A briga na noite passada começou de um motivo bobo e avançou até que dormíssemos uma na sala e outra no quarto. Sei que eu não sou insubstituível e que ela não é meu oxigênio, mas eu a amo. Nós nos amamos e sei que não viveríamos uma sem a outra.
O problema é que o desapego de Vitória me irrita! Ela não demonstra ciúmes, não prende, não cobra e eu quero e sempre fiz isso. Ontem, durante uma briga nossa exatamente por isso, acabei jogando meu celular do outro lado do quarto, que era onde Vitória estava. Eu precisava que ela reagisse a algo!
O celular voou no ar e se chocou contra a parede, bem ao lado do seu ombro esquerdo. Nossos olhos se encontraram, ambos em descrença pela minha atitude e lá foi você porta a fora da casa, enquanto eu chorava e pedia que me desculpasse. Meia-hora depois cê voltou, mas não disse uma só palavra. Apenas deitou no sofá e com algum tempo estando lá, dormiu. Não brigou comigo de novo!
Na manhã seguinte, acordo sem saber em que momento da noite adormeci, e caminho até onde minha namorada estava. A encontro sentada no sofá, com mãos no rosto e cotovelos apoiados em seus joelhos.
- Bom dia! - Rompo o silêncio após visualizar aquela cena por um tempo.
- Bom dia, Ana Clara. - Responde ela, me olhando com uma expressão de cansaço. Eu sei, não é fácil conviver comigo.
- A gente precisa conversar sobre ontem... - Digo um pouco envergonhada pela culpa que sinto.
- Acho que você se entender primeiro aí nessa sua cabecinha doidinha. Depois que tu se entender a gente conversa, é melhor assim.
- Não, Vi. Por favor!
- Tá, Ana. Senta aqui, me fala o que tu quer conversar.
Me cheguei com cuidado e certa manha, sentei de lado, com perninhas juntas e mãos nos joelhos. Parecia uma criancinha prestes a falar com a diretora, ou a levar bronca dos pais. Já Vitória não, sua presença nunca era discreta ou passava despercebida. O cabelo sempre armadinho como uma juba imponente. Era lindo! E ela? Bom, não tinha como resistir a ela quando sentava com perninha de índio e focava o olhar em mim.
- Tu é sempre tão linda...
- Naclara, foco! - Rimos em cumplicidade, mas logo voltamos a tomar uma expressão séria.
- Uma vez eu li que não é bom deixar uma briga mal resolvida, Vi.
- Licença. - Falou ela, indo até nosso quarto e ficando lá por um tempo.
Foi quando ela voltou, usando sua toca em forma de urso, sua camiseta branca e uma calcinha preta de renda.
- Tá, vamos conversar!
- Ok, nada de entendi, mas vamos. Vi, quero que tu fique sempre aqui, comigo. Eu te amo a tanto tempo e é um amor tão forte... - suspirei tentando ignorar a visão sexy e infantil que era Vitória. - Sei que na maioria das vezes eu sou ridícula com minhas crises, e que você acha graça na maioria delas. Mas sei e reconheço que ontem eu fui longe demais.
- Ana...
- Me deixa falar! - Tomei fôlego para continuar - Eu poderia sim viver sem você, acordar sem você, fazer casa em outros braços, mas não faço isso. Meu corpo não quer isso, meu coração quer você, Vitória! Antes da gente se encontrar eu tive relacionamentos egoístas, abusivos. Tudo de errado era culpa minha, mas contigo nuca foi assim, nem quando a culpa era mesmo minha. Antes de tu, eu tinha mil escolhas, milhares de idas e vindas e com você, só tem o "ficar", até quando eu penso que você foi, você fica.
- Tu não é sempre problema também não. É bom te ter comigo, mas as vezes, né, Ana? Assim, tem coisa que só eu mesmo pra aturar... - Falou ela olhando pro nada e torcendo a orelhinha da toca.
- Besta! Eu tô falando sério. Tu sempre é tão preocupada comigo... Isso é tão lindo na gente. Vitória, tu sabe meu medos, esperanças, sonhos e segredos de cor e ainda divide vários deles comigo. Pra onde eu vou é com você que eu quero compartilhar cada momento. Tudo e a toda hora é Ana e Vitória, até nas brigas sempre foi o "nós" e não o "eu" ou "você". E agora, há algum tempo, sempre me vêm a cabeça que eu quero passar uma vida toda com você.
- Já acabou, Jéssica?
- Vitória! - explodimos em risos.
Sempre era assim com ela. Sempre leve e inesperado.
- Olha, tu disse coisas aí que acho que nem percebeu. Tu me pediu em casamento agorinha e nem percebeu.
- Quê? - Perguntei completamente confusa.
- Aí, ó pra isso. Tua cabeça é de vento, uma folha sempre prestes a ganhar novas letras e depois deixar tudo no papel e reviver na música. - Vitória se aproximou e me pediu pra depositar minhas mãos nas dela. - Você disse que tem pensado em passar uma vida toda comigo. E isso de casamento, não é o casamento comum. A gente já tá casada faz é tempo!
- Tá? - Perguntei com olhos cheios de água.
- Tá! Afinal, eu não viria na casa da vizinha, só usando uma toalha, com uma xícara vazia, pedindo açúcar, se não fosse pra casar. - Ri nostálgica, ao acessar as memórias daquele dia.
- É, realmente não dá pra deixar passar uma mulher daquelas. Até hoje me arrependo de não puxar aquela toalha "sem querer" - Frisei com aspas.
- Ana, nada com você foi sem querer. Eu sempre quis tudo, sempre quis você! Meu jeito pode parecer doido e as vezes você acha que eu não gosto de você como você gosta de mim, mas a prova do meu amor é que eu fico, fico, fico. Eu sempre fico aqui por você e pra você.
Nesse momento nós duas já estávamos chorando.
- Vi, eu te amo tanto! Me desculpa por ontem e por sempre. Eu nunca duvidei do teu amor não, eu só tenho uma mania besta de querer a confirmação dele sempre.
- Olha, tu é a coisa mais linda do mundo. Eu sofreria demais se perdesse tu pra Mike ou qualquer pessoa que quisesse ser pra ti e você aceitasse ser desse alguém, mas hoje, a gente se é, Ana. E eu me apego nisso, no hoje. Então, Dona Clara, se tu quiser eu posso ser tua gema e a gente vai se encontrar dentro do bolo.
Ri. Ri descontroladamente!
- Vitória, isso foi um convite pra sexo? - Ela ria também e então me puxou pro seu colo, me beijando várias vezes.
- Não, isso foi um convite pra gente cozinhar! Mas se tu quiser, a gente pode fazer sexo por lá... - E se escondeu em meu pescoço, arrepiando todo meu corpo com sua respiração forte e quente.
- Por que tu é assim, hein?
- Porque te amo!
______________jardimdeflor, obrigada novamente pela indicação de roteiro ❤.
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Porque eu te amo.
FanfictionComo saber como se portar quando seu passado te dizia que normal era prender, rotular? Roteiro: Jardimdeflor