Os dias eram uma repetição bem ensaiada. Melinda Acordava cedo, a água gelada em seu rosto era o prelúdio de um cotidiano monótono: prender os cabelos em um coque apertado, vestir o mesmo vestido sóbrio e descer as imponentes escadarias até a sala de estudos. Lá, aguardavam-na as trigêmeas Osbourne, alunas aplicadas, mas cujo entusiasmo pelo bordado era tão morno quanto o chá que serviam.Porém, aquele dia nascera diferente. O sol despontava no céu com uma clareza que ela não via há tempos, um brilho tão doce quanto o sorriso de uma noiva em seu dia mais feliz. Sentindo-se inexplicavelmente leve, Melinda trocou seu habitual coque por uma trança semi-solta, deixando que alguns fios acariciassem sua nuca. Vestiu um vestido rosa claro, ombro a ombro, uma escolha ousada para sua rotina reclusa. Ao descer as escadas, viu Louis, que a aguardava com um sorriso indecifrável.
— Melinda — disse ele, gesticulando para uma parte da parede —, permita-me mostrar algo que poucos aqui conhecem.
Com um gesto teatral, Louis abriu uma porta secreta, revelando um salão oculto. Curiosa, ela o seguiu, o som de seus passos ecoando no corredor. Quando entraram, Melinda sentiu o ar mudar. O salão era amplo e luxuoso, com uma lareira adornada com entalhes dourados e móveis de veludo vermelho.
— Este é o meu refúgio — confessou Louis, com uma suavidade que parecia ensaiada.
O salão parecia uma cena de um conto de fadas: um espaço grandioso, com entalhes dourados na lareira e cortinas de veludo pesadas.
Melinda soltou-se de Louis e correu pelo salão, tocando os móveis elegantes, as paredes cobertas de quadros e ornamentos. Pegou um leque sobre uma espreguiçadeira vermelha e começou a dançar como uma jovem debutante imaginando seu primeiro baile, com um tom brincalhão, disse:
— Hoje sou uma madame, prestes a debutar no baile mais prestigiado da cidade!
Ela rodopiava, os olhos fechados, perdida em sua encenação inocente. Louis a observava, mas havia algo ardendo em seu olhar que ia além de admiração. Quando Melinda girou mais uma vez, ele se aproximou em silêncio, puxando-a para si.
Antes que pudesse reagir, ela sentiu os braços dele em sua cintura, fortes e possessivos, Louis envolveu-a nos braços e a puxou para a espreguiçadeira. O riso dela morreu subitamente.
"Louis, pare!" disse ela, o tom hesitante.
Ele não a ouviu. Sua mão avançou em direção aos seios dela, e o toque fez com que ela gritasse, empurrando-o com força. Enquanto ele a pressionava com o peso de seu corpo contra a espreguiçadeira.
Os minutos seguintes foram confusos e assustadores. O toque de Louis, antes casual, tornava-se invasivo. Melinda tentou se desvencilhar quando ele guiou sua mão para onde ela não queria ir.
— Louis, não! — disse, a voz entrecortada pela tensão.
Finalmente, como se a razão o golpeasse de repente, Louis recuou. Ele parecia envergonhado, quase assustado com a gravidade do que fizera. "Perdoe-me, Melinda... Por favor..." murmurou, mas as palavras caíram vazias no ar.
Sem responder, Melinda correu para a sala de estudos, o coração trovejando. Fechou a porta atrás de si, como se pudesse barrar o horror daquela experiência. Tentou recompor-se, ajustando os cabelos desalinhados e respirando fundo. O dia estava apenas começando, e as trigêmeas não tardariam a chegar.
Mais tarde, antes das trigêmeas chegarem a aula, Melinda tentou esconder sua perturbação, enquanto preparava as agulhas para a aula de bordado, olhando pela janela, viu Henry no jardim, correndo atrás de um chapéu levado pelo vento. Sua figura alta e descontraída fazia um contraste com o peso que Melinda sentia no peito.
Ele não estava sozinho. Uma moça loira, de vestido lilás florido, ria ao lado dele, seus olhos azuis brilhando como o céu.
Melinda sentiu algo que não conseguia nomear. Era como se um nó apertasse sua garganta e uma onda de calor subisse por sua espinha. Não era só ciúme, era algo mais visceral. Quando Henry abaixou-se para devolver o chapéu à moça e seus olhos encontraram os de Melinda pela janela, ele sorriu. Não um sorriso qualquer, mas um que parecia falar diretamente com ela, desafiando-a a admitir o que sentia.
Melinda desviou o olhar, a raiva misturando-se à vergonha. Voltou ao trabalho, esperando que a rotina apagasse a cena de sua mente. Mas Henry parecia onipresente naquele dia. Ele passou pela sala mais tarde, acompanhado da mesma moça loira, e parou por um instante. "Vou levar Emma à cidade. Volto em dois dias", disse ele, os olhos fixos em Melinda, que fingia ajustar as teclas do piano.
Mais tarde, ao levar o chá para a cozinha, Melinda viu Emma conversando com as criadas que cuidava das necessidades de Louis. Lady Emma mostrava-se à vontade demais, quase familiar. Quando Melinda se aproximou, Emma afastou-se apressadamente, como se escondesse algo. Era um comportamento que acendeu novas suspeitas no coração já inquieto de Melinda.
Procurando alívio para sua confusão, Melinda foi ao jardim. O vento acariciava seu rosto enquanto ela tentava respirar fundo e deixar os pensamentos se dissiparem. De longe, a voz de Henry a chamou. "Espero que sinta saudades!" ele gritou, a provocação brincando em seus lábios.
Um sorriso, pequeno e tímido, escapou de Melinda, embora ela não quisesse admitir. Mas, no fundo, sabia que o sentimento que a tomava quando Henry estava por perto não era algo que pudesse simplesmente apagar.
O nó em seu peito apertava mais, e, por um instante, Melinda se perguntou se algum dia conseguiria escapar da confusão de emoções e sombras que Louis e Henry haviam jogado sobre ela
![](https://img.wattpad.com/cover/155462480-288-k649775.jpg)