i miss when

445 51 25
                                    

eu sinto sua falta.

sinto sua falta e sinto falta dos seus olhos, da sua respiração pesada contra meu pescoço sempre que você fugia do trabalho pra dormir comigo. você odiava seu trabalho, e eu amava o fato de você sempre escapar do seu único sustento para me ver. sinto falta até das vezes que você pulou a minha janela as quatro da madrugada com a desculpa de que não conseguia pregar os olhos e precisava me ver. e então você se deitava, com os braços fortes ao redor da minha cintura e os lábios no meu pescoço, marcando cada pedaço de pele que você sabia que era seu.

sinto falta das nossas discussões idiotas sobre o que colocar no macarrão, que algumas vezes era a única coisa que nós tínhamos na dispensa. o aviso de despejo continuava do lado de fora da porta e eu amava como você o arrancava sempre que chegava aqui, fugindo do seu trabalho, rasgando o papel antes de rasgar minhas roupas.

sinto falta dos seus lábios nos meus e da sua língua invadindo meu oceano e me fazendo arfar contra sua boca, das suas mãos precisas e que já sabiam cada caminho do meu corpo. sinto falta de como elas me agarravam e me empurravam na cama naqueles dias em que você chegava estressado e dizia que precisava foder.

sinto falta de como seus dentes mordiam minha pele e a deixava vermelha com seu nome quase grifado ali. de como você tinha uma força tão maior que a minha que me prendia abaixo de seu corpo e metia em mim como um selvagem. e porra, como eu amava quando você era assim.

como eu amava quando você contraia os músculos das costas sempre que minhas unhas curtas corriam por sua pele deixando linhas avermelhadas dessa vez grifadas com o meu nome. eu sinto falta da forma como a cabeceira da cama esmurrava a parede sempre que você metia com um pouco mais de força, freneticamente, suando comigo de uma forma intensa que parecíamos quase necessariamente banhados em prazer.

e eu amava como você gozava dentro de mim e gemia daquela forma no meu ouvido, repetindo um milhão de vezes que amava o seu garoto e que ninguém nunca iria me tocar de novo além de você.

eu sinto falta de como eu sorria ao ouvir isso e investia contra ti as únicas forças restantes das minhas pernas bambas e tomava fôlego pra cavalgar em você por mais algumas horas até que amanhecesse. nós nunca nos importamos.

sinto falta dos dias que nos sentávamos no chão da sala com uma caixa de pizza e algumas cervejas e ouvíamos toda a nossa playlist indie de novo e de novo, conversando sobre como um dia seríamos ricos o suficiente pra nos casarmos na praia ao som de arctic monkeys e como iríamos foder pra caralho na noite de núpcias com sweather weather tocando no fundo.

porra, eu sinto tanta falta de tudo.

e principalmente, eu sinto sua falta. eu sinto raiva quando me lembro do quanto chorei quando você teve que ir embora. por que eu estava totalmente sem dinheiro, com o aluguel atrasado e com o último pacote de macarrão no armário, e você teria que ir embora por que sua idade lhe obrigava.

eu sei o quanto gritei quando você saiu pela porta dentro daquela porra de uniforme e seguiu, depois de me beijar até perdermos o fôlego e prometeu voltar a tempo para que cuidasse de mim.

e eu estava tão dependente da sua presença que nem percebi quando o álcool tinha tomado conta de tudo que eu era, e eu já não tinha esperanças de que você voltaria.

por que você estava numa guerra de verdade, com armas de verdade e problemas de verdade. e eu sentia como se meu aluguel atrasado e a falta de emprego se tornassem insignificantes. você me escrevia nos primeiros meses mas depois que você foi pra guerra, as cartas nunca mais vieram.

e eu chorava todos os dias por que sabia que você não iria voltar. por que já faziam sete anos desde que você tinha ido embora e o noticiário havia me confirmado de que a guerra havia acabado e que os soldados voltaram pra casa.

mas você foi, porra, você foi, mesmo que eu tivesse implorado pra que nós dois fugissemos das regras e que se fosse preciso morreriamos juntos.

mas mesmo assim você foi, por que a merda da sua honestidade não te deixaria viver.

você foi, depois de me abraçar e sussurrar no meu ouvido que me amava pra caralho.

você foi.

o problema disso tudo é que você nunca mais voltou pra mim.

come back home ⸙ vkookOnde histórias criam vida. Descubra agora