Prólogo - Parte 1

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Hoje o dia estava com uma ótima energia. Apesar do tempo frio de dezembro, a cidade estava muito calorosa. Eu acreditava que o país todo estava. Ao andar de bicicleta pelas ruas do meu bairro indo em direção ao supermercado, eu notei as casas passando ao meu redor. Elas passavam rápido. Eu estava com pressa. Todas as casas ainda estavam enfeitadas para o Natal, embora essa data tenha ficado para trás à seis dias. Eu acreditava que as pessoas só tirassem os enfeites após o ano novo. Na minha casa pelo menos era sempre assim.

Hoje era um dia de renovar as esperanças, de fazer novas promessas e desejar aos familiares e amigos muita prosperidade e saúde, desejos esses geralmente vindos do fundo do coração. Réveillon. Um ano acabava e um novo começava, levando embora consigo as tristezas e as decepções e trazendo a alegria e a esperança de tempos felizes. Sempre achei o réveillon uma data mágica. Mesmo com todas as tragédias geralmente nos animávamos nesse dia enxergando o lado bom das coisas e das pessoas. Dizia isso por experiência própria. Talvez eu fosse muito ingênua por pensar assim. Mas sempre gostei de acreditar na bondade humana. De que o bem vencia o mal e todos esses clichês de filmes românticos. Para mim era como se essa data transformasse as pessoas. Era como se nada pudesse dar errado pois era o réveillon. Porém nesse ano eu iria descobri, da pior forma possível, que o dia de hoje não era tão mágico assim quanto eu pensava. Que coisas ruins aconteciam da mesma forma que os outros 364 dias do ano. Afinal de contas 31 de dezembro era apenas um dia como outro qualquer no calendário.


***


Naquele ano toda a minha família iria aguardar a chegada do ano novo na casa da minha avó materna. Ela morava em Austin, no Texas. E como nós morávamos no Houston, era necessário duas horas e meia de viagem de carro até lá. Minha mãe e meu irmão mais velho tinham viajado para lá ontem para ajudar nos preparativos da festa pois os meus avós já eram bastante idosos e não poderiam ficar fazendo todo o trabalho pesado. A minha mãe tinha ido de avião, apenas 45 minutos de viagem. Eu deveria confessar que deixei para ir com o meu pai hoje por medo. Eu tinha medo de viajar de avião. Um medo irracional e inexplicável, deveria admitir. Eu já tinha viajado antes, sabia que era seguro, porém evitava sempre que possível. Como eu disse, era irracional.

Na hora eu tinha dado uma desculpa esfarrapada dizendo que não deixaria o meu pai viajar sozinho de carro até Austin. Ele com certeza iria precisar de um co-piloto para lhe ajudar no caminho, disse eu a minha mãe explicando porque não queria ir com eles. Mesmo sendo uma desculpa, eu conhecia o meu pai. Ele se perdia ao fazer viagens longas de carro sozinho, isso já tinha acontecido antes. Alguém sempre tinha que ir olhando o GPS e indicando as direções certas.  Eu não queria o meu pai passando o réveillon numa estrada qualquer perdido. Por isso, eu simplesmente tinha unido o útil ao agradável.

Meu pai ainda tinha uns relatórios urgentes para entregar no trabalho por isso não fomos todos juntos ontem de avião. Ele era um professor universitário. Um ótimo professor, a propósito. Ele ensinava anatomia e fisiologia humana para alunos do curso de medicina na Universidade de Houston. Sempre tive muito orgulho dele e sempre deixei bem claro o quão importante o seu trabalho era. Ele ajudava a formar os futuros salvadores de vidas. Tinha algo mais importante do que isso? Eu acreditava que não.

O meu pai queria viajar de avião para a casa da minha avó hoje mas, sem o planejamento com antecedência, não conseguimos encontrar um voo com assentos livres. Era réveillon, muitas pessoas estavam viajando para encontrar os familiares. Minha mãe tinha conseguido ontem por pura sorte, creio eu. Ela sempre tinha sido precavida e perfeccionista. O que fazia com que ela planejasse antes e raramente deixasse para resolver algo de última hora, como o meu pai sempre fazia. Apesar deles serem completamente o oposto um do outro, eles faziam seu casamento funcionar muito bem. Raramente brigavam ou se desentendiam. Devia ter muito amor e união envolvido entre eles.

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