Capítulo 1

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Duas semanas depois...

Londres


Era o dia do meu casamento, mas diferente de como tinha sonhado. Tudo naquele dia estava errado, meu vestido de noiva estava errado, o dia estava errado e principalmente, o noivo estava errado ou melhor, a noiva. Meus sonhos de menina, era ter um casamento como os dos meus pais, eles dois se amavam e sempre pensei que casaria com Rafael, apesar de nosso noivado ter sido uma união entre famílias que se admiravam muito, eu acabei me apaixonando por Rafael ao longo dos anos, ele foi ganhando espaço em meu coração e no final sentia que poderia amá-lo, depois de casados.

O duque de Richmond, agora meu atual noivo, fez questão de deixar bem claro a minha família, que só estava fazendo isso porque ele também era culpado, e se sentia na obrigação de fazer algo a respeito pela situação em que nos encontrávamos. Depois disso eu não o vi mais, recebi o anel de noivado das mãos de minha mãe, já que havia deixado bem claro a minha mãe que não via necessidade de uma festa de noivado, o que pra ela foi uma notícia horrível.

Eu não conseguia nem sair do quarto, eu não via motivos para estar fora de casa e não sentia vontade de ver ninguém. Uma semana depois do ocorrido na estufa recebi uma carta de Isabela. Na carta ela deixava bem claro que nossa amizade estava acabada para sempre, me culpava por ter que casar com um homem que ela não conhecia, dizia que eu estava roubando a única chance de ela ser feliz, jogou toda a culpa em cima de mim e em nenhum momento perguntou se eu estava bem. As palavras de Isabela só me deixaram mais depressiva e senti ainda mais culpada.

De meu noivo Rafael se é que poderia ainda considerá-lo como noivo, tudo o que recebi foi o silêncio, e apesar de gostar muito de Isabela e de sentir toda sua dor, o que mais me angustiava era saber que Rafael não fez nada pra impedir essa loucura. Eu esperava alguma atitude dele, qualquer coisa que me desse esperanças de sair daquele pesadelo, eu só queria acordar.

Em duas semanas eu já tinha aceitado minha situação e apesar de algo está entalado dentro de mim, eu não conseguia externalizar meus medos e minhas dúvidas. O que seria de mim? O que aconteceria daqui pra frente?

Minha mãe só falava do casamento e esquecia completamente que eu não me sentia confortável participando dos detalhes do casamento, a todo momento em que ela me perguntava se eu gostava de algo, eu queria gritar, porém me mantive calada, simplesmente concordei com tudo o que ela me perguntava. Meu pai não falou mais comigo, passava seus dias trancados na biblioteca, percebi que ele estava chateado com tudo e talvez se sentisse culpado sobre tudo o que estava acontecendo. Meu irmão sumiu de casa dois dias depois que o Duque veio aqui em casa pedir minha mão, voltou ontem de manhã e não me dirigiu uma palavra de conforto e se trancou em seu quarto o dia inteiro. O único membro da minha família que me escutava era minha irmã mais nova Emilly, mas essa não contava, tinha apenas sete anos de idade e estava feliz por ver um casamento de perto.

Agora estava em meu quarto esperando minha criada de quarto Julia, terminar os últimos detalhes de meu penteado, já não havia mais volta, eu estava prestes a me casar.

— Terminei senhorita! — Minha criada de quarto me olha pelo espelho.

— Obrigada, Julia. — Me levantei da penteadeira e dei uma última olhada em meu quarto, todas as minhas coisas estavam em alguns baús próximo a porta, eu sentiria muita saudades do conforto que meu quarto me transmitia.

Senti uma vontade desesperada de chorar, como se chorando agora fosse de alguma forma encerrar meu sofrimento.

Por último olhei meu reflexo no espelho, eu nunca fui bonita como Isabela,que era a perfeita flor inglesa, magra e de beleza quase angelical, seus olhos azuis e cabelos loiros como um fio de ouro, diferente dela eu era morena, tinha um cabelo castanho muito escuro e fios muito grossos, meus olhos eram extremamente castanhos escuros e pra completar eu ainda era um pouco gordinha, mal havia completado 17 anos, e fazia pouco tempo que fui apresentada a sociedade, todos me consideravam muito simples, e por isso não recebia muita atenção masculina, mas eu não me importava.

Eu usava um vestido de noiva horrível, pro meu tipo físico, a moda nunca me favoreceu e agora não seria diferente pelo que eu vi no espelho, a roupa me deixava mais gorda ainda do que eu já era, o vestido na cor branco pérola, tinha um corte reto no busto com um decote muito modesto e a saia muito armadas, descia em várias camadas de babados até o chão, eu estava parecendo um bolo enorme e grotesco, finalizei meus pensamentos com uma careta.

Agora que toda a dormência em meus sentidos, havia me deixado eu estava querendo chorar, tudo o que não chorei durante aquelas duas semanas. Escutei passos vindos do corredor.

— Vamos Laura! — Minha mãe apareceu na porta com um vestido da cor lavanda.

— Coloque um sorriso nos lábios, você a partir de hoje será uma duquesa! — Minha mãe pega em minha mãe e me puxa pra fora do quarto, eu sei que ela falou isso pra me animar, porém teve um efeito contrário dentro de mim.

Meu pai nos esperava dentro da carruagem, assim que entrei ele se limitou a me olhar e afirmar de forma positiva pra minha mãe. O percurso foi rápido, eu nunca havia percebido que moramos tão perto da catedral de St. Paul. A carruagem parou em frente a igreja, meu pai foi o primeiro a descer e ajudou eu e minha mãe a descer do veículo, minha mãe virou em minha direção e falou:

— Filha, sei que você não queria este casamento, mas como as coisas aconteceram dessa maneira... — Minha mãe não teve tempo de terminar o que me diria.

Marcus meu irmão desceu as escadas rapidamente e me abraçou fortemente, interrompendo seu momento comigo.

— Sei que deveria ter feito as coisas de outra forma Laura, sinto muito. — ele sussurrou em meu ouvido, parecia me contar um segredo. Ele deixa de me abraçar, olhei em seus olhos e vi que ele tinha me perdoado e compreendi que meu irmão, sempre estaria a meu lado.

— Tudo bem, Marcus. — falei isso mais pra me tranquilizar do pra ele.

— Vamos! Não quero ficar o dia inteiro em frente a uma igreja! — Meu pai pegou meu braço e me arrastou pra dentro da igreja.

Todos nós observavam, e acho que não passou despercebido pra ninguém ali dentro, que o noivo parecia a ponto de cometer um assassinato.

Meus passos vacilaram por frações de segundos, quando meus olhos se encontraram com os olhos do duque, eu queria correr porta a fora e nunca mais voltar ou então me ajoelhar em frente ao meu pai e implorar que ele não fizesse isso comigo. Eu não tinha percebido que meu noivo era tão assustador, olhando pra ele enquanto eu andava para dentro da catedral, percebi ele tinha uma aura de arrogancia e poder, sua presença de alguma maneira enchia todo o espaço, eu tinha de admitir que ele era uma homem bonito de uma forma muito conservadora, que era o tipo de homem que não aceita ser questionado. E eu não gostava disso.

Cheguei ao lado do noivo e meu pai entregou minha mão a ele, depois que a última pessoa de minha família me deixou ali no altar, todo o casamento se passou como se estivesse outra de mim no meu lugar. Passei toda a cerimônia sem prestar a atenção em nada, não lembro quando foi que padre perguntou se aceitava esse casamento ou como respondi.

Tudo o que lembro foi que ao final de tudo, quando já estava fora da catedral eu a vi, Isabela, ela nos olhava do outro lado da rua e acho que meu noivo também a viu porque ele apertou minha mão até meus ossos doerem, mas não disse nada, se limitou apenas me ajudar a entrar dentro carruagem. Fiquei observando seu semblante durante um momento ali dentro, mas não vi nada. Nosso casamento não teve uma recepção grandiosa só alguns familiares e amigos mais íntimos, foi tudo muito rápido. Partiríamos no mesmo dia para o interior da Inglaterra, onde eu não sabia, mas também não perguntei.

A verdade é que não fazia diferença pra mim.

Escândalos A Meia NoiteOnde histórias criam vida. Descubra agora