Minha mão se fecha involuntariamente e fica paralisada. Ouço Fogo soltar um grito de pavor, mas não dá para distinguir muita coisa, porque tudo está turvo. O som da minha voz se foi, mas a minha boca permanece aberta, o rosto contorcido para cima. Tento cerrar os dentes e mordo minha língua, sentindo na hora o gosto de sangue na parte interna de minha boca. Meus pensamentos começam a se desordenar e meu coração alarma em uma batida frenética. Minha pele pinica como se estivesse sendo perfurada por agulhas ardentes de dentro para fora, formigando. Porém tão rápida quanto veio, a tortura para, quando os raios de choque cessam de correr por meu corpo.
Tomo fôlego como nunca tomei na vida, me abaixando e arfando feito um cão. Meus olhos ficam esbugalhados e meus ouvidos escutam um ruído agudo. Meu interior está queimando, meu coração palpita velozmente e meus nervos ficam lentos e falhando. Ainda posso sentir a carga correndo dentro de mim, embora com uma potência menor. Muito, mas muito lentamente, vou me conscientizando de minhas faculdades mentais. Vejo pelo canto do olho que Fogo está horrorizada. Vejo o sorriso grotesco de Strike quando minha visão toma foco. Eu realmente fui eletrocutado, como o homem da cadeira.
Como eu não morri ou ao menos desmaiei?
Cuspo o sangue de minha boca e sinto minha língua ferida, que dói muito. Minha pele ainda está intacta, sem nenhuma queimadura, mas eu estou quente. Fogo murmura várias vezes se estou bem num tom preocupado, e eu nem consigo reagir.
- Levante-se!
Sem eu notar, dois homens cortam as ataduras de meus pés. Eles me seguram pelos braços e me erguem do chão, enquanto empenho-me em me orientar em pé. Parece que desaprendi a andar, demora muito tempo para que meus pés se firmem no chão enquanto os homens me arrastam para ficar frente a Strike. Ainda não sei como não tive um ataque cardíaco.
- Vamos lá. - ele diz. E tenho medo do modo como ele diz, porque ele parece estar aprontando algo. Seria tudo isso um truque e no fim, mesmo se Fogo dissesse a localização da sede do Máscara Negra, ele mataria a gente do mesmo jeito? Muito provável, já que ele quer se vingar de Fogo. Teoricamente estou apenas adiando a morte.
Bem, todos nós estamos girando em torno de truques, só resta saber quem fará o melhor. Tenho que pensar em algo depressa. A situação não é nada boa, mas me sinto surpreso por eu ainda estar sob controle e, acima de tudo, por ainda me sentir pronto para me arriscar ainda mais, eu acho. Na verdade é desespero. Eu tenho que fazer algo, não posso me deixar ser intimidado.
Bem, é a minha vida que está em jogo.
Os homens me levam à força em direção ao túnel, e Strike vai na frente, com sua temida espada parecendo um brinquedo de vitrine que toda criança almeja ter. Olho para trás e vejo mais dois homens carregando Fogo consecutivamente. Apesar de seus pés estarem sem as algemas de cobre, ela está tão fraca que permite ser arrastada. Atrás do grupo, o careca está levando a minha mochila pendida em um ombro. Ela parece insignificante no ombro de um homem mil vezes mais robusto que eu, o que faz a cena ser um pouco cômica. Os outros homens andam em fila indiana ao nosso redor, sendo, no total, uns seis - se prepararam de verdade para Fogo - todos armados, com fuzis e pistolas. Sigo olhando para Strike em todo o momento.
O túnel faz uma meia-lua e depois segue em linha reta continuamente. O som da água se intensifica à medida que andamos. Nenhum dos homens fala durante o caminho, nem mesmo Strike, o que parece estranho para mim.
Eu, por minha vez, já orientado, mas ainda afetado pela carga elétrica que levei, tento identificar no caminho qualquer coisa que pode nos ajudar a fugir ou a atacar esses caras. No entanto o único objeto que aparece por todo o percurso é um simples disjuntor elétrico, o qual deve dar força para o circuito de todo esse lugar. Eu me deparo comigo mesmo fitando o quadro metálico onde se encontra o disjuntor por um bom tempo, e quase não noto quando vejo que o chão termina abruptamente a alguns metros de onde estamos. Percebo haver passagens estreitas dos dois lados circunvizinhos da beirada. O som da água agora está se assemelhando a uma cachoeira com correnteza voraz, e um cheiro fedido começa a empestear o ar, vindo de além da beira. Com isso, finalmente me dou por conta de onde estamos.
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Máscara Negra - Impacto
Science FictionEm um 2028 catastrófico em que aconteceu uma guerra nuclear, a humanidade se dividiu entre aqueles que conseguiram se salvar isolados nas Células de Refúgio, protegidas pelas Muralhas, e os habitantes das zonas mortas, regiões afetadas pela batalha...