Único: O gato cleptomaníaco

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Sábado, 10h48 - celeiro da cidade de Hogwarts, Inglaterra.

Havia uma mosca no celeiro.

Camuflado em meio às demais manchas no forro de madeira, o pontinho preto passara despercebido a princípio. E a um observador míope qualquer, talvez assim permanecesse. James, no entanto, era hiperativo e estava entediado, o que o levara a encarar o teto por tempo suficiente para notar que um dos borrões estava se mexendo.

Quando implorara à sua agente por uma pausa na carreira, James esperava apenas que Mcgonagall encontrasse alguma brecha em seu contrato que lhe permitisse passar o próximo semestre viajando pelo mundo. Em nenhum momento ele imaginara que seu pedido acabaria levando-o a passar uma temporada no lugarzinho mais monótono da face do planeta terra.

— Honestamente, Dumbledore. - Alguém dizia. James havia deixado de prestar atenção cerca de três minutos depois de chegar. Era apenas a segunda vez que presenciava uma das reuniões quinzenais dos moradores de Hogwarts, mas já descobrira ser humanamente impossível (ao menos para qualquer pessoa sã) continuar acompanhando as discussões por mais tempo do que isso. - A situação está insustentável!

A escolha do vilarejo de pouco mais de três mil habitantes como destino resultara de uma sugestão da própria Mcgonagall, que vivera ali em sua juventude. Talvez isso justificasse o sorriso descrente que ela ostentara ao finalizar sua reserva no Quiddich Inn, uma das únicas pousadas existentes em toda Hogwarts.

É paz e tranquilidade que você vai ter, Potter, nada de festas, luxo e agitação. Você tem certeza de que quer férias?

A oferta soara tentadora demais para ser recusada e James não se dera ao trabalho de ler as entrelinhas. A exaustão havia atingido um nível crítico e ele sentia que caso não conseguisse um tempo afastado da rotina de composição-gravação-divulgação-turnê, acabaria colocando tudo a perder em um colapso mental.

E James precisava admitir que o primeiro final de semana fora como a realização de um sonho. Ele não se lembrava da última vez em que pudera se dar ao luxo de passar o dia todo de pijama, comendo porcarias enquanto maratonava alguma série com Sirius na almofada ao lado. Sair para fazer algo simples como sentar em um banco e observar o movimento, sem ser assediado por um punhado de paparazzi, então? Céus, fazia muito tempo.

O único inconveniente agora era o receio de voltar a Londres para então descobrir que todo o seu espírito criativo fora consumido pelo tédio existencial. Sua carreira talvez nunca se recuperasse. Seus fãs certamente não iriam.

— Aquele animal insiste em arruinar a minha coleção de cactos! - Outra pessoa protestou, soando bastante indignada.

— Eu juro que se mais uma das minhas tabelas periódicas sumir, vou abrir um boletim de ocorrência.

James ergueu os olhos e cerrou os lábios para não rir. A queixa de Severus Snape, um rapaz de oleosos cabelos escuros e sem qualquer senso de humor, combinava bastante com a sua aparência.

— Não acho que seja para tanto, Severus. - Albus Dumbledore, o presidente do conselho de moradores, respondeu. - Você, a senhorita Lestrange e Lucius Malfoy levantaram uma questão importante, mas se não me engano, nós já discutimos esse assunto na penúltima reunião.

— Isso foi antes. - O último citado protestou. - Quando fizemos aquela votação, não sabíamos que estávamos concordando em abrigar um meliante!

— Os senhores estavam cientes das histórias. - Dumbledore argumentou com paciência, ajeitando os óculos que teimavam em escorregar por sobre o nariz fino. - E se eu me lembro bem, Malfoy, o senhor se mostrou bastante favorável quando descobriu o quanto a economia de Hogwarts poderia crescer.

K l e p t o C a tWhere stories live. Discover now