Neytinho - Voltando para casa.

Don't you worry

          O sonho acabara. A seleção belga comemorando contrastava com o time brasileiro, absolutamente, devastado. Alisson abraçava o adorável Gabriel Jesus que substituíra a característica feição alegre por lágrimas sôfregas. O sorriso de Firmino não mais ofuscava a visão dos adversários, mas, lidando com a própria dor internamente, foi acalmar Fernandinho que sentia-se corroer de dentro para fora com a culpa de ter feito um gol a favor da Bélgica.
      Apesar da desolação de toda a seleção, nada doía mais que a situação inconsolável na qual Coutinho se encontrava. Era de praxe que o drama final fosse feito por Neymar, mas o próprio estava estático olhando o outro sentado no gramado. O doce menino, que conquistara tantos corações em tão pouco tempo, chorava aos montes e cada lágrima partia mais e mais o coração de seus amigos de time. O peito do jovem parecia estar prestes a explodir de tão apertado e a cabeça doía a cada falha que lembrava ter cometido. Philippe sentiu-se derrotado, decepcionara milhões de brasileiros, mas principalmente, decepcionara o menino Ney. O hexa era nosso. Era.
       A atenção foi direcionada a Neymar, que tinha explícito na face que queria pegar o amigo nos braços e fazê-lo esquecer de tudo, ele não precisava se sentir assim, ele não merecia se sentir assim, era um excelente jogador que apenas não foi capaz de mostrar todo o seu potencial. Neymar vai até o menino e estende a mão para que ele se levante, solta assim que o outro o faz e então todos se põem a andar para fora do campo.
       O vestiário estava agitado apesar do clima tenso. Os jogadores precisavam guardar suas coisas e voltar para o hotel onde ficariam até que a questão do retorno para o Brasil fosse resolvida. Tite entrou no local, mas não proferiu muitas palavras, apenas os instruiu de que precisavam entrar no ônibus o mais rápido possível. GJ pegou Neymar pela camisa assim que este ameaçou sair já com a mala esportiva feita.
       - Você precisa conversar com ele Ney. O que diabos há com você? - Jesus soltou a camisa do outro porém mantinha os movimentos impassíveis.
       - Paciência Gabs, tenho planejado algo. - confessou o de olhos verdes partindo para o ônibus.
       Dentro do veículo o clima era outro, os jogadores estavam mais animados. Já era costume brasileiro não se abalar por muito tempo. Eles caçoavam dos outros times, e conversavam bastante. Todos com exceção de Coutinho que permanecia numa mágoa profunda. Augusto sentou-se ao seu lado para fazer-lhe graças a fim de que o jovem se animasse, mas todas as piadinhas foram em vão. Augusto foi tirado por um puxão de orelha vindo de Neymar que recusou sentar-se em outro lugar que não fosse do lado de seu menino.
       - Você tá bem? - perguntou ao companheiro que virou o rosto fez um movimento com a cabeça e voltou a mirar a janela. Como esperado, a cara dele não estava nada boa. Neymar pegou na mão de Philippe, que não retribuiu, porém não afastou o toque e assim se passaram os minutos até que o famigerado busão chegasse ao luxuoso hotel onde foram hospedados. Cada jogador entrou no seu quarto com o seu devido parceiro. Muitos optaram por tomar banho e descansar, outros foram explorar partes que não conheceram no grande prédio, afinal não estavam certos de quanto mais tempo passariam ali. Neymar e Coutinho se dirigiram ao seu quarto e Philippe nem esperou para adentrar o banheiro e chorar as poucas lágrimas que lhe restaram.
       Tortuosos minutos se passaram, Neymar aproveitou para usar o banheiro de GJ que estava desocupado e ao voltar para o quarto captou Lirou Couto saindo do banheiro com apenas uma Boxer cobrindo sua nudez. Ele parecia um pouco melhor, mas ainda assim muito cansado.
       Neymar sentou-se na cama e convidou o outro a sentar ao seu lado, Coutinho fez menção de ir até a mala pegar algo para vestir, mas Ney segurou-o pelo braço o puxando para a cama. Vencido o camisa 11 sentou-se e olhou nos olhos do craque pela primeira vez desde o jogo. Coutinho abraçou o outro soltando um suspiro pesado, era quase possível sentir toda a pressão só com aquela lufada de ar.
       - Como você está, amor? - "amor" pensou Philippe sentindo os olhos marejarem novamente, provavelmente ele se desidrataria se chorasse mais uma vez.
       - Me desculpa. A bola estava no meu pé e a rede na minha frente. Eu podia ter mudado esse jogo. Por favor me desculpa. - pedia desesperado.
       - Não há o que ser desculpado, você foi ótimo e o nervosismo é justificável, essa é sua primeira copa, nunca se está preparado para toda a pressão. E o Tite pegou muito pesado com você, eu ouvi o que houve no vestiário. - a última parte fazia referência a um dos jogos anteriores no qual Tite abordara Coutinho sozinho no vestiário. Philippe tinha um potencial notável que já era divulgado e discutido por muitos, seu desempenho nos primeiros jogos fora formidável e por isso o ténico brasileiro pôs expectativas altíssimas neste, que acabou por não dar o melhor de si devido ao nervosismo e medo do fracasso. Tite não gostou disso e desferiu insultos cruéis e injustos no meia. Philippe estava lá para fazer o que ama, jogar futebol, não sofrer abusos psicológicos.
       - E como seremos recebidos quando voltarmos? - o olhar do meia revelava medo.
       - Acredito que com expressões de decepção e xingos, mas também com aplausos, elogios e memes. Você sabe como é o Brasil, eles não vão desistir de nós. Pelo menos não de nós dois. - o camisa 10 levantou uma sobrancelha o que fez o companheiro rir.
       Júnior sentiu duas mãos envolverem seu rosto e antes que pudesse reagir, teve seus lábios tomados por Philippe. O jovem beijava muito bem. Eram aqueles beijos quentes e carinhosos de tirar o fôlego. Ney segurou a cintura do outro com certa possessividade e o puxou para cima. As mãos do outro moreno desceram para o peito do camisa 10 o empurrando até a cabeceira da cama. Este, por sua vez, puxou novamente Philippe trazendo-o para o seu colo. Os beijos logo passaram a ser mais fervorosos e necessitados. Aquele momento era tão quente, que se dissessem a alguém que Coutinho chorava desesperadamente minutos atrás, de certo, a pessoa não acreditaria.