Parabéns...

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Ela olha para o céu que delicadamente anoitece atrás das grandes serras longínquas de sua cidade. Ao apertar as barras de metal das grades que cercava toda a colina de observação da cidade, seus dedos reclamam imediatamente da falta repentina de sangue.

O cair de joelhos próximos as grades, faz sua saia rasgar nas pedras e arranhar seus joelhos desprotegidos no chão, mas o machucado não se comparava as suas memórias que ardiam como fogo marcando seus olhos, fazendo escapar lágrimas grosseiras que deixavam seu rosto vermelho por onde quer que passasse.

O último ano fora difícil e solitário, mas ela esperou pacientemente para ver todos de novo. E quando finalmente a época chegara, o dia preparado para ser o mais feliz daquela época de ventania, onde eles soltariam bolhas de sabão ao anoitecer observando-as se juntarem ao sol e as estrelas naquele mesmo lugar que ela estava, conversando com seus amigos. E depois todos iriam para casa dela, comer um bolo coberto de glacê feito especialmente para ela como todos os anos... Mas, não foi bem como o esperado, ouvira desculpas por não poderem comparecer ou simplesmente não responderam suas mensagens. Algo como estarem muito ocupados...

"Seus amigos eram para estar ali... "

"Sua família era para estar ali... "

"Ela se importa com aquelas pessoas..."

"Era para as pessoas se importarem com ela, não é?"

"Era para ela se sentir amada por aqueles que diziam "eu te amo"..."

"Porque ela não sentia mais o mesmo?"

"Eles se importavam... Não é?"

"Ela só estava sendo cega ou egoísta..."

"Não é?"

Seus pensamentos rodavam em torno daquelas frases enquanto o Sol se punha, demonstrando sua beleza ao ir embora, tornando a visão da floresta das serras uma mancha escura.

Mas, ela não via mais nada, além das cicatrizes abertas cada vez mais profundo em sua alma, ali encostada naquelas grades geladas. Pena que não eram mais geladas que seu Parabéns solitário, perdido, cantado à noite que se intensificava.

Parabéns...Onde histórias criam vida. Descubra agora