Final do Ensino Fundamental.
- Gostaria muito que você tomasse conta dela pra mim. - diz minha mãe à diretora da escola, por telefone.
Agora, acredito que terei paz.
- Sim. Muito obrigada. - ela sorri ao telefone. - Sim, ligo sim. Tchau tchau.
Olho para ela, depois de escutar tudo calada, pensativa, apreensiva. Minha mãe me olha de forma doce, que acalma, e me abraça para deixar tudo ainda melhor.
- Agora tudo vai ficar bem, tudo vai se resolver. Você só vai ter que fazer as provas em sala separada e estudar esses dois últimos meses em casa. Fora isso, tudo está resolvido. Certo?
- Sim. - digo a abraçando novamente.
É incrível como os braços de uma mãe deixam tudo mais calmo e sereno.
Nunca imaginei que amizades de treze anos deixassem de existir em menos de uma semana, que, talvez, amigos eternos e verdadeiros não existam; Que namorar o meu melhor amigo me traria tantos problemas. Nunca imaginei que não poderia passar meu último ano antes do Ensino Médio como uma adolescente normal: participando de trotes, fazendo os últimos planos da formatura.
Agora, sei que meu ex-namorado é esquizofrênico e extremamente possessivo - o que faz com que minha presença na escola torne as coisas mais difíceis e perigosas para mim e para todos. Sei também que não tenho mais amigos - exceto minha mãe e seus amigos de trabalho, que estão sempre conversando comigo por mensagens. De certa forma, mesmo sabendo que é para o meu bem, me sinto solitária.
Nas últimas duas semanas que estive longe da escola, fiquei estudando para uma prova que prestarei no começo do ano, para entrar para uma das melhores escolas da minha cidade. A prova é difícil, bem concorrida, mas estou me preparando cada vez mais. Sempre que sento para estudar, penso que em três ou quatro meses tudo estará resolvido: terei amigos, uma escola e a ampla possibilidade de talvez conseguir agora um namorado que não me traga problemas.
- Acho que você deveria ter algum passatempo. - diz minha mãe se sentando em minha cama, procurando algo no celular. - Aulas de violão ou algum curso. Você anda muito solitária...
- Eu acho bem legal. - respondo enquanto arrumo a pilha de livros em minha mesa de estudos e penso sobre meus últimas dias. - Só que acho meio complicado encontrar vaga em alguma coisa, estamos no final do ano.
- Sim. Estava pensando em procurar isso na igreja, onde geralmente tem vaga sempre.
- Verdade...
Ficamos alguns segundos em silêncio. Continuo empilhando minhas apostilas e cadernos.
- Olha só! Tem grupo de jovens em uma igreja aqui pertinho. - minha mãe diz sorrindo, com grandes esperanças de me ver fora do quarto. - Só preciso ver quem organiza o grupo, mas isso eu consigo rapidinho.
Olho para ela pensativa e um pouco apreensiva. Depois disso tudo, tenho um certo receio de me relacionar com pessoas da minha idade para tentar criar laços de amizade ou coleguismo. Isso nunca aconteceu antes, sempre fui uma garota super sociável. Porém, a simples suposição de uma emboscada me causa calafrios.
- Vai ficar tudo bem...- ela se aproxima. - Lá vão ter pessoas legais, você vai ver. - então lança aquele sorriso irrecusável. - Topa?
Olho para o chão alguns segundos e depois para seus olhos.
- Topo. - digo segura e sorridente.
- Tudo bem. Vou conversar com alguns amigos meus que participam da igreja para perguntam para eles quem organiza o grupo direitinho e já resolvemos tudo. Vida nova!
Ouvir isso me alivia.
- Vida nova! - digo sorridente.
Ela sai do quarto, mas volta em seguida.
- Não me esqueci das aulas de violão, hein? Sei que faz tempo que você me pede, mas pelo visto teremos que esperar o começo do ano mesmo.
- Tudo bem. Eu me aguento. - solto uma risada, a qual ela segue com a sua. Em seguida, sai do quarto.
Pego meus fones de ouvido e coloco uma playlist de Imagine Dragons. A música sempre foi um dos meus remédios mais efetivos.
"First things first
I'ma say all the words inside my head
I'm fired up and tired of
the way that things have been, oh-ooh
The way that things have been, oh-ooh"
(Believer - Imagine Dragons)
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Acordes do Coração
Teen FictionOs amores da vida nunca são perfeitos. Para Helena, são como acordes de violão: existe sempre um que se encaixa na melodia da música de alguém. Porém, quando ela acredita que finalmente encontrou o tom perfeito, descobre que as coisas na verdade ser...