Waldstein

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Karura subiu as escadas com auxílio de Kankuro, pois suas pernas tremiam tanto que ela era incapaz de dar um passo sequer sem vacilar e o segundo andar parecia longe demais, como se fosse preciso fazer um esforço sobre-humano para conseguir alcançar ali. Temari os seguia um tanto atrás sem fazer qualquer barulho apenas acompanhando os passos da mãe e do irmão, os dois ansiosos de uma maneira ruim para aquilo.

A verdade era que nenhum deles de fato já tinha visto como Gaara ficava depois daquilo, e as palavras de Karura soaram como um tapa na cara mesmo que não fosse sua intenção que aquilo acontecesse, pois nem para Temari ou Kankuro aquilo era fácil. Ver seu irmão sofrer em silêncio enquanto eles se refugiavam na falsa segurança de seus quartos acobertados pelo fato de que Rasa não os machucaria pelo mesmo motivo que o fazia com Gaara?

Bem, eles não achavam que o pai era um homem são, então sabiam que aquilo era apenas uma resposta defensiva ao medo de serem subjugados pelo homem da forma com a qual Gaara o era e diante daquilo só o que faziam era fugir tomados pelo medo do que poderia lhes acontecer, mas até onde aquilo poderia ser usado contra eles? Não podiam temer o pai sabendo o que ele fazia? Poderiam ser chamados de covardes pelo fato de fugirem da repreensão de Rasa?

- Ele foi tomar banho. – A mãe saiu do próprio quarto. – E depois provavelmente vai dormir. Façam o mesmo.

- Dessa vez não mãe. – Disse a loira. – Deixe a gente te ajudar a cuidar do Gaara, ele tem que saber que não está sozinho.

Karura fechou os olhos por um momento. – Eu não queria que vocês precisassem ver isso. – Sua voz não era mais do que um sussurro, embargado pelas lágrimas. – Eu não queria ser tão fraca.

- Não diga isso. – Temari abraçou a mãe. – A senhora é a mulher mais forte que eu conheço. Não se culpe pelas atrocidades dele.

Naquele momento Karura acabou não falando nada e seguiu para o quarto de Gaara antes que Rasa pudesse sair do aposento e criar um problema ainda maior. Temari e Kankuro permaneceram em silêncio ao adentrar o espaço encontrando o irmão mais novo deitado de costas para a porta. Karura fora a primeira a se aproximar e sentou-se com cuidado na cama tentando não assustar ainda mais o filho, ainda assim Gaara acabou sobressaltando e só voltou a respirar quando a mão cuidadosa tocou seu ombro.

- Sou eu filho.

Gaara anuiu com um gesto tão mínimo com a cabeça que fora quase impossível determinar se ele havia, de fato, respondido. Temari percebeu a si mesma tremendo e quando Kankuro encarou a mão da irmã e sentiu-se da mesma forma trocou um olhar com ela, absorvendo aquele momento dolorido que se desenrolava no quarto de seu irmão mais novo. Gaara estava abraçado a si mesmo tão encolhido quanto possível e tremia ao contato da mãe.

"Tão frágil". A frase ecoava como um mantra na mente de Temari enquanto ela observava a matriarca tocando o irmão com cuidado como se quisesse fazê-lo se virar, talvez para ver a extensão do que tinha acontecido? Ela não sabia dizer exatamente, mas fechou os olhos por um momento quando o irmão se sentou na cama visivelmente machucado dado o esforço que fazia para conseguir se erguer.

Só então Gaara os viu. Os irmãos o encaravam sem saber exatamente como agir, talvez surpresos demais – surpresos? Definitivamente não, pois sabiam como seu pai não era um bom homem – e sem qualquer tipo de reação imediata, mas que ao menos não traziam repúdio em seu semblante, o que trazia algum alento ao filho ruivo. Repúdio era o único sentimento que ele conhecia e ficava agradecido de ao menos não ver isso vindo de seus irmãos.

- Está tudo bem querido. Eles não vão te fazer mal.

Ouvir aquilo doía tanto quanto cada surra que tomava. Doía nele, doía nos irmãos, por saberem que precisavam dizer aquilo para fazer com que Gaara se sentisse seguro o quanto fosse possível e mais do que isso, doía ver aquele mesmo sorriso que sua mãe lhe dirigira na parte da tarde quando as coisas estavam bem.

O PianistaOnde histórias criam vida. Descubra agora