Capítulo Único: O mistério que cercam as lendas.

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O F I R

# P R O J E C A 1 0



Música Sugerida: My Name - Second Moon feat. Han ah Reum.



Joseon, 1589, Heupgok–hyun, Gangwan–do

        A lua lançava raios prateados sobre o lençol escuro formado pelas águas do mar, enegrecidas pela iluminação parca da noite. O vento soprava suavemente naquela noite quente, causando ondulações no oceano que cintilavam no movimento constante que ia e vinha, causando elevações que aumentavam gradativamente e se desvaneciam ao beijar a areia clara da praia. Como ele havia removido os sapatos assim que chegara ali, permitiu que o líquido frio, ainda a borbulhar os últimos suspiros das ondas que outrora formaram, molhasse seus dedos, afundando–os no solo arenoso e Kyungsoo deixou escapar um gemido de prazer, fechando os olhos e sentindo o sopro fresco e noturno bater em suas bochechas, inflando as narinas para inalar o aroma suavemente salgado.

         Novamente ele e seus homens haviam descoberto outra morte suspeita e inexplicável, agitando e interrompendo a rotina pacata daquele vilarejo à beira mar, onde eventos como aquele eram tão raros quanto os momentos de paz que ele próprio tanto prezava e tão pouco usufruía. Não que sua vida já houvesse sido pacífica anteriormente, porém, desde que assumira um dos postos de confiança do imperador enquanto magistrado yangban¹, estando encarregado de inteirar-se e – por conseguinte – fiscalizar a situação administrativa dos vilarejos localizados a nordeste do estado, a situação só se agravara. Contudo, ele vinha tendo sérios empecilhos naquele vilarejo em especial.

        Kyungsoo suspirou, abrindo os olhos para poder admirar o céu índigo com nuvens espessas que turvavam a visão do horizonte, acobertando as estrelas e amenizando o brilho da esfera acinzentada que ainda assim reinava lindamente em seu trono inalcançável, pensando em como era absurda a justificativa que os moradores atribuíam à violência desnecessária, que resultara em corpos abandonados no interior de valas rasas espalhadas pelos pontos mais densos da floresta que contornavam a vila, tudo isso num curto intervalo de tempo. Ao interrogar os habitantes, a menção de uma criatura mitologia fora recorrente, o que gerara uma dor latejante em suas têmporas que apaziguara alguns minutos atrás, quando ele se propusera a andar livremente pela noite para aliviar o fardo das responsabilidades que pesavam sobre seus ombros, tentando pensar com clareza a despeito das falácias absurdas e fantasiosas.

        Ele resfolegou, os lábios curvados num meio sorriso torto e sem humor. Ou as pessoas dali eram muito ingênuas devido ao folclore local, ou fingiam não enxergar a realidade, prendendo-se às lendas criadas por seus antepassados para assustar crianças teimosas e dar um toque extraordinário ao desaparecimento súbito de pescadores, por exemplo, entre outras razões possíveis. Todavia, apesar destas hipóteses, o jovem homem desconfiava piamente que havia algo por trás da morte daqueles dois homens que não possuíam qualquer tipo de ligação, a priori.

        Algo não, alguém. E ele tinha certeza de que não tinha rabo de peixe nem escamas.

        Rindo consigo mesmo, Kyungsoo meneou a cabeça, numa negação silenciosa e imaginária, olhando a sua volta e percebendo as luzes suaves das tochas que iluminavam as casas modestas, alguns metros atrás de si e além das rochas salientes que cercavam a praia. Fosse como fosse, ele precisava chegar ao responsável pelos crimes em questão o quanto antes e assim cumprir o papel para o qual tanto se empenhara em ascender e para o qual fora designado.

        Um gorgolejar se destacou na água diante de si e ele girou seu corpo rapidamente em direção ao som, os olhos percorrendo a superfície instável tentando identificar do que se tratava. Após alguns instantes, quando ele já havia esquecido o fato, algo se sobressaiu às ondas leves, uma elevação de cor indistinta e ampla, que se movia para baixo, como uma serpente, até deixar ver a ponta bifurcada erguida em direção ao céu antes afundar, e Kyungsoo teve um sobressalto. Não esperava ver um peixe tão grande assim de repente e não era nada demais, é claro, mas o assustara devido ao movimento súbito.

Ofir ⠀ ⠀ ➳ Kaisoo Onde histórias criam vida. Descubra agora