Meu primeiro namorado

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Durante toda minha adolescência sempre fui uma menina que buscava se encaixar na família, não era a favorita, a bonitinha ou a que possuía algum talento, ou seja, eu busquei ser padrão, busquei o preto e branco onde na verdade tinha um arco - íris.

Em um momento escuro
Aceitei ser preto e branco
Busquei o padrão da sociedade
Em um momento escuro
Aos poucos fui matando
minhas partes coloridas
Em um momento escuro
Escolhi ficar no armário.

Por volta dos meus quatorze anos eu vivia em templos nublados, ainda sofria muito pela perda da minha mãe. Caí no mundo, viajei por cidades, sai curtindo uma vida boêmia, enchi a cara de bebida alcoólica, usei algumas drogas, fumei todos os cigarros da amargura, de uma melancolia profunda.

De dias difíceis
Eu fiz inferno
Da saudade
Fumei maços inteiros
Rasguei a mim
Bebi litros de sangue próprio
Amargo
Melancólico.

O furacão que passou na minha vida, fez uma mistura homogênea de todos os sentimentos conturbados em mim, me perdi dentro do meu corpo vazio de felicidade e sentimentos bons, minha pele virou casca impenetrável, onde guardei tudo que um dia foi bom em um lugar distante dentro de mim, cheguei até esquecer aquele pequeno trunfo.

Vasos de sangue
Que corre veneno puro
Vasos de sangue
Que aos poucos vira concreto
Petrificando minha alma pura
Mas no fundo
Nenhum cimento foi capaz
De amargurar minha alma doce

No meio de tudo, na dificuldade a qual me encontrava, pensei eu que o melhor a fazer seria mergulhar fundo no alívio momentâneo que achei, me entreguei fervorosamente aos vícios.

Por muito tempo acreditei que o álcool seria meu alívio, mas com o tempo passou a não fazer diferença nem mesmo com o grande excesso do consumo do mesmo. Busquei drogas mais fortes para que eu pudesse voltar a sentir leveza e alívio do peso que trazia nas costas.
Por todo esse período viajei vazia, vaguei. Não tinha uma mínima noção do quanto todo o meu delírio me acabava de dentro para fora. Morri mil vezes, mas em nenhuma fizeram um funeral para aquele pobre corpo vazio.

No meio de drogas e drogas, eu tinha pessoas altamente importantes, infelizmente na época eu não conseguia dar o devido valor a cada um, sofreram comigo aqueles que ainda se importavam, os verdadeiros ainda ficaram, os falsos me deram as costas logo no inicio e quem realmente me amava ficou comigo até o final.

Antes de começar a namorar tive um relacionamento com um amigo que me pediu em namoro e no calor do momento eu aceitei, eu realmente não sei porque aceitei, talvez pela adrenalina e por tudo estar sempre tão confuso, por misturar o sentimento de uma amizade boa e bonita com amor.

Do carinho que tive por ti
Te disse sim
Mas pelo mesmo carinho
Eu não podia magoar
Aquele que tanto me fazia bem
Amar, eu realmente te amei
Talvez da maneira
Que um homem nunca quer ser amado
Como melhor amigo, um aliado
Como um irmão nascido por outro ventre
Que os ventos do bem
Trouxeram para perto de mim
Amar, eu realmente te amei
Mas não dá forma que você me amava.

Foi então que eu conheci meu primeiro namorado. Eu nunca o amei, apesar de várias vezes ter feitos juras de amor. Na verdade eu precisava seguir a ordem natural das coisas da forma que haviam me ensinado. "Os opostos se atraem e os iguais se repelem" é isso que diz o padrão, que a mulher foi feita para ficar com um homem, que só assim uma família pode ser construída, terem filhos e seguir como os outros.

Logo no início minha família não aprovou o namoro e isso só me deu forças para continuar, irritar minha família era meu maior foco, eu queria descontar a raiva que eu sentia, por sentir falta de carinho, por não ter a mesma atenção que os outros irmãos, por ser tão sensível e por tudo aquilo parecer eterno.

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⏰ Última atualização: Aug 01, 2018 ⏰

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