- Onde é que encontraste esse colar? – perguntei a Anysha – Foi a tua avó que to deu?
- Como é que sabes? – questionou-me de volta
- Porque vi o retrato dela com esse mesmo colar. É lindo!
- É, obrigada. A minha avó decidiu dar-mo, porque é o que as avós fazem. Este era feito para as pessoas que se especializavam, na altura. E agora as avós, decidiram que deviam dar às netas que se especializavam. – esclareceu a princesa
- Isso quer dizer que não és a única a tê-lo?
- Exatamente. Lá na escola estão todas obcecadas com isto. Não me digas que tu também. – ela pediu
- Não. Apenas curiosidade.
- Hora de comer! – duas vozes gritaram em uníssono. Eram as duas filhas gémeas de Naysha, Narysha e Nalysha.
E assim fizemos.
**
- Estava a ver que não acabava. - resmunguei.
- Pensei que tivesses gostado. – disse Alysha, sentando-se na minha cama
- Adorei! É só que… tu viste o colar. O meu sonho é real, mas infelizmente, ela não é a única a possuir o colar. Significa que voltei à estaca zero, se é que alguma vez saí de lá.
- Eu ajudo-te – assegurou-me – Temos se falar com Noulsha. Não tens nada agendado para agora. Se há alguém que tem as informações de todos, é ela. Ela saberá se existe mesmo alguém que não desenvolveu poderes. O que, deixa-me dizer-te, é impossível.
-Parece que não, visto que os Shuarkas mostraram-me. Mas sim, vamos falar com Noulsha. No entanto, apenas lhe contamos que sonhei com uma rapariga, que ainda não desenvolveu poderes, e fiquei curiosa. Nada mais.
- Porquê? – inquiriu
- Porque eu não quero envolver ninguém neste assunto. Já te tenho a ti, e até já é demais. Os Shuarkas pedirem-me para a proteger - expliquei – antes que algo acontecesse. E enquanto não souber do quê, ou de quem, a tenho de proteger, é melhor que ninguém saiba disto.
- Mas …
- Não há mas, nem meio mas! – interrompi – Promete.
**
- Não. – respondeu-nos Noulsha – Felizmente, todas as raparigas desta geração desenvolveram Sharkas. Mas porquê a pergunta?
- Foi só um sonho que tive. Pelos vistos, não passou disso, um sonho.
- Ouve, Trisha – começou, salientando o meu nome com uma certa malícia – eu sei reconhecer quando alguém tenta enganar-me. Portanto, não me venhas com tretas! Apesar deste começo atribulado, eu vou ser simpática contigo. Eu tenho uma informação que te pode ser muito útil, mas é segredo. Posso ficar sem o cargo por ta mostrar, mas sei que me vais dar algo bom em troca, certo?
Por momentos, avaliei o rosto, aparentemente inocente, de Noulsha. Envolto no seu cabelo longo e loiro, que fazia um perfeito contraste com a sua pele pálida. Os seus olhos, tão verdes e límpidos, assim como tão traiçoeiros. E o seu sorriso, demonstrava ser falso em cada dente que mostrava.
Nunca tinha confiado muito em Noulsha, nunca gostara muito dela. Mesmo antes de ter dito o primeiro “Olá”, e agora, agora sabia o porquê. Ainda assim, contei-lhe. Contei-lhe apenas que os Shuarkas me disseram que a rapariga era poderosa, sem mencionar que me pediram que a protegesse.
- Desembucha. – exigi
- Eu mostro-te valentona – gozou Noulsha.
Levantou da sua confortável poltrona, dirigindo-se para uma das muitas estantes naquele quarto. Retirou de lá um livro grosso, grande e velho, que aparentava ser muito pesado, e pouso-o na secretária. Alysha e eu, seguimo-la até lá. Pude ler na capa do livro uma inscrição: “The Book Of Falls”, e por baixo outra: “If you open it, you might regret yourself, but regrets will not be allowed. So be smart and think twice”
(O livro das quedas) (Se o abrires, podes arrepender-te, mas remorsos não serão permitidos. Sê inteligente e pensa duas vezes)
Ao ler aquilo arrepiei-me até os ossos. Olhei para cara para cara de Noulsha, que demonstrava uma expressão presunçosa pela minha reação. Pude sentir Alysha tremer ao meu lado. Era óbvio que ela também estava assustada com tudo aquilo. Noulsha sorriu e começou a abrir o livro, no entanto, impedia-a.
- Isto é algum tipo de piada? Não tens informação nenhuma, pois não? É que se for isso, vais arrepender-te! – ameacei
- Acalma os cavalos. A informação que tenho está aqui dentro. Posso abrir, ou estás muito assustada?
- Abre – demandei
E ela assim o fez. Abriu onde havia um separador amarelo, como se já estivesse à espera que isto acontecesse.
Na página onde o abriu pude ver escrito: “Muitas o terão, mas apenas a uma servirá. Porque aquilo que todas têm, ela nunca terá.” E quando olhei para baixo para ler mais, era como se as letras estivessem a fugir do livro.
- O que é que aconteceu? – inquiri
- O livro apaga o que ainda não pode ser revelado. Ou quando o leitor não pode saber de algo. – esclareceu-me
Ignorei o seu sorriso trocista e provocador, e continuei a ler.
“Assim como o diabo precisa de deus, a escuridão precisa de luz.”
E mais uma vez, as letras fugiram da minha insaciada curiosidade. E por fim: “A escuridão está cega.”
- Tudo muito bonito, mas não percebi patavina. – queixou-se Alysha.
Noulsha encolheu os seus pequenos ombros, e sorriu presunçosamente. Peguei na mão de Alysha e levei-a para fora, a escuridão precisava de luz.
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As guardiãs dos 7 sharkas
Teen FictionShakas são um povo diferente. Embora vivam no séc. XXI, isolam-se da sociedade, vivendo assim, em fortalezas nas florestas . No entanto, não é só por isso que são diferentes. As mulheres Shakas desenvolvem capacidades sobrenaturais. Todas desenvolve...