Eu estava em casa quando ouvi falar pela primeira vez do Máscara Negra. O programa de televisão que eu via foi redirecionado repentinamente para um plantão de notícia urgente. Há uns oito anos atrás isso era inédito, porém não mais naquela época. Eu já havia me acostumado a ver os plantões noticiando os crimes de bandidos mafiosos - e na época já entendia que não eram mesmo o verdadeiro mal da sociedade -, mas desta vez foi diferente. Imagens do norte da Muralha foram mostradas, perto de um pequeno bairro comum da Célula, e em seguida um homem com um microfone apareceu dizendo - meio eufórico, talvez - sobre um assassinato que havia acontecido há pouco tempo. Bem, não havia nada de mais nisso, mas o chocante vira finalmente. A vítima do assassino tinha sido carbonizada e as câmeras ao redor do perímetro estavam todas danificadas; nenhum indício de documentos ou qualquer coisa que pudesse identificar o assassino ou a vítima foi achado. Era evidente que o assassino era bem mais esperto do que os que conhecíamos indiretamente e seu crime tinha sido muito mais bem planejado, dotado de interesses que eram bem diferentes dos habituais, o que gerou questões em toda a população. Até então, não existia nenhum sinal de que fosse um grupo, mas já foi um alerta a todos que um psicopata andava solto por aí. E não era a primeira vez que ele atacara, disse o repórter.
Não fosse a minha curiosidade, aquilo teria passado batido. Obviamente aquilo não tinha sido a notícia toda, eles com certeza deviam ter omitido algo, logo, eu fui imediatamente à pesquisa. Estava tão alucinado pelo novo e singular assassino que nem me dei conta do perigo que estava passando, o medo nem passou pela minha cabeça. Foi bem difícil achar algo mais além daquilo, mas por causa de um internauta em particular, consegui achar informações bem peculiares quanto ao ocorrido. Na verdade, uma mulher tinha conseguido filmar partes distorcidas da cena, por causa do ângulo da câmera, mas, infelizmente, no dia seguinte, ela fora encontrada morta em seu apartamento; fora assassinada também, mas não de forma tão brutal quanto a pessoa no norte da Muralha. A câmera que lhe pertencia foi encontrada totalmente destruída e todo o seu material foi fragmentado, de modo que quaisquer provas estavam impossíveis de se alcançar. O padrão se repetira e nenhuma câmera havia flagrado o delator dos crimes. Até hoje não se sabe quem fez isso.
Toda a perícia encarregada do caso estava comprometida, ninguém sabia o paradeiro da vítima do assassino, bem como desconheciam qualquer pessoa que pudesse ser dada como suspeita. A tal mulher tinha identidade, mas isso, nem nada descoberto, influenciou em nada, os legistas não identificaram as impressões digitais em seu corpo - a coisa mais estranha já vista numa investigação -, e o modo que havia morrido concluía que o objetivo do assassino era encobrir as provas do assassinato anterior. Era simplesmente um beco sem saída, não colocava ninguém a frente no quesito pistas. Mas, depois de uma semana inteira checando apenas teorias do tal blogueiro, finalmente uma reviravolta acontecera. Um dos analistas tinha conseguido extrair algo dos fragmentos da câmera. Eu estava exasperado por uma coisa bem insana.
No dia seguinte, a primeira coisa que eu fiz foi abrir o aplicativo de notícias do meu celular. Era um app de uma agência meio sensacionalista, mas trazia a informação em primeira mão e sem ocultar quase nada - eu imaginava que ela poderia estar mancomunada com o blog. A notícia saiu na primeira página, sem a parte da garota morta logicamente. Foi chocante. Inesperado até demais. Me lembro da minha reação quase histérica e engraçada quando vi o que estava escrito na manchete: "A Morte anda pela cidade?", certamente eu estava dúbio naquela hora, por achar aquilo título meio ridículo e por achar que, se eu fosse o diretor daquele jornal, teria demitido o colunista só pelo rascunho. Mas não era piada, morte estava escrito com letra maiúscula, e a imagem do jornal mostrava um homem alto coberto por um capuz, arrastando uma capa e carregando uma foice na mão direita. Estava embaçado, mas foi o que vi. A notícia acrescentava uma coisa aqui e ali que nem notei direito por estar tão estupefato com o início de tudo, a piada de dia das bruxas que tinha virado realidade.
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Máscara Negra - Impacto
Science FictionEm um 2028 catastrófico em que aconteceu uma guerra nuclear, a humanidade se dividiu entre aqueles que conseguiram se salvar isolados nas Células de Refúgio, protegidas pelas Muralhas, e os habitantes das zonas mortas, regiões afetadas pela batalha...