Um dia de Outono

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Chovia muito naquela noite, relâmpagos cortavam os céus e rugiam suas fúrias que ecoavam pelo campus da UFAL. O frio era muito intenso, de congelar, incomum para um dia de outono. Era o último ônibus que entrava ali naquela tenebrosa noite, tinha a cor cinza, desenhos de palmeiras e um letreiro digital que dizia a sua rota, UFAL Ponta Verde. Faltavam cincos passos para o maior chegar as doze e assim as lonze ser anunciada, quando o ônibus parou no ponto que fica em frete a praça conhecida por todos como a Praça do RU, cujo epíteto é dado, por ela se encontrar ao lado do restaurante universitário (RU).

As poucas pessoas que ali estavam, entraram no veículo rapidamente e como era de se esperar por conta do horário, muitas cadeiras abandonadas, aqui e acolá. Notava-se ali vários rostos cansados só a espera de chegar a suas casas para assim descansar e continuar suas enfastiadas vidas. Eu ocupava uma das últimas cadeiras do lado direito do fundo daquela infame condução, assim como todos os tristes dias, inalando o odor de ferrugem que se misturava com o mofo do estofado e escutando o brusco ronco do motor que mais parecia um roncar de um dragão feroz muito perturbado.

Admito ultimamente o tédio era meu companheiro, dos mais íntimos até. Não tinha ânimo para nada, meus olhos se esquivavam de tudo e de todos, até ser atraído por uma linda morena da pele que refletia o pecado. Dona de uma beleza capaz de deixar qualquer modelo possuída pelo mais contagioso pecado capital, a inveja. Desfilava aquele corpo maravilhoso e modelar, com um olhar sereno e virtuoso.

A moça estava encharcada e um pouco perturbada com a tamanha fúria dos relâmpagos. Ela passou pela roleta deu três passos, parou, preparou-se para sentar, seus olhos percorreram por todas aquelas pessoas, e quando olhou para trás, viu-me, nesse instante seus olhos negros pararam e se fixaram aos meus como se estivesse atraída por alguma coisa, magnetizada veio em minha direção e sentou ao meu lado. Contorceu-se como se estivesse sentindo calafrios. A janela da cadeira da frente estava aberta, foi um caminho que a chuva encontrou para poder nos tocar.

— Ai meu Deus, hoje estar fazendo um frio daqueles! Moço, será que dá para você fechar essa janela? - Perguntou-me a linda moça.

— Claro!

Inclinei um pouco o meu corpo para frente e segurando a aba da janela, tentei puxa-la com bastante força. Todos os meus esforços foram em vão, logo, pensei em uma boa desculpa e a lancei:

— Eita... Acho que estou sem força neste braço, ele está machucado. Será que não dá não para você tentar fechar por aqui?

— Está certo, vou tentar, mas será que vou conseguir?

Com o ar de graça, levantou-se a moça, foi até a cadeira da frente e sem muito esforço fechou a janela. Sentou-se, olhou-me e me deu um lindo sorriso demorado, balançado sua cabeça que logo a escondeu olhando para baixo.

— Agora sim está bem melhor! — Afirmei com ar de entusiasmado e envergonhado ao mesmo tempo.

— É... Seu braço está ruim mesmo viu! Eu nem fiz muita força. O que foi que aconteceu com ele?

— Foi... Foi um acidente... — Fiquei um pouco embaralhado e com uma mão sobre os cabelos continuei: —... De moto há pouco tempo atrás.

— Ainda bem que foi só o braço, não é?!

Enquanto nós conversávamos, percebi que as poucas pessoas que estavam naquele ônibus nos olhavam, como se estivessem de olhos e ouvidos em nossa conversa, o cobrador que também nos olhava, balançava a cabeça com o jeito irônico.

A moça estava bem empolgada, falava sobre as greves, movimentos estudantis, Professores chatos e preguiçosos e assim, cada momento que passávamos juntos o brilho de seus olhos iria aumentando e eu me convencendo que ela seria a pessoa ideal para me tirar dessa solidão. Então, foi chegada à hora da bela descer do ônibus, quando estava a ir embora, peguei em sua delicada mão e disse:

— Adorei ter te conhecido Maria do Amparo!

— Ei! Quem foi que disse a você que meu nome é esse? - Retrucou a moça, com seus olhos famintos e seus pelos agitados do meu toque.

— Eu vi esse nome na capa de seu caderno, então, eu deduzi que fosse o seu. Acertei?

— Acertou. E o seu como é? Nós nem nos apresentamos direito.

— Foi mesmo, até parece que nós somos amigos de longa data. Meu nome é Gabriel e foi um enorme prazer em te conhecer.

— Eu também gostei muito da nossa conversa, espero te ver novamente Gabriel. Que curso você faz mesmo?

— Direito! E você? Deixa-me adivinhar! Hum... Tem cara que faz psicologia.

— Ei! Você é bom em adivinhação hem!

Logo, despediu-se acenando com a mão, desceu os degraus e seus olhos ficaram vidrados ao ônibus até ele desaparecer na curva.

Meu nome é GabrielOnde histórias criam vida. Descubra agora