Máscara Negra - Impacto

4 - pesquisa

Fico encostado ao batente da porta durante um tempo demorado, tomando fôlego. Todas as minhas roupas estão úmidas e molhadas, e a água delas começa a escorrer pelo carpete da sala. Jogo as curtas mechas de cabelo molhado para o lado e dou um longo e resfolegante suspiro. Frenético, deixo a pistola em cima de uma estante e começo a andar de um lado para o outro, depois avanço em direção ao banheiro.

Tranco a porta sem aparente motivo e olho para o meu reflexo no rosto que, com surpresa, descubro estar inexpressivo. Apesar da distância, ainda posso ouvir as sirenes da polícia em meio ao som da chuva que canta furiosamente, como um eco mental que me seguiu até aqui, e logo tapo meus ouvidos, achando o barulho insuportável. Também fecho os olhos, mas vislumbro a cena novamente em minha mente, o que me leva a abri-los e encarar meu rosto com expressão estranha. Pouco a pouco as ilusões vão indo embora e começo a enxergar a realidade ao meu redor. O som distante da chuva, o silêncio pairando no ambiente higiênico do banheiro, meu rosto molhado, enrugado e corado, expressando uma tentativa de equilíbrio psicológico, mas principalmente saturado e abatido. Começo a sentir frio e dispo o casaco na mesma hora. Me aproximo do chuveiro e fico em cima dele. Giro a torneira e aguardo o jato quente vir sobre minha cabeça. Ainda vestido, paro ali mesmo e recebo aquela água alentadora com gosto, olhando para os ladrilhos brancos em minha frente, melancólico. No momento, não me prendo a nada, tento não pensar em nada, tento fantasiar. Na verdade, é fato que quando você deseja se "desligar" do mundo, é aí que você fica mais ligado e assim se torna mais difícil passar desapercebido.

Minutos se passam, minutos nos quais meus pensamentos começam a viajar por cada canto da cena, por cada detalhe, por cada figura subentendida. Talvez possa ter sido um ato premeditado estar ali, talvez eu estivesse predestinado a encontrá-los, devido à inquietude a respeito deles. Mas como minha vida pode ter algo a ver com o Máscara Negra? Como o meu futuro pode estar correlacionado com o CMN? Isso é novamente mais um pensamento absurdo desse dia.

Esse dia em si foi um dia absurdo. Encontrar o Máscara Negra? Que loucura.

Os presságios de um porvir mais próximo ao Máscara Negra continuam rondando ao redor de minha cabeça, mas por um instante, me permito sentir a alegria de estar vivo ainda.

Amanhã será um dia normal, a rotina voltará, eu não tentarei mais passar por becos escuros à noite - uma experiência ruim me basta -, voltarei a ser mais um ser humano... ordinário, no entanto, com a lembrança de um momento vívido vendo um feito do maior grupo rebelde da cidade. E isso pode mudar tudo, penso. A clareza da situação é completamente válida.

Saio do banheiro e me visto com roupas novas. Depois vou até a sala e me sento no sofá, levando uma lata de refrigerante comigo. Não estou com fome e minha refeição de uma hora atrás ainda está segura em meu estômago depois de tamanha reviravolta. A casa está silenciosa, mas eu já estou acostumado com o silêncio, justamente porque, no geral, estou sempre sozinho. Entretanto, ouvindo o som das gotas de chuvas abafadas no teto, pela primeira vez, me sinto incomodado com a solidão emudecida, portanto, ligo a televisão em seguida para afastar aquele sentimento avassalador. Hoje tudo foi inédito.

O noticiário começara. A mídia já divulga a morte que ocorreu no beco, o que é surpreendente, uma vez que aconteceu há apenas meia hora. Observo a repórter por trás das câmeras, a frente de umas três viaturas sinalizando com luzes vermelhas e azuis. Mais no fundo, pode-se ver que o beco todo foi isolado por faixas amarelas, e os da perícia, junto aos policiais, já começam a trabalhar, vestindo jalecos e luvas de silicone. Não é possível ver o corpo de nenhuma forma, mas eu sei que ele ainda está lá, prestes a ser levado para o IML. Várias lanternas de investigadores tornam-se como faróis no escuro. Guarda-chuvas estão em abundância no espaço, e noto que há algumas pessoas normais por ali também, apenas espiando a situação, possivelmente querendo ter certeza de que a vítima não fora alguém conhecido; algumas inclusive estao sendo interrogadas pelos tiras.