Eu prefiro a noite, porque é na noite que a gente não tem medo de cantar alto, nem de encantar. Durante o dia é tanta luz que a gente parece não poder brilhar, mas a noite permite que a gente se permita e brilhe e pule na tentativa de alcançar estrelas. É na noite que somos puramente humanos, puramente carne, puramente amor. E tudo é puro porque vem do íntimo e ninguém quer mais esconder o que traz por dentro. Eu prefiro a noite porque é nela que a gente se ama e o mundo é só nós dois, porque na noite cada um cuida de si e não se interessa pelas banalidades da vida do outro. Porque na noite uma fina energia une todo mundo e te faz sorrir de volta ao ver um estranho sorrir. É na noite que a gente reflete sobre a vida, aliás, é só à noite que existe vida, é só na noite que a gente vive inteiramente, completamente, insanamente, extremamente, intermitentemente. É na noite que eu te sinto na pele, no peito, na alma. É na noite que a gente não mente, que a gente fala sem pensar aquilo que a gente pensa, é na noite que eu, sempre minha, sou tua, e você, sempre do mundo, é meu. E é só na noite que esse possuir preenche e conforta, o possuir que de dia só sufoca e que a gente não quer. O nosso amor só dá certo à luz do luar, no pulsar das estrelas, nos acordes da canção. Na noite a gente pode ser o tudo um do outro sem namorar, sem casar, sem ter filho, sem contar pra ninguém, mas sem se esconder. É na noite que a liberdade não ofende, que o riso alto não constrange, que as loucuras são expressões cotidianas de almas incansáveis. É na noite que a inspiração vem sem pedir licença e a arte nos atinge como um soco. É na noite que eu me encontro, é à noite que eu pertenço, é a noite que eu amo e a minha boemia é mostrar que eu vim mesmo é para amar.