[28] Esconda-se

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Vc pode vir aqui em casa agora?

Era o que estava escrito na mensagem que Melissa acabara de me enviar naquela tarde de quinta-feira.

Sim, respondi após alguns instantes.

Ela me enviou um emoji risonho seguido de outra mensagem:

Mas vc vai ter que entrar pela janela.

Estranhei.

Pq?, escrevi de volta.

Minha mãe não pode te ver. Depois te explico.

Soltei um suspiro. Melissa e seus esquemas malucos.

E então, lá fui eu até a casa dela.

Quando cheguei, encontrei o portão encostado e o abri devagar, tentando não fazer barulho. Em seguida, segui na direção do pequeno jardim e contornei as paredes até o fundo da casa. A janela do quarto de Melissa estava aberta e eu enfiei a cabeça pela janela, avistando-a em cima da cama entretida em seu notebook.

- Ei, garota - chamei, a voz baixa.

Ela olhou para mim no mesmo instante.

- Ei - ela abriu um sorriso genuíno.
Logo, pulou da cama e veio na minha direção.

Eu passei as pernas para dentro do quarto e me sentei no batente da janela. Melissa cortou a distância entre nós e pegou meu rosto com as mãos, me dando um beijo quase que inesperado.

- Eu senti sua falta - ela revelou depois do beijo.

Eu a encarei, surpresa. Meu coração pulou no peito com a revelação.

- Sério? A gente se viu na aula hoje - eu disse.

- Mas não foi o suficiente para eu me contentar - ela deu um meio sorriso, passando as mãos nas laterais da minha coxa.

- Eu não imaginava que você fosse tão ousada - eu disse, sincera.

Melissa soltou uma risada baixa.

- Você não me conhece mesmo - ela voltou a me beijar com mais intensidade dessa vez.

Meus pés tocaram o chão e eu a agarrei, empurrando-a na direção da cama.

- Espera... - Melissa sussurrou, desviando a boca da minha. - Tenho uma surpresa pra você.

Eu a fitei, com a sobrancelha erguida.

- Uma surpresa? - repeti.

- Sim - ela voltou para sua cama e tirou dois papéis retangulares de baixo do travesseiro. Eram ingressos. - Vamos no show do Arctic Monkeys, baby.

Meu queixo caiu e meus olhos ficaram presos nos ingressos.

- Não...

- Sim - ela confirmou, o sorriso indo de orelha a orelha.

- Onde você conseguiu isso? - perguntei, arrancando os ingressos de suas mãos.

- Eu comprei - respondeu ela.

- Nossa, que rica - falei com um sorriso nos lábios, admirando o nome da banda no ingresso.

- Só economizei por alguns meses - disse ela, dando de ombros. - Você vai, não é?

- Mas é claro.

- Legal - Melissa sorriu, animada. - Foi por isso também que eu te chamei aqui.

Meus olhos encontraram o seu rosto.

- É? E qual foi o outro motivo?

Melissa abriu a boca mas antes de responder, escutamos duas batidas na porta.

- Melissa - a voz da mãe dela se fez ouvir através da porta. - Com quem você está falando aí dentro?

Melissa olhou para mim, assustada. Logo, se voltou para porta.

- Ninguém, mãe - ela falou em voz alta. - Só estava falando no telefone.

- Eu escutei outra voz - a mãe dela disse e a maçaneta da porta girou. - Abra essa porta, por favor.

- Meu Deus... - Melissa sussurrou, começando a entrar em pânico. - Você precisa se esconder. Rápido.

- Onde?

- No armário - ela começou a me empurrar na direção do armário, abriu a porta e me empurrou no meio das roupas penduradas no cabide. Logo, fechou a porta na minha cara.

Que doida.

Respirei fundo dentro do armário, sentindo o cheiro de naftalina invadindo minhas narinas naquela escuridão do móvel.

No instante seguinte, escutei a voz da mãe dela dentro do quarto, a acusando:

- Eu tenho certeza que ouvi uma voz diferente da sua, Melissa.

- É que eu estava conversando no viva-voz, mãe - Melissa despejou mais uma de suas mentiras. Podia não parecer, mas eu não gostava muito disso. Eu costumava mentir somente quando necessário.

Houve alguns segundos de silêncio antes da mãe dela falar novamente:

- Não quero que tranque a porta.

- Tudo bem.

Poucos segundos se passaram antes da porta ser aberta e revelar o rosto de Melissa na claridade de seu quarto.

- Você pode sair agora - ela sussurrou.

- Legal. Espero que um dia você possa sair dele também - falei, a voz baixa para não atrair novamente a mãe dela.

Ela me olhou. Parecia não ter gostado muito do que ouviu.

- Espero que esse dia nunca chegue.

- As pessoas sempre acabam descobrindo no final, Melissa - havia sinceridade nas minhas palavras.

- Tudo bem. Já acabou com a lição de moral?

Eu ia lhe dar mais uma resposta, mas decidi não falar nada. Não era eu que ia convencê-la a mudar de ideia. E sim, os rumos que ela decidisse tomar para sua vida.

- Eu já vou indo - falei, seguindo até a janela. - Se quiser falar comigo é só me ligar ou... mandar uma mensagem.

Pulei pela janela e estranhei quando Melissa não disse nada. Mas antes de seguir pelo mesmo caminho que fiz quando entrei, ela disse, ou melhor, sussurrou:

- Vai com cuidado.

Olhei para trás. Ela me observava da janela.

- E desculpa por hoje - completou.

Eu assenti e depois voltei a olhar para frente, saindo furtivamente do quintal da sua casa.

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E aí, vocês acham que esse esconde-esconde da Mel vai dar treta?

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