Capítulo 15

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Quatro anos depois

A estrutura montada diante da capela da Jequitibá Rei foi planejada para abrigar não só os trabalhadores de lá e suas famílias, mas também os familiares dos noivos e seus amigos. Demorou quase cinco anos, mas finalmente o casamento de Enrique Alcântara Leal e Roberto de Castro Lopes Neto estava ocorrendo. Um evento que era festejado não só por celebrar o amor dos dois, mas também porque, embora em tempos mais tolerantes, ainda era um marco uma cerimônia homossexual ser realizada numa fazenda com dois séculos de existência. Até poderia ter ocorrido mais cedo, mas Robertinho fez questão de só dar esse passo depois de sua formatura como engenheiro agrícola, para mostrar que manteria sua independência.

O primeiro a se dirigir para o altar foi Enrique, vestido com um terno branco e uma rosa na lapela, de braços dados com a irmã, e depois Robertinho, usando uma roupa idêntica e de braços dados com a mãe. Quando os dois se posicionaram diante de padre Ernesto, ela foi fazer companhia ao marido, enquanto na lateral oposta Lívia se encontrou com o marido e o pai. Nas primeiras fileiras distribuíam-se os padrinhos, destacando-se Roberto com Sérgio e Vinícius com Rui. Com efeito, os esforços do capataz e do coronel consolidaram o envolvimento deles como uma história de amor sólida, a ponto de Vinícius ter deixado de dormir na fazenda e enfrentado viagens quase diárias para o apartamento de Rui, só pernoitando na fazenda quando sua presença era imprescindível. O coronel bem que tentou convencê-lo a deixar seu emprego e aceitar sua ajuda para conseguir algo numa empresa de contabilidade do Rio, mas ele se recusou, dizendo que sempre gostou de trabalhar na fazenda e não trocaria isso por nada. Além disso, onde ele poderia encontrar patrões tão compreensivos como Enrique e Robertinho, este último sempre disposto a dividir responsabilidades com ele quando precisava sair mais cedo ou mesmo faltar por causa de alguma coisa relacionada com o parceiro? Isso exasperava um pouco o ex-garanhão, mas como não havia nada que ele não fizesse pelo seu caipira matinha bem seguros seus instintos controladores.

Quando o casal se posicionou ajoelhado diante dele, padre Ernesto proferiu um pequeno discurso:

– Essa cerimônia é muito especial para mim, e por várias razões. Não só porque ela me lembra outra que celebrei há aproximadamente 25 anos, Robertinho, e o quanto o mundo mudou desde então, – ninguém precisava ser esclarecido de que ele se referia ao casamento de Roberto e Sérgio, celebrado quase às escondidas no quarto de hospital em que o segundo se recuperava de um ferimento que recebera ao salvar o marido de um atentado – mas também porque endosso seu compromisso com meu sobrinho Enrique. Quando eu o enviei para cá, ambos eram pessoas infelizes, mas providencialmente encontraram um no outro o amor de que necessitavam para seguir adiante e serem pessoas melhores. E foi um amor tão grande que acabou transformando a vida de outras pessoas ligadas a vocês. Não tenho dúvidas de que vocês saberão cuidar desse amor que agora assume outro patamar, e tenho certeza, meu sobrinho, de que sua mãe está orgulhosa. - e com efeito, a mãe dele se fazia simbolicamente presente pela sua imagem de Nossa Senhora da Conceição, que adornava a cerimônia numa mesinha.

Em seguida, perguntou-lhe:

– Enrique Alcântara Leal, você aceita Roberto de Castro Lopes Neto como seu esposo, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, prometendo-lhe amá-lo e respeitá-lo todos os dias de sua vida?

– Aceito. Robertinho, antes de você surgir aqui eu era amargurado e não me lembrava mais como era viver plenamente, mas você me devolveu a alegria e o gosto pela vida. Agradeço por você ter aceitado partilhar a sua comigo, e espero que ainda vivamos muitas coisas juntos. - disse o fazendeiro encarando o amado.

– Roberto de Castro Lopes Neto, você aceita Enrique Alcântara Leal como seu esposo, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, prometendo-lhe amá-lo e respeitá-lo todos os dias de sua vida? - repetiu a pergunta, agora para o rapaz.

A fazenda dos amantesOnde histórias criam vida. Descubra agora