa o celular! Você é surdo?!

Não demorou muito para que o som do carro de polícia ficar mais alto e se aproximar de onde eles estavam. O homem puxou o celular da mão de Jonathan e saiu correndo quando viu a viatura se aproximar.

Jonathan não teve outra opção a não ser esticar as mãos em rendição, quando os faróis apontaram para ele.

DESTRUÍDOS (COMPLETO NA AMAZON)Onde histórias criam vida. Descubra agora