Jasmine

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Nota inicial: Bom dia, boa tarde e boa noite! Mais um conto novinho para vocês, espero que gostem e boa leitura.

Tudo o que eu tenho é um porta-retrato velho e quebrado com a foto de nós dois, o retrato já está tão antigo que sempre que tento tirá-lo do objeto para colocar em um novo um pedaço se rasga, me lembro como se fosse hoje o dia em que ganhei essa foto, cada detalhe é uma tatuagem em minha memória, uma tatuagem dela. Jasmine era uma moça do interior de São Lourenço que na época sonhava em ter uma vida melhor em uma cidade maior, ela trabalhava na mercearia do pai na parte da tarde e eu todo dia ia vê-la, no entanto era apenas isso, eu entrava e fingia estar procurando algum produto enquanto discretamente observava Jasmine arrumar a franja que toda hora arrepiava e sorrir para algum cliente, após alguns minutos a admirando saía sussurrado um "adeus" sem olhar para trás.

A primeira vez que a vi fora do local de trabalho ela estava com um cachorrinho marrom em seu colo sentada na grama da pracinha, lembro de pensar que devia ser a criatura mais bela de todas. A segunda vez foi um verdadeiro furacão, por algum motivo ela saiu de casa gritando e seu pai apareceu minutos depois gritando na mesma altura, Jasmine usava uma calça jeans, blusa laranja e nas orelhas um brinco com um J tão grande que encostava no ombro, enquanto eu assistia os dois brigarem a menina de repente virou para frente e colocou os olhos em mim deixando-me envergonhado e fazendo-me voltar a andar em direção a loja de material de construção comprar a tinta que minha mãe havia mandado. Na semana seguinte minha casa entrou em obra, enquanto o pedreiro quebrava todo o banheiro o pintor mudava a tinta da sala e do meu quarto, consequentemente comecei a passar a maior parte dos meus dias na rua com os outros meninos do bairro, em um desses dias, uma sexta ensolarada estava combinando com meus amigos de matar aula na segunda até que o pai de Jasmine apareceu exibindo um sorriso enorme e nos convidou para a festa de cinco anos de sua mercearia em sua casa a noite no dia seguinte, assim que foi embora meus amigos começaram a falar que não iriam porque com certeza seria uma festa chata, entretanto eu nunca perderia a oportunidade de ver a mulher que permeava os meus sonhos.

Sábado às 19 horas em ponto eu me encontrava de pé na porta da casa de Jasmine, usava uma calça preta e uma blusa vermelha lisa de manga curta que pertencia ao meu pai e que minha mãe sempre falava que servia perfeitamente em mim, toquei a campainha três vezes antes de uma senhora usando um vestido lotado de babados abrisse para mim, me puxasse pelo braço e me levasse para o local da festa. Ao pisar na varanda vi um globo de discoteca pendurado no teto e mesas espalhadas pelo local, imediatamente sentei em uma mesa vazia e comecei a olhar para as pessoas até que a vi pela terceira vez, ela usava um vestido preto simples, no pulso carregava pulseiras de várias cores e o cabelo estava solto com uma tiara vermelha decorando-o.

- Boa noite. - Jasmine disse ao se aproximar e parar na minha frente.

- Noite.

- Você é o filho da Vanda que costura roupa certo?

- Isso.

Ela me olhou alguns segundos e sorriu sentando ao meu lado.

- Você não fala muito né?

Ao invés de responder apenas encaro as pessoas que se juntavam em baixo do globo e começavam a dançar, meu coração estava acelerado e na minha mente tudo que pensava era que Jasmine estava falando comigo e por algum motivo não conseguia pronunciar uma palavra direito. Eu sei que não tinha muita experiência com garotas, mas também nunca fui tímido ao ponto de dar um branco no vocabulário que a família, a escola e a vida me ensinaram, no forró que tinha toda quinta-feira na praça do bairro até consegui algumas vezes pegar o número de telefone de algumas meninas, no entanto Jasmine tinha algo que fazia meu cérebro parar de funcionar corretamente.

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