A noite era fria, a chuva batia na janela, o ar era denso e a solidão tomava conta da sala. Um Homem fitava a lareira, que queimava incessantemente. Sua sombra dominava a parede, que já estava desgastada. O Homem não tinha expressão, não tinha alma. O Homem que outrora foi grande, hoje se encontrava pequeno dentro de um cubículo que lhe foi reservado. Tudo o que ele conhecia o abandonou, tudo que ele fez foi em vão. Saindo de perto da lareira, e olhando pela janela, o Homem pôde ver a cidade. A cidade que um dia o abraçou, mas que agora, o deseja o mais longe possível. Suas energias já não são o suficiente para caminhar por entre os bosques que um dia foram rosados, seus olhos cansados já não conseguem mais encarar o pôr-do-sol que costumava ser alaranjado, tudo virou cinza. Sua família o deixou de lado, como um cão que foge de casa. Seus amigos, talvez nunca tenham nascido, e seu amor, se foi, junto com sua felicidade.
A chuva intensificava a sua solidão, afastando ainda mais aqueles que poderiam vê-lo. Um ser humano chegou no nível mais baixo da sua existência, nem sequer um animal recebia tal tratamento. Ninguém o visitava, ninguém telefonava, ninguém se importava. O Homem tentava desesperadamente fazer com que ele fosse reconhecido novamente, lutava com todas as suas forças contra a força malígna que vive dentro dele, mas em vão. O Homem perdeu essa luta.
Suas lágrimas tinham a intenção de lavar sua alma, mas acabavam apenas fomentando e estimulando um sentimento há muito tempo presente em seu coração. Enquanto a chuva caía cada vez mais forte no lado de fora, o Homem tomou a decisão mais importante de sua vida.
Sob a luz da lareira e o doce som da chuva caindo, o corpo do Homem jazia pendurado.