Plutoniana

a garota da bolsa laranja

Sempre que descia da besta, reparava em uma garota da bolsa laranja descendo também... mas por incrível que pareça, nunca tive curiosidade em conhecê-la. Mas as coisas são muito doidas e mundo não para de girar.
Em um meio de ano qualquer, eu ia sair da minha escola atual, por má adaptação mesmo, e uma amiga minha me adicionou em um grupo chamado "friends" para me ajudar a fazer amigas.
aleatória: não entendi pq me colocaram nesse grupo, vou mudar pra tarde.
eu: achei que vc ficaria comigo
/confesso que só falei isso pra fazer a "piada" do migo/
aleatória: não, já tá decidido
eu: então migo vai ficar sozinha... pq quer mudar?
aleatória: sabe... não aguento mais as pessoas me julgando, estou me sentindo muito sozinha, preciso mudar.
eu: tô na mesma em relação a escola... mas sabe, momentos difíceis são momentos difíceis, posso te ajudar a passar por isso.
-mandei uma frase de Grey's para anima-la
aleatória: desculpa, já tomei minha decisão...
Não liguei mais para aquilo e segui minha vida, acabei decidindo aguentar até o final do ano e tal.
Ao chegar na escola, sou abraçada por alguém, que de fato não reconheço logo de cara, mas ao subir somos apresentadas e ela era aquela menina aleatória do grupo, olha só.
-oi migo! -ela falou
-oi. - eu respondi

Eu vi de novo, a garota da bolsa laranja, e dessa vez ela me foi familiar, era aquela mesma que não conseguiu mudar pra tarde. Uma coisa que eu percebi, é que ela estava muito sozinha, então decidi ficar junto a ela.
-nossa, eu sou muito desastrada, tropeço até no vento.
-eu também kkk, nossa cada tombo que eu levo...
tão natural e sem perceber, a gente passava horas compartilhando nossas histórias, e rindo e nos tornando inseparáveis. Fazíamos dupla sempre, falávamos de sonhos, do que nós éramos e o que queríamos ser... e quando eu vi, já não me via sem ela. Sabe aquela clássica dupla, que faz tudo junto, que compartilha tudo, que são de fato melhores amigas? Nós éramos assim, de fato, melhores amigas.
E eu, que nunca conseguia confiar em ninguém, confiei nela, abri meu coração pra ela, e já éramos uma só, e a gente só reparou nisso quando começamos a sentir muita saudade uma da outra.
-Sabia que eu nunca ouvi você cantar?
-Eu tenho vergonha...
-Canta ai, sou eu.
-ok
🎤
-você canta muito bem.
-você acha?
-sim
-vamo pro the voice
-vamo.
E assim iniciou um dos nossos primeiros sonhos juntas, cantávamos, pensávamos no momento que as cadeiras iriam virar, no nome da nossa dupla, se a gente ia chorar ou não, pra qual time iriamos entrar, e assim por diante.
Infelizmente, durou pouco, não me orgulho ao dizer que desistimos disso, mas lá fundo a gente ainda pensa em como será.
Iniciou o novo ano, e decidimos fazer aula de canto e de bateria juntas, no teatro perto da minha casa. Não tinha um dia que não estivéssemos juntas, ela ia lá em casa antes da aula, nos ouvíamos música, conversávamos sobre a vida e essas coisas.
-Ei
-oi
- o que você vai fazer se eu mudar de escola?
-vou ficar triste é claro, mas se for melhor pra você.
-por favor não chora
-te amo, não desiste
-também te amo.
E eu acho que foi a primeira vez que nos falamos ao vivo, em alto e bom som, e eu não desisti.
Eu acredito muito que não existe coisa mais íntima do que olhar o céu junto a uma pessoa. Sabe, nos vemos o mesmo céu, mas não vemos o mesmo mundo, e como diz John Green "é muito raro encontrar quem veja o mesmo mundo que o seu."
E quando eu menos reparei, lá estávamos nós, deitadas no banco do teatro, rindo feito duas loucas, e além de olhar o mesmo céu, olhar o mesmo mundo, e isso me fez perceber, que eu não deveria desistir, por ela, pois não importa a distância que estivemos, estaremos sempre vendo o mesmo céu, e nada nos faz mais íntimas que isso.
Eu fui resgatada, e quem menos eu esperava que me fizesse feliz, fez, e eu só tenho que agradecer, por não ter me deixado desistir.
Eu a amo de todo o coração, e independente dos conflitos, nunca vou me esquecer disso.