30º Capítulo

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Três meses se passaram desde o dia em que tudo foi descoberto e desvendado, em que fui brutalmente separada do homem culpado pela minha extrema felicidade.

Tenho saudades dele.

Assim como se tem vindo a repetir durante este tempo todo, de duas em duas semanas recebo uma carta de William. Não encontramos outra maneira de comunicarmos, se não através deste velho método, muito eficaz, por sinal. Ninguém sabe desta troca de correspondência, é apenas um segredo meu e de Will. Seria o caos se alguém descobrisse disto, destruiria tudo e só iria piorar a nossa situação.

Apesar do sorriso chapado na minha cara, não significa que tudo esteja a correr bem ou às mil maravilhas. Toda esta história teve a suas consequências, tanto para mim como para ele. Segundo o conteúdo da carta, William foi despedido do seu cargo de professor de Teatro na Mill Hill. Já todos estávamos à espera de algo assim, pois uma notícia destas, não é habitual e choca imenso a aqueles que sabem dela.

Os rumores, os olhares, os comentários.

Não, a minha mãe não fez queixa nem à polícia, nem à direção da escola, mas, inexplicavelmente, o diretor soube… Agora, quem é que teria contado? Hm, difícil, não? Uma grande avalanche de sarcasmo cercou estas minhas perguntas. Sierra. Sierra Salvatore, a princesa do papá, deu com a língua nos dentes. Pergunto-me o porquê de tanta maldade para comigo, não lhe fiz nada.

Para além de ter sido despedido, William dá-me a conhecer o seu próximo passo na sua carreira profissional. Este recebeu uma proposta para juntar-se a uma associação de proteção de crianças em Windsor. William foi proposto para trabalhar em part-time como um dos professores de uma das disciplinas extra curriculares que aquela associação oferecia a todos os seus associados. Ele teria que trabalhar com crianças de idades próximas dos seis aos nove anos. Isto era, sem dúvida, um novo desafio que a vida ter-lhe-ia dado.

O meu sorriso só crescia e crescia à medida que os meus olhos percorriam aquele papel cheio de tinta escura. Ele estava bem e feliz, agora só falta a minha vez. Apesar de todos os imprevistos, ele estava feliz. Não vejo a hora para poder estar de novo com ele, para poder abraça-lo e para preencher os seus lábios de beijos meus. A minha mente preenche-se com estas imagens e um longo suspiro escapa-me. Em breve estarei com ele. O meu ‘’em breve’’ pode não ser tão em breve para algumas pessoas. Eu estou a tentar dizer que, daqui a um ano, estaremos juntos outra vez.

Na verdade, não posso sair daqui sem atingir a maioridade e ainda falta um ano para isso.

Sim, um ano. Já tenho dezassete anos.

29 de Junho.

Um dia normal como os outros, foi passado na companhia da minha família. Apenas. No meio de tanta gente, sentia-me sozinha. Não tinha duas das pessoas importantes para mim. William e o meu pai. Nada foi bom o suficiente. Não posso pedir muito, mas só queria tê-los comigo naquele dia que muitos dizem ser especial. A verdade é que já deixei de dar importância aos aniversários. Para quê que eles servem? Para nos relembrar que estamos a envelhecer e que o nosso caminho, a partir daquele momento, será cada vez mais insuportável e cheio de dificuldades?

O meu sorriso morreu e o meu batimento cardíaco palpitou mais rápido assim que senti uma respiração junto do meu pescoço. Os músculos da minha mão contraíram-se e, num segundo, esmagaram o papel que seguravam, virando o meu corpo para a pessoa atrás de mim.

- Adriana. – Suspirei ao ver a rapariga alta de cabelos longos e lilases a fintar-me. Estou um tanto aliviada por ter sido ela a entrar no quarto e não outra pessoa. Exceto os meus avós. Eles não sabem ler.

- Victória. – Ela assente e o seu olhar desce até à minha mão que segurava o papel. – Isso é o que estou a pensar que é? – Interroga-me, apontando com um ar pesado e intimidante.

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