O Príncipe e Princesa selaram seus destinos e os propósitos de seus pais, que nada mais buscavam nesta união senão a unificação de seus reinos e a sanação de uma crise e dos resquícios de conflitos anteriores. Entretanto, aquele noivado não passava de um jogo político, eles não compartilhavam uma relação ou conexão amorosa.
Enfim chegou o dia marcado para a cerimônia, seria realizada na catedral do reino da Princesa. Desde os nobres mais engalanados aos camponeses andrajosos de ambos os reinos compareceram para assistir ao casamento, que só poderia acontecer mediante a presença dela; somente o Príncipe chegou à igreja.Já impaciente, ele dirigiu-se ao castelo onde encontrou-a em um dos espaçosos aposentos, deitada sobre sua cama. Ela acariciava um pequeno relevo que situava-se na região da barriga. Contou que, ainda noiva, manteve um relacionamento amoroso com um camponês em segredo e que não tardou a descobrir uma gravidez. Teve que recorrer a um espartilho apertadíssimo.
Não, ele não era o pai daquela criança, podia afirmar com veemência.Ele sabia muito bem que não fora responsável por aquilo, porque ele escondia sua esterilidade que seu pai revelou-lhe. Ele já não se importava com este fato, queria descobrir quem manteve um caso com sua mulher. Praguejou-a furioso e chamou os guardas para que a levassem junto com todos os homens não nobres do reino à praça. Mandou, também, que montassem uma guilhotina lá, e assim fizeram.
Os plebeus fizeram uma fila em frente à guilhotina, apenas aguardando que a morte os arrebatassem. O Príncipe indagou quem havia se relacionado com ela. Como de início os homens não disseram nada, começaram a ser levados à guilhotina. Um a um eram interrogados. No entanto, quatro não puderam prosseguir com suas vidas.
A lâmina despencava sobre as cabeças, mergulhada em sangue, rangendo horrivelmente, empurrando aquelas cabeças para dentro de um cesto. Quatro pessoas privadas do privilégio que é a vida.... O Príncipe retorceu-se em ódio; em busca de respostas, fincou uma estaca no chão, onde amarrou a Princesa e depois pôs pilhas de madeira sob os pés dela.
Depois, derramou um balde cheio de óleo de lamparina nela, e começou a urrar.— P-po-por favor, meu Rei, não cometa tal ato bárbaro... — ela clamou, enquanto lágrimas rolavam pelo rosto.
— Não és digna de perdão, herege! — disse ele. — Que Deus a perdoe. Mas isso, talvez, nunca aconteça, porque você já estará ardendo no fogo do Inferno!O crepitar do fogo da tocha na mão dele não era tão alto quanto os gritos sufocados dela, que debatia-se na tentativa de fuga.
— Perdoe-me, pense em nosso filho!
— Ele não é nosso filho!
— Ó, Pai Eterno, ajudai-me em momento tão infortúnio...
— Recorrer a Ele não lhe será útil. Doravante, pois, eu sou Deus!E ateou o fogo à madeira que logo foi consumida por ele. Logo a chama chegaria à Princesa e a destruiria no fogo.
No entanto, o plebeu que seria decapitado chamou a atenção do Príncipe, e o Príncipe assombrou-se ao reconhecer seu irmão que estava a um fio de morrer.
— Mas como!? Você veio morar aqui, verme traidor?!
— Olá, meu digníssimo irmão. Não queimes à sua mulher, isso não será necessário.
— Cale a boca. Jamais será algo senão um traidor, roubou o tesouro da família, por isso foi exilado e abstido da realeza!
— Você não disse que era irmão dele! — gritou a Princesa, que se encolhia para não encostar no fogo.Todos exclamaram, surpresos, ao ouvir aquelas palavras. Assim houve a desunião novamente entre os reinos. Certamente um momento inoportuno para consumar rivalidades, pois aqueles reinos foram atacados por reinos distantes e, portanto, foram reduzidos a destroços e cinzas.
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A Princesa, o Príncipe e o Plebeu
Short StoryO risco de destruição das famílias reais leva a um acordo: os primogênitos de cada um dos dois reinos devem se casar e formar uma única casa real. No entanto, o comportamento de ambos parceiros pode levar à turbulência e à destruição iminente.