41. Estão em paz

87 9 1
                                    

Ela morreu, e sei que para ela não existia arrependimentos, escolhi as fotos que me pediu um dia em uma missão nos Emirados Árabes.
"Rubinho, caso eu morra quero que exiba fotos boas minhas e em momentos que eu esteja sorrindo ou sei lá bebendo.", eu ri e abracei-a "Ok, mas você não irá morrer."
Isso há dois anos atrás, que se passaram tão rápido, a vida é realmente surpreendente. Os começos e finais, oras felizes, ora tristes. O velório dela, estava repleto de agentes de outros países, nosso chefe, e alguns amigos próximos: eu, Kenner, Adrian e o Adalberto se recuperando, entretanto ali, Matheus tinha saído para tomar um café, eu não queria sair de perto do caixão negro feito como a noite, e de vestido... preto como foi seu desejo e o testamento que deixou.
  Tantas cartas codificadas, tantas coisas a serem resolvidas daqui para frente, o testamento dela, com tudo ali, para mim, como fosse seu irmão, isso me fez ficar mais triste.
  Eu segurava sua mão gélida, os óculos escuros, tampavam as olheiras abissais, mas se a tivesse visto morrer eu meus braços estaria mais deprimido com a situação. Adrian foi forte emocionalmente, não posso negar, só est calado sentado na cadeira com a cabeça escorada.
— Vou dar uma volta. — Adalberto resmungando de dor, após dizer isso e atravessa a multidão indo para fora.
Adrian veio até mim e me olhou de modo frio, alguns vergões e roxos eram visíveis em sua pele.
— O que tinha naqueles papéis, Rubens?
Isso me fez lembrar das coordenadas ou sei lá o que significa aqueles números, tirei só a parte da carta com os números e mostrei ao Adrian, ele de súbito entendeu.
— E isso, o que significa? Uma linguagem individual de vocês?
— Tem coisas que você não precisa saber.
— Preciso, Adrian. — falei entre os dentes. — Está no testamento como algo seu, mas ela me fez tutor de seus bens.
— Você vai saber um dia, não hoje e não agora. É coisa minha. — estalei a mandíbula e o olhei por cima do óculos.
— Espero que diga o que é.
Quando o caixão foi lacrado e sepultado, um turbilhão de lembranças vieram à tona, é mais duro que parece e não seria tão fácil enfrentar isso.
  Porém, a vida não para aí, e se encarregaria do resto, resolvi partir de Seattle, os outros foram para suas cidades, sei que não demoraria muito para nos reencontrarmos novamente.

Victor:
— Ele nos poupou. É difícil acreditar nisso.
— O jeitosinho, quis que pagassemos nossa dívida vivos, a gente vai apodrecer aqui ou morrer com uma injeção letal. — Júlio estava deitado na cama fria e dura de metal, olhando a luz fraca piscar no teto, ambos com os ombros enfaixados, um olho roxo, lesionados.
— Evelyn, matou à queridinha deles, você acha mesmo que o governo não dará pena de morte à ela? — o corredor que fica nossa sela é tão isolado e frio, que a iluminação piscante, o deixa mais sombrio.
— Eu não sei, não queria estar aqui! — ele falou exaltado. — Eu estava terminando minha faculdade, cara. Eu fiquei cego pela merda do dinheiro, meus pais estão decepcionados, saber que lutamos tanto para nem ganhar nada, viramos só mais uns nesse mar negro da internet.
— As coisas não acabam por aqui, primo. — Júlio, ergueu o olhar com um rosto aflito e de dúvida.
— O que quer dizer? — Abri um sorriso.
— Temos muito chão pela frente ou diria sistemas.
O semblante aflito, se dispersou dando espaço a um sorriso malicioso. Eu não irei desistir tão fácil, nem que leve anos para isso.

Invasão (Hacker)Onde histórias criam vida. Descubra agora