Mason nunca quis ser o herói de alguém.
Ele não conseguia nem mesmo parar de fumar para salvar a si próprio. Não se pode tirar alguém do fundo do poço estando dentro dele. Talvez possam se ajudar a sair de lá, mas as pessoas não costumam ter as mesmas dores. Estavam afundadas em poços individuais com suas próprias assombrações e medos.
Além do mais, Mason não gostava de romantizar atos de heroísmo. "Ele me salvou e é por isso que o amo". Seus olhos reviram só de pensar. Amor é pagamento? Amor é gratidão? Se isso era amor, ele não queria amar. Não quer ser o herói, nem a vítima indefesa.
Há um tempo atrás acreditava não ser possível sair do fundo do poço em que estava, pois, de acordo com ele, nasceu no poço e só foi caindo, demolição atrás de demolição. Nunca uma subida.
E talvez por isso gostasse tanto de ficar chapado. O escuro daquele lugar ganhava cor. E toda aquela merda era menos insuportável.
Mas agora era diferente. Por mais que alguns de seus fantasmas mais antigos estivessem vivos novamente, sentia que podia usar os cacos de vidro das garrafas de bebida que bebeu para fazer uma escada cortante que o levasse até o topo.
"Emma salvou o rapaz".
Não... Ele só encontrou o caminho nos olhos dela. Foi aquele par de olhos da cor da noite, que o olhavam lá de cima, que lhe disseram todas as respostas que precisava.
E você pode pensar que ela trouxe a solução, mas a verdade é que são só dois olhos, como quaisquer outros. Ele viu bondade nela porque existia bondade nele. Emma foi espelho para o que Mason já tinha nele. As outras pessoas chegaram e foram tão rápido... Ela ficou. E deu tempo de olhar direitinho. Tempo de enxergar além do que os olhos podem ver.
Mason nunca quis ser o herói de alguém. E não seria o dela. Sabia disso.
Mas queria ser o espelho que ela precisava. Ser a mão pra segurar quando se tem muito medo. Estar lá, simplesmente. Porque às vezes não precisamos de conselhos, precisamos de ouvidos.
Foi por isso que vinte minutos depois da saída dela, ele foi atrás. Cortou a cidade sem pensar direito no que aquilo queria dizer e foi. Era a primeira vez que lutava por alguém. E se sentia bem estando na linha de frente.
Timody acenou pra ele quando o viu. Ele acenou de volta. E isso foi algo grande.
Já sabia qual andar e qual o número do apartamento. A portinha branca quase no final do corredor: a que tem uma mandala colorida pendurada.
Bateu. Sabia que ela olharia pelo olho mágico. Por isso o cobriu com as mãos. Ela ficaria curiosa e abriria. A conhecia bem. Porque foi isso que ela fez. Abriu, olhando para o chão. Esperava uma encomenda.
Tudo que encontrou foram os sapatos dele. Os reconheceu. Nem precisava olhar pra cima pra saber que era ele.
Mas olhou. Porque de qualquer jeito ele era bom de se olhar.
— Eu pensei que fossem crianças vendendo biscoitos, uma caixa ou algum idiota tampando o olho mágico. Eu estava certa sobre a última opção.
Ele sorriu, amigo. Ela riu de leve. Fraquinho. Como se aprendesse a rir novamente.
— Me deixa entrar, Emma.
Se aproximou. E percebeu como o corpo dela recuou sem perceber.
— Eu também não gosto que conheçam minhas fraquezas. Que vejam meu pior lado. E eu sei que por não gostar disso, eu deveria te deixar em paz. Mas o problema é que eu gosto demais de você pra fazer isso. Não vou te deixar sofrer sozinha, Alihür. Você gostando ou não.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Uma História Sobre Recomeços
RomanceEste livro não é uma história de amor convencional que narra a vida de um casal perfeito composto por pessoas perfeitas em busca de um final feliz (e perfeito). Este livro fala sobre duas pessoas que perderam as esperanças e aceitaram a monotonia de...