Capítulo 1

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- Trisha! Ainda não estás a pé? Tens afazeres, e tu sabes disso. – Alysha, minha tutora, entrou de rompante no quarto, repreendendo-me.

Apesar de estar a falar normalmente, por não podermos gritar, Pantuf, o meu cão, saiu da cama abandonando-me.

- Tive outra vez aquele sonho estranho. Isto já perdura há um mês. Começo a achar que é uma revelação. E o colar… eu não sei onde, mas já o vi.

Alishya sentou-se na berma da cama, soltando um longo suspiro.

- Acho que devias contar a alguém. Principalmente se for uma revelação. Noulsha, ajudar-te-á, pronta e sabiamente.

- Eu sei, dizes-me isso todos os dias. Mas…

- Não há mas.- interrompeu Alishya - Pedir ajuda não tem mal nenhum, todos compreenderão. Não é vergonha. Ainda para mais, tu és nova no cargo.

- Achas mesmo que devia contar a alguém?

- Sim. Nem que for só a Noulsha. Mas agora banha e veste-te. Keyla Naysha, convidou-te para partilharmos com sua família, a refeição do raiar.

- O quê? – gritei, o que mais tarde poderia transforma-se num grande problema.

- Exatamente – confirmou ela, assim que viu o meu olhar surpreso – Keyla Naysha, quer tomar o pequeno-almoço contigo. Ao qual estás atrasada.

Levantei da cama num pulo. Não podia acreditar que ia encontrar-me com uma Keyla. Ainda era tão recente a minha promoção a Shayikeli, que por vezes me esquecia. Banhei-me na comprida e elegante banheira, de mármore e vesti um vestido bege. Penteei o meu longo e castanho cabelo, e por fim, atei a minha capa branca ao pescoço.

Atrás de Alishya, saí silenciosamente para o amplo templo onde vivia, dirigindo-nos para a cantina.

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- Muito obrigada pela vossa comparência – agradeceu-nos Naysha.

- Ora essa Keyla, nós é que estamos muito gratas pelo seu generoso convite. – guinchei

- Trisha – repreendeu-me Alishya, pelo meu comportamento infantil.

- Ora essa, Alishya. É apenas uma adolescente. Vamos? – sugeriu-nos a grandiosa Keyla.

Boquiabertas, Keyla Naysha conduziu-nos  por um corredor que parecia não ter fim. Mas não me importei. Era tão bonito. Em tons bege, amarelo e branco, as paredes estavam preenchidas com retratos das anteriores Keylas. Apenas uma não reconheci. O que reconheci, foi o colar que trazia ao pescoço.

- Quem é? – perguntei, ainda de olhar fixo no belo retrato

- É a minha falecida mãe – respondeu-me Naysha

- Lamento. Mas o que é feito do colar?

- Creio que tenha sido cremada com ele.

A minha decepção deve ter sido notória, visto que a Keyla me perguntou o porquê da minha expressão, com olhos sedentos de curiosidade. Ocultei a verdade, afirmando apenas que era um colar demasiado bonito, para ter tido um fim assim.

Depois, continuamos o percurso pelo enorme corredor, iluminado por tochas, até chegarmos a uma sala, sem porta. Dentro da mesma, era visível uma mesa enorme, deduzi que estivéssemos na famosa sala das refeições.

Sem esconder a minha curiosidade, entrei até primeiro que a Keyla, o que seria considerado um total desrespeito, no entanto, esta apenas se riu. O que não foi o caso de Alishya, que me lançou um olhar matador.

- Uau! Lindo! – elogiei, ignorando a repreensão da minha tutora.

- Muito obrigada, mas creio que o mérito não seja meu. Esta sala, foi decorada há muitos anos, pela Keyla Meshya. Precisamente há 50 anos. – esclareceu Naysha.

Acompanhei o seu discurso enquanto que os meus olhos curiosos percorriam a enorme sala. No centro, encontrava-se a enorme mesa, que daria para mais de 50 pessoas. A mesa era tão trabalhada, e a sua madeira parecia cara, com ornamentos de ouro. 

No entanto, não foi o que mas me impressionou. O que mais me cativou, foram as fotografias dispostas nas paredes vermelhas. Fotografias da atual família real. A rainha ou Keyla, Naysha, o rei Kirk, e as suas três filhas: Anysha, a primogénita, e as gémeas Narysha e Nalysha.

- Parece tudo tão novo! Parece que mesmo até os pequenos detalhes pedem pela nossa atenção.

- Boa observação! Sim, de todas as salas, esta é a minha preferida. E a mais bela de todas, penso.

- Não, não é. – disse uma voz intrusa -  A sala mais bonita, a mais bela, é a sala do memorial. Onde se encontram os restos mortais daqueles que um dia foram importantes. Ali sim, parece que tudo pede atenção. Parece que, mesmo que mortos, os membros da realeza, ainda disputam por atenção. É deveras interessante de se ver.

Anysha, a filha primogénita da Keyla, percorreu o enorme salão, saindo de um sítio não iluminado pelas tochas. A forma como falara sobre aquela sala, parecia demonstrar ódio, raiva. Mas o sorriso caloroso, ainda que falso, que surgiu no seu pálido rosto, logo fez com que as suas cruas palavras fossem esquecidas. Não foi só no seu sorriso falso que notei. Enfeitando o seu esguio pescoço, um colar de corrente prata, com uma rosa vermelha envidraçada, balançava à medida dos seus passos.

As guardiãs dos 7 sharkasOnde histórias criam vida. Descubra agora