O vento batia levemente nas flores da grande cerejeira que mesmo no inverno, insistia em florescer lindamente, espalhando suas pequenas flores em tons róseos que acalmavam ainda mais o singelo parque onde ela estava.
A beleza da árvore poderia ser apreciada mesmo pelos mais apressados que passavam pela mesma sem nem ao menos notarem que vez ou outra, ficavam com pequenas florzinhas presas em suas roupas.
Mas, somente quem dedicava alguns poucos minutos para apreciar a linda árvore conseguia ver mesmo toda a sua arte que se misturava ao vento.
Em meio aquela imensidão rosa, se destacavam pequenos botões que não pareciam ter pressa em florescer e se juntar a todo aquele mar de flores e perfume. O vento batia, a chuva caia, mas nada convencia os tais botões de que já era a hora de finalmente despertar de seu longo sono.
Quem diria que no meio de tanta perfeição poderia haver algo que muitos consideram imperfeito? Mas não é assim que a arte funciona? Afinal, a arte não é um conjunto de coisas que para alguns, é algo magnífico, e para outros, é só algo a mais em meio a tantas coisas que são ao seu ver, realmente fascinantes?
Pobre cerejeira, mal sabia o quanto podia ser admirada por olhares doces como seu perfume, e por outros frios e cortantes como o vento que ainda batia em suas flores, as levando para longe de sua órbita.
E no meio de todo esse devaneio, lá se encontravam as representações desses dois admiradores que a cerejeira tinha.
Com orbes azuis e aconchegantes, como o céu que se via acima da árvore, se encontrava uma jovem e delicada garota, delicada como as flores que o vento arrastava.
E também, com orbes verdes e mais rígidas, como a grama que cobria o chão abaixo da árvore, se encontrava um jovem rapaz que não era delicado como as flores, mas que tinha a firmeza necessária, como as raízes que se prendiam fortemente no chão, sustentando a árvore.
Mundos tão diferentes, não acha?
Mas ambos com o mesmo foco: um pequeno ponto branco em meio as flores. Um dos pequenos botões preguiçosos.
A Rigidez e a Doçura encaravam com olhares tão diferentes o mesmo ponto.
"Isso é perfeito!" - Pensava docemente a garota.
"Isso é uma falha..." - Pensava um tanto amargo o rapaz.
Mas apenas um pensamento entre ambos convergia:
"Isso é arte."
E então, como se esperasse a deixa, o vento soprou mais forte sobre o pequeno botão, que ainda era fraco por não ter desabrochado, e que não resistiu em cair, logo sendo agarrado pelo vento, começando uma dança lenta e suave no ar entre as flores que também o acompanhavam.
Tanto a garota quanto o rapaz se apressaram em ir de encontro ao pequeno botão, estendendo rapidamente as mãos, sem nem ao menos notarem que estavam tão próximos um do outro.
E com o a união de duas mãos que inconscientemente se entrelaçaram, o pequeno botão finalmente é capturado no meio de duas palmas quentes.
A confusão é imediata, mas logo esse sentimento se esvai com uma troca de olhares. O verde, sempre rígido, se encontra com a suavidade do azul, e ambos sentem o tempo congelar nesse momento.
Com as mãos ainda unidas, um leve sorriso escapa de ambos os lábios, seguido por um leve rubor também recíproco.
Em um instante, as palmas se afastam, fazendo com que o pequeno ponto desejado se vá com todo o resto que o vento carrega. As pequenas órbitas finalmente encontraram a arte mais pura e singela que procuravam.
Perfeita.
Imperfeita.
Era arte, o azul e o verde.
Pois a arte não se encontrava na perfeição ou na imperfeição do que os cercava, mas sim nos olhares curiosos de ambos os jovens que compartilhavam agora de pensamentos não mais tão distintos.
Lentamente, o tempo parecia voltar a passar. Não mais tão cruel ou apressado, mas sim, suave.
E com um piscar de olhos sincrozinado, ele se fez presente.
Despertaram."A arte não está em algo, e sim no olhar de quem vê"
~?♡
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Tamashī no sakura (魂の桜)
RandomEssa "história" esteve por muito tempo arquivada, no intuito de ser melhorada e novamente publicada, mas eu não sou mais a mesma pessoa que escreveu isso anos atrás. Nada mais justo que agora ela seja publicada como lembrança de um tempo que não vol...