59 | Loving.

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É difícil e estranho estar aqui. Eu nunca havia vindo para cá; nunca sequer saí do país. Meu pai veio para o enterro, mas eu não quis vir.
Todo ano, eles fazem um belo memorial em memória aos que morreram no grande acidente. Até a rainha participa e fala sobre isso. Foi algo que fez o mundo parar, e a minha vida também, principalmente a de Nina. Meu coração pesa por estar aqui, mas as vezes é necessário e já era hora de eu enfrentar isso para visitar o túmulo da minha mãe.

⠀⠀— Você está bem? — Meu pai pergunta assim que adentramos ao táxi.

⠀⠀— Sim, claro. — Assinto, suspirando.

⠀⠀— Podemos voltar se quiser, filho.

⠀⠀— Eu quero ficar. Quero visitá-la. — Eu afirmo.

⠀⠀— Se em algum momento, quiser ir embora, nós vamos. — Ele aperta minha mão.

⠀⠀— Prometo avisar. — Digo.

⠀⠀— Você quer ir hoje?

⠀⠀— Eu quero ver a Nina. Ela deve estar mal. Prefiro ir amanhã. — Balanço a cabeça.

⠀⠀— Tudo bem. Vamos amanhã. — Ele sorri.

Meu pai sempre esteve ao meu lado nas minhas escolhas, a não ser quando sabia que eram ruins. Ele sempre me apoiou quando não quis vir durante os últimos cinco anos e entende que é delicado. E ele sabe que pior que perder o amor da sua vida, é perder a sua mãe, quando você é um garotinho que tem sua mãe como o centro do universo. Minha mãe era para quem eu olhava e meus olhos brilhavam. Foi doloroso entender sua morte e ainda é, mas eu tento ao máximo respirar fundo e lidar. Eu não sei se conseguiria aceitar a morte tão bem, sem a ajuda do meu pai. Ele me ensinou que a morte vem quando cumprimos nossas missões na terra e a minha mãe cumpriu as dela, assim como Mark, o pai da Nina, cumpriu as dele.

Assim que chegamos ao apartamento em que Nina, Margot e Abby estão hospedadas durante o curso de verão do balé.

Provavelmente, Nina está mal. Nós não conversamos muito nos últimos dias, pois ela estava cansada e ocupada, então não sei como ela está. Considerando a situação de quando a conheci, ela não deve estar nada bem e isso me preocupa tanto... tenho medo de isso desenvolver algo pior com o passar do tempo.

Toco a campainha e sou atendido por Abby, sorridente. Ela me abraça e começa a contar sobre como Londres é incrível e que estas são as melhores férias da vida dela. Eu a ouço atentamente enquanto Margot nos ajuda com as malas e meu pai fecha a porta.
O apartamento é pequeno e aconchegante. A sala é de paredes amarela, o sofá e cinza e há uma grande janela que ilumina o local. Há estantes brancas com livros e a tv está entre elas. Tem flores e uma decoração adorável.
A cozinha é dividida da sala por um balcão e é simples. Há dois quartos no corredor, e ao fundo, um banheiro.

⠀⠀— Onde Nina está? — Pergunto.

⠀⠀— Ela está na escola. Deve chegar em uma hora. — Margot avisa.

⠀⠀— Ela não sabe que nós estamos aqui, né?

⠀⠀— Não. — Margot sorri.

⠀⠀— Acho que irei buscá-la e fazer uma surpresa.
 
 
(...)
 
 
Consegui chegar de táxi ao local e espero do lado de fora por alguns minutos. Vejo-a sair avoada, com os fones de ouvido, o cabelo em um coque bem arrumado, usando o maiô de balé que tem um nome específico, que marca bem as curvas do seu corpo, uma calça que acredito ser de aquecimento e chinelo. Está suada, com as bochechas fortemente coradas. Ela carrega sua bolsa preta em seu ombro e um livro em suas mãos. Acho que é Shakespeare. Estou parado ao lado da sua bicicleta e quando ela me vê, seus olhos se arregalam e um sorriso lindo e brilhante surge em seu rosto. Ela corre até mim e salta para o meu colo, entrelaçando suas pernas ao redor da minha cintura. Eu raramente a vejo tão feliz assim e isso enche meu coração de puro amor.

O Silêncio Entre Nós Onde histórias criam vida. Descubra agora