tempo

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Rei suspirou pela enésima vez enquanto Amakata-sensei explicava as palavras subentendidas naquele texto de literatura. Não era que simplesmente não estivesse prestando atenção na aula, mas ele já havia estudado todo aquele capítulo e até alguns dos próximos. Mesmo agora sendo o capitão do clube de natação, Rei estava tendo muito tempo livre ultimamente. Não por escolha própria, isso era verdade, e como não sabia o que fazer acabava usando-o com os estudos.

Não era tão divertido como costuma ser, estudar sozinho em casa, mas isso também ajudava a manter sua mente ocupada. De outro modo, se perderia em divagações sobre aquele enigma insolúvel, e já havia pensado tanto nisso que às vezes sua cabeça chegava a doer e sentia-se atordoado. Já havia tentado uma abordagem direta, que havia falhado miseravelmente.

Seu enigma particular possuía nome e sobrenome, e estava personificado no adolescente de cabelos ondulados e olhos doces, o nadador do nado de peito, Nagisa Hazuki.

Nagisa, que sempre fora um garoto alegre e extrovertido, estava apresentando um comportamento atípico: mesmo agindo naturalmente durante as atividades do clube, do lado de fora, ficava calado e evitava deliberadamente ficar sozinho com Rei. Até Gou havia notado que algo não estava certo com o amigo. Diante das perguntas de Rei e de Gou, Nagisa apenas desconversou e disse ter coisas para fazer depois das atividades do clube. Já não voltava para casa com Rei e nunca estava no trem nos horários que Rei costumava ir. Estudar juntos, então, parecia algo tão distante agora.

Gou havia descartado a possibilidade de algum problema familiar, já que o comportamento dele em nada se assemelhava ao que havia acontecido no ano anterior, quando acabou fugindo de casa. E quanto a isso, o próprio Nagisa foi direto, pelo menos nesse ponto, em negar qualquer problema com seus pais.

Primeiro, Rei e Gou tentaram segui-lo já que ele sempre dizia ter algum compromisso depois do treino e sumia das vistas de Rei sob esse pretexto. Sem que Rei nem desconfiasse, Gou propôs que usassem a mesma estratégia que haviam usado com ele mesmo no ano anterior. Mas Nagisa apenas ficou matando tempo no corredor sem encontrar ou falar com ninguém, e depois foi para a estação sem nenhum outro evento.

Foi depois disso, ao ver que tudo não passava de uma desculpa para evitá-lo, que Rei decidiu que era hora de confrontá-lo.

"Eu... Eu só preciso de um tempo." Foi o que Nagisa lhe disse, que ele precisava de um tempo longe de Rei.

Rei tentou ponderar sobre o que ele havia feito de errado, qual ação sua que teria resultado nessa atitude dele. Nagisa parecia tão frágil quando essas palavras deixaram seus lábios, os olhos úmidos e a expressão machucada. Era como se houvesse uma grande ferida onde não pudesse ser vista, que sangrava e o entorpecia de dor. Se ele estava se afastando, isso só poderia significar que Rei era quem o feria. Será que ele era tão insensível a ponto de ter feito algo horrível ao amigo e sequer notar?

Temia tentar uma nova aproximação, outro tipo de abordagem, e que a resposta fosse ainda pior. Assim, criou-se um impasse e Rei também passou a evitar Nagisa.

Mesmo assim, sentia a presença dele tão fortemente que a sala de aula parecia vazia, como se apenas os dois estivessem ali. Às vezes, Rei arriscava olhar com o canto dos olhos, bem discretamente para Nagisa, que agora se sentava na carteira ao seu lado. Como as coisas haviam mudado... Haviam conseguido lugares um ao lado do outro na sala e agora sequer se falavam. Nagisa olhava para frente de forma absorta, afinal, alguém precisava prestar atenção na aula. Quando o sinal para o intervalo soou, Nagisa apenas pegou seu bentou e se dirigiu para a porta. Antes de sair, olhou na direção de Rei, mas quando seus olhos encontraram com os dele, sua expressão congelou por alguns segundos como se estivesse sendo surpreendido fazendo algo proibido, um rubor subiu no seu rosto pálido e ele logo saiu.

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