Os dois chegaram aos fundos da casa, mas apenas um olhar para Sky bastou para mostrar a Armand do que ela precisava. Tocando suas costas com delicadeza, ele atravessou os dois para a propriedade da Vanguarda.
Quando Skylar abriu os olhos, reconheceu onde estava e suspirou de alívio. Ainda calada foi se sentar no sofá da sala, recusando-se a olhar para cima, para Armand.
Ele não disse nada enquanto se dirigia para a cozinha ao lado. Um minuto depois o jovem retornou com um copo d’água, que entregou antes de sentar ao lado dela.
Bebendo com goles pequenos, a moça parecia tentar ganhar tempo. Ele não a culpava. Pigarreou para falar, mas passos na escada chamaram a atenção dos dois.
Aaron vinha descendo devagar, os olhos postos neles. Sentou-se numa poltrona que ficava na frente do sofá, olhando primeiro para um depois para o outro.
— Marcus me contou o que aconteceu. — O guerreiro disse apenas. Seus olhos se cravaram em Skylar, que voltou a pousar os olhos no copo que segurava. — Armand, você se importa de ir buscar Jaha? Ele foi até o centro da cidade, atrás de algumas massas doces na padaria. Seria ótimo se ele trouxesse um pouco mais, já que estamos em maior número agora.
Skylar ergueu rápido a cabeça, surpresa por aquele pedido. Sabia que ali todos eram amigos, mas dar uma tarefa como aquela ao herdeiro do Grão Senhor parecia uma ousadia grande demais. Olhou para Armand, que encarava Aaron sério. Os dois ficaram se olhando, uma comunicação muda passando entre eles. Ela não sabia o que os dois haviam visto ali, mas por fim Armand concordou com a cabeça, e depois de lhe olhar, saiu sem dizer nada, a deixando sozinha com Aaron.
Ela olhou para ele, lembrando da ameaça que havia lhe feito, engoliu em seco, e depois de tomar mais um gole de água, abaixou novamente a cabeça e ficou calada. O silêncio se extendeu por um bom tempo, até que o ruivo se levantou e veio se sentar ao seu lado no sofá.
— Eu nasci a mais de cento e cinquenta anos na Corte Outonal, e durante cento e vinte anos fui mantido preso numa cabana na floresta, na divisa da Corte Primaveril e da Corte Outonal por um casal de Grão Feéricos que me usaram como prostituta desde que eu aparentava ter cinco anos de idade.
Os lábios de Skylar se separaram ao ouvir isso, e ela olhou para Aaron, mas ele não olhava para ela.
— Eu era mantido acorrentado a uma cama, sem poder me levantar a não ser para ir no banheiro e me lavar para servir aos meus captores. Uma noite os dois apareceram, mas não entraram no quarto. Eles discutiam com outro macho. “Eu não quero esse tipo de coisa nas minhas terras” o desconhecido disse. A mulher respondeu “essas não são só suas terras. Estamos na divisa e meu senhor Beron permite que façamos o que quisermos.” Minha esperança começou a surgir, talvez enfim alguém tivesse vindo me ajudar, me salvar. “Não me interessa! Vocês têm que deixá-lo ir.” Meu coração disparou com aquelas palavras. Então a porta do quarto abriu e um macho alto e musculoso apareceu. Seus cabelos loiros caiam quase até o meio das costas, e seus olhos eram de um verde impressionante. Ele fez mensão de vir até onde eu estava, mas o homem o segurou pelo braço. “Se você tentar fazer algo, nós revelaremos o que sabemos sobre ela.” Uma ameaça sem sentido para mim. Eu olhei para aqueles olhos com súplica, implorando que ele me levasse dali. Mas aquele estranho desviou o olhar para o casal. Um rosnado baixo fez o chalé tremer, mas os dois Grã Feéricos sorriam. E então o estranho saiu do quarto. “nunca se atrevam a dizer nada” sua voz perdera aquela força de antes. A mulher falou de novo, com mel na voz. “É claro que não. Você não fala nada. Nós não falamos nada, Lorde Tamlin”. E um instante depois uma batida na porta de entrada mostrou que eu estava sozinho de novo.
A mão trêmula de Sky havia ido para a frente de sua boca, o horror estampado em sua expressão.
— Demorou mais sessenta anos para que eu fosse libertado. Três machos em armaduras reluzentes invadiram o lugar. Dois deles não conseguiram chegar perto de mim. Eu estava nú, ferido e minha cama fedia com fezes e urina. Fazia mais de cinco dias que ninguém ia até lá. Eu estava morrendo de fome no meio da minha própria merda quando o capitão me encontrou. Ele não hesitou. Não teve nojo ou repulsa. Apenas tirou o belo manto bordado em dourado que usava e depois de me soltar, envolveu meu corpo com ele. Eu era magricela, mais do que ainda sou hoje. Minha pele era quase translucida, já que eu nunca havia visto a luz do sol. Ele me carregou. Ele me salvou.
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Corte de Estrelas e Luz Solar
FanfictionHistória FINALIZADA Ainda crianças uma amizade meio relutante se instalou entre os dois, porém essa relação escondia algo mais: Skylar e Armand eram parceiros. Seus pais notaram isso, porém como ambos eram muito jovens, os adultos fizeram um acordo...