Ele não te controla.Ele não te controla.
Estas palavras ecoam em minha mente enquanto bato o meu pé direito no chão daquela sala escura. Duas batidas por segundo. Um tapa no chão na primeira. Um movimento rápido com a cabeça para a esquerda na segunda. Repetidamente. Preciso me lembrar para não enlouquecer completamente.
Ele não te controla.
Eu posso me deitar e dormir. Mas o travesseiro é duro demais, e o colchão fino demais, seria como descansar em uma pedra. Aquela cama incrivelmente velha e enferrujada está aqui por mais tempo que eu. E eu estou aqui há muito tempo.
Não sinto sono. Não me lembro da última vez que dormi ou comi. Não me lembro da última vez que tomei um banho. Este macacão laranja e velho com meu número de identificação exala um cheiro forte, quase insuportável.
Estou sempre sozinho. Pararam de me visitar há anos.
Pelo menos estava. Um homem com o mesmo uniforme laranja, porém limpo e novo, com uma etiqueta que possuía um número diferente, se juntou à mim naquele quarto. Acho que nunca me senti tão feliz de ver alguém depois de tanto tempo sem contato humano. Ele conversa comigo, e não se incomoda quando bato o meu pé direito duas vezes por segundo de madrugada. Ele dorme na cama de cima. Por mim, poderia ficar com qualquer uma das duas, eu não as uso.
"Por que você está aqui?" O meu novo colega de quarto me pergunta, deitado na cama de cima, enquanto eu estava sentado no chão encostado na beliche. É o seu segundo dia aqui e ainda não tivemos essa conversa.
"Eu não deveria estar. Eu não fiz nada." Fui sincero.
"Se você diz." Posso sentir movimento na cama. Ele está se posicionando para encarar a parede. "Então... Você nunca sai daqui?"
"Não." Disse. "Eu escuto os policiais chamarem os outros detentos, mas nunca abrem a minha cela."
"Entendi. Eles fazem isso por algum motivo especial?" O homem parece curioso.
"Não sei. Provavelmente acreditam que eu sou culpado. E perigoso." Fixo com o olhar a parede cinza que se encontra do lado oposto à cama.
Silêncio. De repente tudo ficou tão quieto que posso jurar ouvir seus pensamentos.
"Eu vou dormir. Boa noite.", Com essas simples palavras meu colega corta o pequeno diálogo e é levado pelo sono.
Mais uma vez, passei a noite em claro. Duas batidas com o pé direito por segundo. Um tapa no chão na primeira. Um movimento rápido com a cabeça para a esquerda na segunda.
Ele não te controla.
Ele não te controla.
Repito para mim mesmo a noite inteira. Eu preciso me lembrar, ou enlouquecerei completamente.
A luz do sol entra pela pequena janela com barras no alto da parede. Os policiais, como sempre, passam de cela em cela chamando todos os criminosos.
Ouço barulho de chaves. Uma fechadura é destrancada. A porta é empurrada pela primeira vez em anos.
"Vamos! Levante! Não tenho o dia todo." Um policial gordo, baixinho, e aparentemente mau-humorado disse ao adentrar a cela. Ele dá tapas na parte de cima do beliche, chamando o meu companheiro. Ele não olhou para mim.
Apesar de minha existência ser completamente ignorada, é surreal ver o lado de fora nem que por míseros segundos.
O homem que dormia na parte de cima, levanta-se e sai da cela. Olha para mim e pergunta se gostaria de ir junto. Neguei. Não quero sair. Nem por um minuto. Estive preso desde que me lembro. Sair daqui poderia piorar tudo. Me deixam preso por acharem ser o melhor para todos.
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I'm innocent (One Shot)
General FictionI swear to God, I didn't do anything. [capítulo único] [só uma tentativa de escrever algo diferente]