Letícia

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Letícia enxugou uma lágrima dos olhos enquanto olhava a paisagem pela janela do metrô. Ultimamente o que mais fazia era chorar. Pra começar seus pais estavam se separando. Não que fosse alguma novidade, já que as lembranças mais antigas dela eram de seus pais discutindo, as vezes por bobagem, mas principalmente por ela. As maiores brigas de seus pais eram por Letícia. "Você não criou essa menina direito!" Acusava o pai. "Ela também é sua filha! Onde você estava quando ela teve a apendicite? Com alguma vagabunda, aposto!" Respondia a mãe.

As vezes Letícia achava que seus pais só se preocupavam com ela na hora de brigarem e isso a deixava arrasada. Pra priorar alguma coisa sempre quebrava nessas horas. Um copo, um prato, certa vez uma torneira estourou espalhando água pela cozinha inteira. Apesar de seus pais não a culparem por esses "acidentes" Letícia de alguma forma sabia que era ela quem causava, só não sabia por que. E por conta disso seu desempenho escolar caiu tanto que seus pais decidiram mudar ela de escola, como se fizesse alguma diferença.

Na verdade piorou, pois ela sofria constante bulling por parte das novas colegas de turma. Foi um inferno durante o ano todo, mas a gota d'água foi a humilhação que sofreu diante do recreio inteiro quando teve seu diário furtado e todos na escola ficaram sabendo que ela gostava de um rapaz de sua turma. A namorada dele uma das que implicavam com ela veio confronta-la na frente de todo mundo. Por ser muito tímida, Letícia odiou toda aquela atenção voltada para ela. A menina a xingava e a humilhava dizendo coisas horríveis. Letícia não aguentando a pressão, deu um berro e nesse momento o bebedouro explodiu jorrando água e assustando a todos. A direção do colégio culpou a pressão da água mas Letícia assim como em casa, sabia que não tinha sido nada trivial quanto isso.

Naquele dia, convencida de que era algum tipo de monstro, foi para casa decidida a se trancar no quarto e talvez surrupiar escondido os calmantes da mãe. Ela já não aguentava mais. Quando chegou em casa, na sala sentada com seus pais, se encontrava uma moça bonita de uns 30 anos, negra, usando um vestido e turbante estampado e joias que pareciam muito caras. Letícia não sabia, mas sua vida mudaria drasticamente dali em diante.

Bem Vindo à CastelobruxoOnde histórias criam vida. Descubra agora