Capítulo único

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O relógio marcava onze horas da noite em ponto. Sentada no chão, me olhava fixamente no espelho. Por fora eu parecia calmaria, por dentro existia um caos. Meu rosto ainda estava meio molhado por lágrimas. Eu estava cansada de tudo aquilo.
Me levantei e fui até a varanda. O vento gelado entrava pelo apartamento, deixando o ambiente mais desagradável ainda. A paisagem me distraia. As luzes nos prédios, nos postes, os carros nas ruas e as poucas pessoas que transitavam por ali aquela hora. Voltei a entrar e na cozinha bebi um copo d'água. Nesse pequeno tempo tentava espantar tudo aquilo, acalmar meu coração que estava aflito. Tudo isso começou ontem.

FLASHBACK ON

Já havia passado da meia noite, eu estava vendo um filme enrolada nas cobertas enquanto comia um pote de sorvete napolitano. Escutei meu celular tocar e sem ao menos olhar o visor atendi.
ㅡ Alô? - disse com a boca cheia de sorvete.
ㅡ Estou com saudade.
Meu coração apertou, e segurei o telefone com mais força. Não iria ceder dessa vez.
ㅡ O que você quer?
ㅡ Quero te ver, me perdoa por tudo, eu te amo tanto, eu não sei porque eu acabo agindo dessa forma, eu te amo Naeun.
Fiquei em silêncio. Dizia para mim mesma não acreditar, mas meu coração pedia para que eu cedesse, não conseguia me controlar. Eu ainda sentia algo por ele, porém não sabia dizer o que era.
ㅡ Naeun? - ele quebrou o silêncio.
ㅡ O que?
ㅡ Você está em casa?
ㅡ Sim.
ㅡ Estou indo para aí.
Ele desligou o telefone sem que ao menos eu pudesse dizer que não. Me sentia confusa sobre tudo o que eu sentia por ele, só queria um tempo, mas ele sempre voltava antes que eu tivesse minhas certezas.
Na minha cabeça voltava a frase das minhas amigas "Naeun você está sendo boba, pare de se deixar levar por ele! Esse cara não sente nada por você, e eu sei que lá no fundo você sabe disso, só não quer acreditar."
Em alguns minutos ele chegou. A campainha tocou e eu me assustei. Tinha me esquecido que quando terminamos não peguei a chave do portão do condomínio de volta, então ele conseguia entrar sem avisarem. Abri a porta e fui surpreendida rapidamente por um beijo intenso. O empurrei levemente e ele riu.
ㅡ Sua boca... está com gosto de sorvete de morango.
ㅡ E a sua com gosto de álcool.
Me sentei no sofá e ele se sentou do meu lado.
ㅡ O que foi amor? - a mão dele afagava meu rosto, que possuía expressão alguma. - Naeun?
Olhei para ele e dei um leve sorriso.
ㅡ Nada.
Ele me puxou para mais perto, seus toques faziam meu corpo tremer. Não tinha como voltar mais atrás, eu tinha acabado de me entregar mais uma vez.
Na manhã seguinte odiei cada centímetro de mim mesma por ter deixado acontecer mais uma vez. Mas quando eu o via, meus atos não respondiam ao que eu pensava. Era automático.
Ele ficou comigo o dia todo, até chegar a noite.
ㅡ Preciso ir.
ㅡ Você só vem quando quer algo.
Ele ficou em silêncio. "Quem cala consente." foi isso que pensei na hora. A expressão séria dele, automaticamente virou um sorriso.
ㅡ Não diga isso, hm. Eu te amo.
ㅡ Você me ama mesmo? Porque se amasse não teríamos terminado. Se amasse você ficaria comigo ao invés de ir procurar outras, você não me ama.
Tinha certeza que ele não esperava por isso por causa da expressão assustada que ele possuía.
ㅡ Eu...
ㅡ Você não precisa falar nada. Saí, me deixa e por favor lembra de não ligar pra mim da próxima vez que ficar bêbado.
O empurrava em direção a porta, até que ele virou de frente para mim e segurou meus braços.
ㅡ Naeun...
ㅡ SAÍ! AGORA!
Meu sangue fervia, e era notável o quão nervosa eu estava. Ele me soltou e eu desviei quando ele tentou dar um beijo em minha testa. Abaixei o rosto e de canto de olho o vi sair lentamente.
A porta bateu com uma certa força e logo me desmanchei em lágrimas. Eu me sentia confusa, assustada, dividida.

FLASHBACK OFF

Era quase meia noite. Diferentemente de ontem, eu esperava que ele me ligasse. Encarava o celular por dez minutos, até que me peguei na besteira que estava fazendo.
ㅡ Idiota.
Me levantei da cadeira, peguei o celular e fui em passos lentos até o quarto. Era como um ritual, onde eu estava tentando me libertar de mim mesma. Eu prometia a mim que dessa vez eu não iria mais ceder a ele. Peguei meu celular e apaguei todas as fotos com ele que vi pela frente. Apaguei e bloqueei o número dele. O bloqueei também em todas as redes sociais, não iria ter nenhum tipo de contato com ele.
Ao entrar no quarto, peguei a lixeira e comecei a colocar dentro tudo o que eu via dele ou relacionado a ele pela frente. Fotos, peças de roupa, cds dele.
Estava cansada de mentir pra mim mesma, de tentar me convencer de que ele ainda me amava e que uma hora ele iria voltar. Não iria esperar mais. Essa era a forma de dizer adeus para esse velho amor que estava me envenenando lentamente.

do you love me?; [oneshot]Onde histórias criam vida. Descubra agora