Na estação de trabalho, o lugar de Carolina se localizava no canto da mesa. Ficava de frente com a janela, de costas para a ilha de edição e imediatamente ao lado da porta do corredor.
Tinha uma gaveta, uma cadeira ergonômica igual a de Renato e uma bobina de acoplamento magnético instalada na divisória central, do tamanho de uma pilha AA, que substituía a tomada de três pinos.
Por meio desta bobina, era possível recarregar o celular, o tablet ou qualquer outro aparelho eletrônico ao seu alcance, sem a necessidade de um cabo, bastando apenas aproximá-los de sua ponta arredondada de cobre. Seu campo magnético faria o resto, transferindo a energia da bobina para o aparelho visado.
A mesa de Carolina estava limpa, com exceção de um pacote encostado na divisa lateral. Tinha o tamanho de uma caixa de tênis e estava embrulhado com papel de presente, todo listrado de verde, vermelho e amarelo. No topo, era enlaçado por uma fita dourada, cujo nó se escondia atrás do brasão do Rio Grande do Sul.
Quando entrou na redação, Carolina estava distraída demais para notar o embrulho. O puxão de Alice a incomodara, e a perspectiva de reencontrar Seu Paulo, com quem poderia ter um novo confronto, também roubara sua atenção.
Porém, quando viu aquele brasão gaúcho depositado em sua mesa, e justo após terem a chamado de “princesinha dos Patriotas Bolsonários”, foi incapaz de se mexer. Arrepiou-se com o que poderia haver no pacote, bem como o motivo de ele estar ali. Tanto que, num instante, esqueceu-se do seu dever com Fernanda.
Colocando a mão na testa, e sem esconder o desgosto, perguntou a Renato:
— Por que tem um pacote farroupilha na minha mesa?
— É presente dos seus fãs.
— Pff, fãs! Que tipo de fãs são esses?
— Do tipo carinhoso e caprichoso, ora.
— Sim, com certeza são caprichosos. E não estou falando no bom sentido!
— O que foi? Nem abriu o presente e já quer jogá-lo fora, marreco?
— Bem, vamos colocar assim: de vez em quando, a capa do livro já basta para julgar seu conteúdo.
— Heh.
Renato, girando em sua cadeira, olhou para o pacote e acenou para o brasão gaúcho, zombando aos risos:
— Está brava por causa da origem dele?
— Acho que nós dois sabemos o porquê da minha braveza.
— Eu sei, é?!
— Se você está me chamando de princesa bolsonária, é porque sabe, tanto quanto eu, quem enviou o presente. Ou, pelo menos, o tipo de gente que o enviou.
Alice, que era casada com um porto-alegrense, ficou chateada. Do jeito como falavam, era como se Carolina tivesse birra de gaúchos. Se fosse assim, não poderia apresentá-la ao seu marido, nem torná-la uma visita frequente em sua casa, tanto quanto pretendia.
Desejando invalidar sua suspeita, perguntou:
— Carol, você não gosta de gaúchos?
— Olha, não vou negar: eu estranho muito eles.
— Por quê?
— Porque continuam investindo numa polícia especial contra visitantes de outros Estados.
— Ah, isso? Eles só estão fazendo controle de pestes na fronteira.
— Aff, não mesmo!
— Mas foi o que falaram para a Seja.
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O vlog de Carolina e o feriado antecipado no calçadão
HumorQuando Carolina se tornou vlogueira, ela ainda acreditava no poder da honestidade. Achava que isto sempre falaria mais alto, independente da situação. Porém, ela acabou subestimando o maior vilão deste país: a agressividade da opinião pública brasil...